03/10/2010 - 08h44

Com cerca de 5,8 milhões de eleitores, Ceará passa por mudanças no perfil político

Mariana Jungmann
Enviada Especial da Agência Brasil
Em Fortaleza

Os cerca de 5,8 milhões de eleitores cearenses – 10% deles analfabetos – irão às urnas hoje (3) em meio a um processo de mudanças no perfil político do estado. De acordo com o doutor em ciências políticas da Universidade Federal do Ceará, Francisco Josênio Parente, desde a redemocratização brasileira o Ceará vem observando alterações no comportamento dos eleitores. “A ideologia ainda não consegue vencer os votos de um esquema tradicional que existe na região. Mas é um processo que está mudando nos últimos anos de forma significativa, embora ainda não seja o suficiente”, afirma o professor.

De acordo com Parente, as mudanças que ocorrem em todo o país com a transferência de renda e o crescimento econômico se refletem também no estado. Para ele, existe uma tendência de ideologização do voto que se desenha aos poucos no Brasil em geral e no Ceará em particular. Esse movimento é pela chegada ao interior do estado de instituições que antes estavam apenas na capital. É o caso das faculdades e de bancos, que levam consigo o movimento estudantil, sindicatos e grupos de militantes de esquerda.

Além disso, segundo ele, o aumento da renda provoca uma certa independência nos municípios, o que também altera o jogo de poder. “Sempre tivemos grupos sem ideologia definida no sentido de se colocar à esquerda ou à direita politicamente”, lembrou.

O resultado dessa mudança, de acordo com ele, é o crescimento da importância dos partidos políticos no jogo eleitoral. O voto que antes era personalizado começa agora a levar em conta o posicionamento do partido ao qual o candidato pertence. Em resposta, segundo Parente, os partido procuram se distanciar dos rótulos mais radicais como de extrema direita ou extrema esquerda.

“O PT procura empurrar o PSDB para a direita, e ficar com o título de centro-esquerda. O PSDB por sua vez procura evitar esse rótulo e também quer se posicionar como centro-esquerda e lembrar as posturas radicais do PT”, afirma o professor.

Apesar dessas mudanças, o professor explica que algumas características tradicionais das eleições no estado ainda são muito fortes. Segundo ele, por exemplo, a grande sensibilidade aos períodos de seca que afetam o Ceará é capaz mudar a preferência política de eleitores, fazendo com que um único grupo não consiga se manter no poder por muito tempo. Nesse contexto, de acordo com ele, apesar de o atual governador Cid Gomes ter ampla margem de pontos nas pesquisas, que indicam vitória dele no primeiro turno, não será surpresa se tudo mudar e houver segundo turno no estado.

“Na realidade o Ceará tem dois grupos que brigam pelo poder. Nas características econômicas, o estado é mais sensível às secas e isso desestabiliza qualquer político. Nenhum grupo consegue ter hegemonia por mais de 12 anos, daí a alternância. Essa é a singularidade do Ceará”, diz o cientista político.

Sites relacionados

Siga UOL Eleições

Hospedagem: UOL Host