18/08/2010 - 22h13

Leia a íntegra do quarto bloco do debate entre presidenciáveis promovido pela Folha e UOL

Bloco 4

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: E agora neste quarto bloco do primeiro debate Online promovido pela Folha de São Paulo e pelo UOL, é a vez que abrir espaço para os internautas. As regras deste bloco são as seguintes: no quarto bloco, os candidatos responderão cada um duas perguntas de internautas. As questões foram selecionadas pela Folha e pelo UOL dando prioridade a grandes temas de relevância nacional. Cada candidato terá dois minutos para responder a cada uma das duas perguntas. A ordem nesse quarto bloco, decidida por sorteio, é a seguinte: Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva. Candidata Dilma Rousseff, de acordo com o sorteio prévio realizado entre representantes de cada uma das campanhas, a senhora será a primeira a responder e a sua pergunta veio do internauta Romeu de César. A senhora terá dois minutos para respondê la.

[Romeu de César – Internauta]: Dilma, há um tempo atrás você falou que o Vice do Serra foi improvisado, e eu concordo com você, eu acho que ele foi improvisado mesmo. Agora, você também não foi improvisada? Quer dizer, você é uma neopetista, com uma carreira política transparente de bastidores, você nunca participou de nenhuma eleição, você não foi quem sobrou ou você acha que se o Lula não tivesse tido que cortar a cabeça do Genoino, do José Dirceu, do Palocci, por conta dos escândalos que eles se meteram, você acha que ainda assim você teria alguma chance de ser candidata à Presidência da República pelo PT?
[Manifestação da plateia]

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Silêncio.

[Dilma Rousseff Candidata PT]: Desconta o meu tempo? Obrigada. Eu quero dizer para você, Romeu, que essa pergunta que você me faz ela é muito boa, porque me permite deixar claro uma tentativa de desclassificação infundada.

Eu comecei a minha vida política lutando contra a ditadura, depois eu fui a primeira mulher Secretária de Fazenda do Município de Porto Alegre, na época as mulheres ainda não tinham chegado a ser secretárias de Fazenda. Depois, por duas vezes eu fui Secretária de Energia, Minas e Comunicação do Estado do Rio Grande do Sul. Aí o Presidente me deu a honra de me convidar para participar da equipe dele como Ministra de Minas e Energia, e eu fui a primeira Presidente do Conselho da Petrobrás.

Na sequência, o Presidente mais uma vez me deu a honra de me convidar para ser Ministra-chefe da Casa Civil, que no nosso governo foi o cargo que a pessoa que assumia ele coordenava os programas de governo e os outros Ministérios.

E, finalmente, o Presidente Lula, junto com o Partido dos Trabalhadores, me indicou para ser, e com muita honra eu sou, a pessoa que vai representar este governo vitorioso, esse governo que conseguiu tirar o país da desigualdade, da estagnação e, também, de um processo de paralisia para um outro momento histórico, um momento em que o país cresce, estamos numa nova era de prosperidade, distribuímos renda e elevamos 24 milhões de pessoas tiramos da miséria, 31 milhões da pobreza.

Então, Romeu, eu acredito que eu sou uma política não tradicional, eu não tive de fato a experiência parlamentar, mas a administrativa dentro do governo eu tive bastante, poucas pessoas passaram por um escrutínio tão pesado quando eu nos últimos três anos.
[Aplausos]

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Agora é a vez do Candidato José Serra, em dois minutos, responder a pergunta do internauta Victor Long.

[Victor Long – Internauta]: Oi, Candidato Serra, como vai? O meu nome é Victor Long, falo de Salvador, tenho 23 anos, sou estudante universitário.Bom, o Presidente Lula sempre se diz um representante preocupado com a população de baixa renda e o partido dele, o PT, possui essa reputação histórica de estar vinculada ao povo, à população de poder aquisitivo mais baixo.

Já o partido do senhor, o PSDB, tem em sua base aliada os democratas, que é o ex-PFL, um partido mais visto como representante das elites, sempre lembrado por um passado vinculado ao coronelismo, aos latifundiários e etc..Nesse contexto, a minha pergunta é: o senhor é um candidato das elites?

[José Serra Candidato PSDB]: Eu também acho uma pergunta interessante a que foi feita. Eu não venho das elites, a minha origem é uma origem de família modesta, estudei sempre em escola pública, trabalhava junto com o meu pai, trabalhei desde cedo, fui líder estudantil, que me levou ao exílio; voltei ao Brasil, acabei me envolvendo diretamente na vida pública, em eleições, devo ter tido ao longo de todo o processo eleitoral, contando todos os votos, cerca de 80 milhões de votos, ganhei mais vezes, mas perdi também, fui aprendendo e ocupei diferentes cargos, Secretário de Planejamento, Deputado Constituinte, Deputado, Senador, Ministro do Planejamento, Ministro da Saúde, Prefeito e Governador.

A minha atuação em todas essas áreas esteve voltada para os setores mais pobres da população brasileira, começando por uma realização que até hoje me orgulha bastante, que foi a criação do Fundo de Amparo ao Trabalhador, que é o segundo maior fundo dos assalariados no Brasil, depois do Fundo de Garantia. Ao mesmo tempo, este FAT, que alavancava investimentos para gerar emprego, este Fundo de Amparo ao Trabalhador pagava o seguro desemprego.

Fiz o Fundo de Desenvolvimento do Norte, Nordeste e Centro Oeste. Na saúde, Programa de Saúde da família, praticamente, foi na minha gestão que foi implantado, não criado, mas que foi realmente aumentado por dez; os genéricos, medicamentos, na Prefeitura da capital, o trabalho junto às favelas na recuperação urbana do nível das pessoas, programas sociais e o piso salarial do Estado bem mais alto do que o salário mínimo.
Toda minha vida foi voltada para as não elites, para os trabalhadores e para os desamparados.

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Candidata Marina Silva, agora será exibida a pergunta do internauta Alexandre Werdan, e a senhora terá dois minutos para respondê la.

[Alexandre Werdan – Internauta]: Senadora, a senhora sempre menciona as reformas políticas, tributária, da presidência, como sendo de difícil implementação, e costuma lembrar que se fossem fáceis os governos anteriores já as teriam feito. Por outro lado, a senhora propõe a criação de uma Assembleia Nacional Constituinte como forma de superar os obstáculos oferecidos pelos parlamentares eleitos em mandato geral.
A minha pergunta é a seguinte: se fazer uma reforma já é difícil, o que dirá três? Nesse caso, como Presidente da República, a que reformas ou a quais reformas a senhora daria mais destaque, mais prioridade na implementação das mudanças necessárias ao país?

[Marina Silva Candidata do PV]: Bem, eu confesso que eu até passei a mão no lombo aqui quando vem a pergunta do internauta, mas essa de fato foi uma excelente pergunta, porque eu tenho dito que as reformas elas viraram consensos ocos, e as pessoas se comprometem com as reformas durante as campanhas, assumem compromissos em todos os debates que se vai com as reformas, e quando ganham reformam os compromissos que fazem.

E por que reformam os compromissos que fazem com as reformas? É porque seus blocos de aliança, como eu falei anteriormente, estão completamente viciados. É por isso que eu tenho dito: a nossa proposta é a proposta que pode integrar um esforço de todos os partidos para que, de fato, elas saiam do papel através de um processo Constituinte exclusivo. Eu não acredito que quem ficou 16 anos, como ficou o governo do PSDB, e não foi capaz de fazer as reformas, agora diga que em nome das mesmas bases que estão preservando, que, aliás, deveriam essas bases nessa conformação, tanto as que deu sustentação ao governo do Presidente Lula, do qual eu fiz parte com muito orgulho durante cinco anos e meio, essas bases devem entrar em extinção.

Devem entrar em extinção, porque são elas que estão interditando as reformas. Nós precisamos de uma nova qualidade política, de um novo acordo social que nos faça ver aquilo que está acima dos interesses imediatos de cada partido. Cada um ganha e tenta governar sozinho e se torna refém do fisiologismo, é por isso que eu digo: nós precisamos fazer um realinhamento histórico entre os Partidos da Social Democracia para que o Brasil pare de fazer o consenso oco e assuma o compromisso de fato.

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Obrigado, Candidata Marina Silva. E antes de passar a próxima pergunta para a Candidata Dilma Rousseff, uma informação. A Folha de São Paulo e o UOL têm o prazer de informar que este debate no twitter, com hashtag debate Folha UOL, está em número 1 nos trending tópics do twitter e é um sucesso absoluto de audiência.
[Aplausos]

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Candidata Dilma Rousseff, agora a senhora responderá a uma pergunta da internauta Juliana Fragetti.

[Juliana Fragetti – Internauta]: Olá, meu nome é Juliana, sou de São Paulo – Capital. A minha pergunta é para Dilma Rousseff.
Em sabatina da Folha em 2007, ela deixou claro ser abertamente favorável a legalização do aborto e que o programa de governo entregue no TSE também previa isso. Ela vai trabalhar por isso quando estiver no governo?

[Dilma Rousseff Candidata PT]: Juliana, eu te agradeço a pergunta. São duas perguntas que me permitem esclarecer situações. Eu vou deixar bem clara a minha posição em relação ao aborto. Eu não acredito que tenha uma mulher que seja favorável ao aborto; são situações em que as mulheres recorrem no desespero e que passam a ser questões de saúde pública pela forma muito desigual em que a nossa população é dividida.

As mulheres pobres fazem com atos desesperados, recorrem a agulhas de tricô, a chás e são aquelas que vão para as filas ou para momentos assim de extremo risco de vida procurar, em última instância, um tratamento num hospital, uma curetagem ou algo assim.

Há uma legislação de aborto, e há uma legislação de proteção da mulher. Esse equilíbrio da lei é fundamental, porque a lei brasileira prevê que haja em dois casos o recurso à prática do aborto, um em caso de estupro, dois, em caso de risco de vida da mulher.

Se houver conflito entre a Legislação de Proteção a Saúde da Mulher e a legislação do aborto, quem tem de fazer essa solução, caso a caso, é a Justiça. Agora, a lei é clara, e nesse caso tem de ser cumprida a legislação. Por quê? Trata se não de uma questão de foro íntimo, eu pessoalmente não sou a favor do aborto, agora acho que o Brasil tem de ter uma política de saúde pública que permita a mulher ser protegida e a seu filho, no caso dela recorrer ao aborto, aos seus filhos serem protegidos da perda da mãe também.

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Obrigado, candidata. Candidato José Serra, agora é sua vez de responder ao internauta Kleber Maciel Lage.

[Kleber Maciel Lage – Internauta] A sua candidatura faz críticas ao aparelhamento do Estado e ao uso de cargos por parte do atual governo. É público e notório que as alianças políticas no passado recente da, aspas, democracia, são feitas na base do “toma lá da cá” de cargos, como mudar esse cenário?

[José Serra Candidato PSDB]: Eu acho que tem que mudar esse cenário, esse “toma lá,dá cá”, hoje chegou ao ponto extremo, no caso da administração federal, o loteamento chegou praticamente em todas as suas esferas, veja o caso do Ministério da Saúde, por exemplo, onde a Fundação Nacional de Saúde, que é tão importante para atender os casos de endemia, de epidemia no Brasil, foi praticamente jogada no chão pelo loteamento político, pela divisão, gente que não tem nada a ver, corrupção, enfim, um descalabro.

E como a FUNASA, nós poderíamos mostrar muitos outros setores. Veja agora o que aconteceu com a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, tudo loteado entre partidos, entre setores de partidos, entre grupos de deputados e tudo mais, da maneira mais clara possível, criando, baixando muito o nível daquilo que deveria ser a política brasileira, e, na verdade, desmoralizando a administração pública.

Eu não vou fazer isso. Eu não fiz isso no Ministério da Saúde. Uma das primeiras coisas que eu fiz foi começar a limpar a FUNASA, inclusive, fizemos um decreto impedindo que os coordenadores da FUNASA fossem nomeados sem um currículo mínimo, o que já limitou dramaticamente as chamadas indicações políticas. Não fiz loteamento na Prefeitura de São Paulo, não fiz loteamento no Governo do Estado de São Paulo, nem com Secretários, nem com diretores de empresa. É preciso dar um choque no Brasil nessa matéria, por um fim a esse troca-troca desavergonhado.

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Candidato José Serra, muito obrigado. A candidata Dilma Rousseff faz um pedido de direito de resposta. Nós já vamos dar a resposta para ela, enquanto isso a Candidata Marina Silva, sua vez de responder a mais uma pergunta, dessa vez ao internauta Luiz Otávio.

[Luiz Otávio – Internauta]: Candidata Marina, bancos e empreiteiras, como, por exemplo, o Banco Itaú e a Camargo Corrêa são importantes doadores eleitorais, pergunta: a senhora acha que eles fazem doações eleitorais por amor ao Brasil?
[Aplausos]

[Marina Silva Candidata do PV]: Olha, eu vou responder a essa pergunta com muita tranquilidade, viu, Luiz Otávio, porque eu estou vendo aqui esse debate indo para um caminho que eu acho que não é o que o Brasil gostaria de ver, pelo menos naquilo que é a candidatura, oficialmente, de oposição e a candidatura, oficialmente, de situação, porque a discussão vai sempre para a acusação do que não foi feito, mas ainda que se negue o debate em relação ao passado, é sempre o passado que está presente como um fantasma, quando a gente deve discutir na verdade é o futuro.

Eu, aqui, Luiz Otávio, sou a única que tive a liberdade de escolher o meu vice, e tenho o orgulho de tê lo aqui na plateia, portanto, se as doações não são feitas por amor, elas devem ser feitas de acordo com a legislação eleitoral.

A prestação de conta deve ser transparente, em hipótese alguma caixa dois, esse é o meu lema, e se não são feitas com amor, que sejam feitas com pudor, o pudor do respeito à legalidade, o pudor do respeito à transparência, o pudor do respeito à legislação que rege que o sistema de doação é feito por pessoa física e por empresas, e eu, graças a Deus, conto com o sistema que já possibilitou uma contribuição de mais de 400 pessoas físicas, o que está sendo uma inovação em transparência, quebrando a velha lógica de poucos contribuindo com muito, para que muitos possam contribuir de acordo com as suas possibilidades.

[Fernando Rodrigues – Folha de São Paulo - UOL]: Obrigado, candidata Marina Silva. Candidata Dilma Rousseff, consultei a Comissão Arbitral e me disseram que não houve uma ofensa pessoal a sua honra, então desta vez não haverá direito de resposta.
E terminamos agora esse bloco, mais um intervalo de cinco minutos.

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