18/08/2010 - 21h24

Leia a íntegra do terceiro bloco do debate entre presidenciáveis promovido pela Folha e UOL

Bloco 3

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: E neste terceiro bloco do debate Online promovido pela Folha de São Paulo e pela UOL continua a série de perguntas entre os candidatos e as regras neste terceiro bloco são as seguintes: cada Candidato fará uma pergunta e responderá a outra pergunta obrigatoriamente. De acordo com o sorteio prévio, ficou definido que Dilma Rousseff fará a primeira pergunta e terá um minuto para formular sua questão. Ela escolhe quem vai responder. O candidato que responde terá dois minutos, quem perguntou terá direito à réplica de um minuto e meio, e quem respondeu terá o mesmo um minuto e meio para a tréplica. Depois de Dilma Rousseff, vão perguntar neste terceiro bloco, Marina Silva e José Serra.

Vamos começar com a candidata Dilma Rousseff, e eu faço um apelo aos candidatos para olharem o cronômetro, ele começa a piscar quando faltam quinze segundos para terminar o tempo. A senhora tem um minuto para formular sua pergunta e indicar livremente quem vai respondê la.

[Dilma Rousseff Candidata PT]: Marina, nós estamos hoje aqui num debate através da Internet. Então eu gostaria de te perguntar que essa tecnologia nova, a Internet, é algo muito importante para o país, porque pode alavancar o crescimento do Brasil, incluir social e culturalmente milhões de brasileiros. Então eu queria saber o seguinte: dada essa nova tecnologia, qual a sua proposta para garantir o acesso a Internet, sobretudo num campo tão fundamental como é a educação no Brasil?

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Candidata Marina Silva, a senhora tem dois minutos para sua resposta.

[Marina Silva Candidata do PV]: Bem, primeiro, de fato a Internet é fundamental para que possamos aperfeiçoar a comunicação no Brasil e principalmente utilizar esta forma moderna de comunicação para educação e a saúde. Eu tenho defendido que nós temos que ter um sistema integrado de educação, que integre as novas tecnologias, que se crie uma rede de professores, que pela Internet possam atualizar seus conteúdos, trocar experiência de sistemas de avaliação e, sem sombra de dúvidas, ampliarmos o acesso a banda larga para que todo os brasileiros possam contar com essa ferramenta tão importante na produção de conhecimento, é uma prioridade na minha plataforma de governo.

E mais ainda, eu acredito que para alcançarmos esse objetivo é fundamental que tenhamos uma parceria entre o poder público e as empresas privadas. Que o Estado possa resolver os casos em que não é possível essa parceria com a iniciativa privada, mas que a iniciativa privada também possa dar a sua contribuição. Eu sei o quanto que a Internet, chegando numa comunidade, porque quando eu estava no Ministério do Meio Ambiente nós criamos um sistema para que as comunidades indígenas, as comunidades isoladas pudessem ter acesso a Internet, e isso passou a fazer a diferença na vida daquelas comunidades.

Mesmo nos índices de desmatamento que continuam caindo hoje, uma boa parte da fiscalização era feita pela Internet. Então, a Internet pode sim contribuir na eficiência da gestão, na melhoria da educação e, principalmente, na transparência da gestão pública, se nós colocarmos as informações para que as pessoas possam fazer as suas próprias avaliações. A minha proposta é de que ela possa chegar a todos os brasileiros.

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Candidata Dilma Rousseff, a senhora tem um minuto e meio para a réplica.

[Dilma Rousseff Candidata PT]: Eu considero que o programa nacional de banda larga nas escolas foi uma grande conquista do governo do Presidente Lula, que eu tive a oportunidade de coordenar.

Nós determinamos um prazo para que as escolas urbanas brasileiras, tanto as de ensino básico como as..., aliás, as de ensino fundamental como ensino médio, do ensino básico, fossem ligadas. Hoje, nós já conseguimos chegar a 71,3% dessas escolas no Brasil, com ligações com a Internet, mas não é uma ligação da Internet com a escola na área administrativa não. É uma ligação com os laboratórios de informática diretamente nas escolas, com uma capacidade de um mega, chegando até dois megas reais. Hoje nós já ligamos 44.218 escolas com esses laboratórios à rede de Internet.

Para nós isso é muito importante, porque beneficia os alunos no ensino público no Brasil e dá um instrumento para o professor e para o MEC melhorar, de forma muito expressiva, a qualidade da educação nessas escolas, na medida que pode difundir as melhores práticas pedagógicas.

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Candidata Marina Silva, a senhora tem um minuto e meio para a tréplica.

[Marina Silva Candidata do PV]: Bem, não há dúvida de que a Internet pode ajudar muito a educação, a produção de conhecimento como eu falei anteriormente. E expandir a Internet, a banda larga, para que a sociedade brasileira possa se beneficiar dessa ferramenta significa um compromisso na minha plataforma de governo, um compromisso para que a gente possa integrar as redes de conhecimento, fazer troca de experiência, como eu já falei, que a gente possa atualizar e treinar adequadamente os professores, porque na maioria das vezes os professores têm o acesso, mas como eles não contam com uma formação continuada, muitas vezes os alunos constrangem os professores, porque eles conseguem navegar muito mais, ter acesso as informações, que muitas vezes o professor não tem.

Eu acho que nós vamos ter que fazer uma profunda reforma da educação no Brasil para que a educação integre o melhor que nós temos da tecnologia de informação, para que a gente possa fazer com que os nossos professores e os nossos alunos possam aprender mais e melhor.
O grande desafio desse século é uma educação de qualidade, que ensine os nossos alunos a aprender a aprender. Em cima das estruturas prévias de cada um eles são capazes de transitar para um universo de conhecimento fantástico e a Internet é fundamental se devidamente orientada.

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Candidata Marina Silva, a senhora continua com a palavra, e, pelas regras previamente estabelecidas, a senhora fará a pergunta que, necessariamente, terá de escolher o Candidato José Serra.

[Marina Silva Candidata do PV]: Bem, eu quero perguntar para o governador José Serra, porque ele, ainda há pouco, quando eu falei da reforma política, ele de alguma forma disse que essa discussão, e já fez alguma manifestação, de que não é tão relevante essa discussão da reforma no Congresso, e de que existem medidas que podem ser feitas, como as que ele mencionou aqui.

Eu quero saber como o senhor vai fazer as grandes reformas, como você vai fazer as grandes reformas, e qual é a sua proposta para que possamos tirar esse consenso oco do papel.

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Candidato José Serra, sua resposta em dois minutos.

[José Serra Candidato PSDB]: Olha, Marina, talvez poucos membros do Congresso se empenharam tanto na reforma política como eu. Cheguei até, escrevi tanto que cheguei até a publicar um livro só sobre reforma política, tal era a ansiedade que eu tinha e a importância que isso tem para o Brasil. O que acontece? Quando você chega no governo, você tem tantos problemas, o presidente, para aprovar isso, aprovar aquilo e etc., que em geral esse tema fica para depois, porque sempre atrai resistências dentro do Congresso Nacional.

Eu não creio que vale a pena convocar uma constituinte exclusiva a esse respeito, até porque acabaria não sendo exclusiva, até porque demoraria, até porque levaria a impasses. Eu prefiro o método gradualista, eu defendo a mudança do sistema eleitoral. Por que o sistema eleitoral deve mudar? Para ter uma melhor representação da população no Congresso, uma representação controlada e, por outro lado, para baratear o custo de campanha. No país em seu conjunto nós poderíamos ter um voto distrital misto, coisas do gênero; nos municípios grandes é possível ter o voto distrital direto.

A meu ver, esta proposta de fazer voto distrital nos municípios onde têm segundo turno, com mais de 200 mil habitantes, ela é capaz de introduzir no país, eu diria, aquele vírus benigno do voto distrital, mostrando a utilidade dele. Por exemplo, você divide São Paulo em 55 regiões, e essas regiões vão eleger cada uma o seu vereador e vão ter quatro ou cinco candidatos, vão cobrar melhor aquele que for eleito e, por outro lado, vão poder puni-lo na eleição seguinte e o gasto em campanha reduz em pelo menos dez vezes. Qual é a ideia? Que isso possa ser produzido, porque eu tenho certeza...

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: [Interrompendo pelo tempo] Candidata Marina Silva, a senhora tem um minuto e meio para a réplica.

[Marina Silva Candidata do PV]: Bem, eu ouvi o Presidente Lula dizendo que depois que terminar o seu governo ele não vai se ausentar da cena e de que na questão das reformas ele vai ser, da reforma política, uma espécie de casca de ferida.

E eu quero dizer que a sociedade brasileira precisa mesmo é de um bálsamo para curar a mazela dos consensos ocos que se estabelecem. Todos são favoráveis às reformas, e elas parecem que como um passe de mágica se realizam quer por interferência dos que estão no executivo frente ao legislativo ou daqueles que mesmo saindo se propõem a continuar liderando o processo, que é bom. Agora, eu insisto, essas reformas não sairão do papel se as composições políticas forem as mesmas.

A composição política da Ministra Dilma é a mesma que interditou a reforma política do governo do Presidente Lula durante oito anos. A composição política que o Governador José Serra tem é a mesma que interditou a reforma política, a reforma tributária, a reforma da previdência durante oito anos.

Ou seja, nós temos dezesseis anos de aprendizagem. O que eu faço é um apelo para que saindo de cena o Presidente Lula e o presidente Fernando Henrique, façam um gesto para o Brasil, transformem em ato a sua intenção de fazer...

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: [Interrompendo pelo tempo] Candidato José Serra, o senhor tem um minuto e meio para a tréplica.

[José Serra Candidato PSDB]: Exatamente para romper esse círculo vicioso é que eu proponho fazer uma mudança parcial, que é factível de ser aprovada no Congresso Nacional, porque é muito difícil no Congresso Nacional aprovar medidas que ameacem reeleição de um deputado.
Eu já tenho dito, há algumas coisas sagradas no Congresso Nacional, que todo mundo vai para a tribuna com o maior respeito, que é criancinhas, velhinhos, mulheres, Jesus Cristo e municípios, são cinco questões fundamentais que qualquer parlamentar chega na tribuna, respeita e faz.

Agora, tem uma questão que é anterior a essa, que chama se reeleição. Então, o deputado, se ele se acha ameaçado de se reeleger, ele, por um novo sistema, tende a ser contra. Por isso, inclusive, minha ideia foi sempre propor para ali, não para a eleição seguinte, mas para a outra.
Acontece que a eleição no município grande não tem a mesma resistência política no Congresso Nacional, até porque a base dos deputados é principalmente Município pequeno e médio, e os interesses, entre aspas, contrariados, serão menores, então vamos fazer a mudança e fazer já a eleição distrital nas grandes cidades em 2012, isso é uma maneira de romper o impasse, de ter uma novidade positiva em matéria de reforma política no Brasil.

Se o Lula não fez em oito anos, você acha que ele vai fazer depois que deixar o mandato? De jeito nenhum, vamos fazer nós, aqueles que pretendem, inclusive chegar, como é o meu caso...

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: [Interrompendo pelo tempo] Candidato José Serra, o senhor vai continuar com a palavra, vai ter um minuto para formular a última pergunta desse bloco e necessariamente terá de fazer sua pergunta para a candidata Dilma Rousseff.

[José Serra Candidato PSDB]: Dilma, a respeito de impostos e outras coisas importantes, eu vi declarações suas manifestando uma certa satisfação, eu diria, achando normal a carga tributária no Brasil, que seria média. Uma média, eu diria uma certa satisfação, isso eu vi em várias entrevistas, você acha que está bem o volume de impostos no Brasil como fração do PIB.

Eu acho que não. E acho que mais ainda, o Brasil tem a maior carga tributária do mundo em desenvolvimento, disparado, pegando todos os países em desenvolvimento, emergentes, chame se como se quiser, o Brasil tem disparado a primeira carga tributária.
Mais, ainda, apesar da carga tributária elevada, o Brasil é um dos países cujo governo menos investe no mundo, é praticamente o penúltimo em matéria de investimentos governamentais, é uma combinação...

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: [Interrompendo pelo tempo] Candidata Dilma Rousseff, a senhora tem dois minutos para a resposta.

[Dilma Rousseff Candidata PT]: Sabe por que eu acho estranha, Serra? Porque eu acredito que esse número seu seja bastante antigo. A última vez que você o mencionou, em relação aos investimentos do país, eles estavam relacionados a um número de 2008, se não me engano, então é bom você atualizar o número e ver se, de fato, essa sua afirmação tem consistência.

Agora, eu queria levantar no que se refere ao quesito redução de impostos o fato de que nós, ao longo do nosso governo, tivemos uma prática sistemática de redução, inclusive, diante da crise, nós tivemos uma reação muito clara, nós reduzimos IPI de automóveis, IPI da linha branca, tínhamos reduzido da construção civil, fizemos todo um esforço de redução tributária para manter a economia funcionando, para não deixar que houvesse uma queda terrível no desemprego.

Você, ao contrário, não, você criou - eu sou favorável, só que não sou favorável no meio da crise - o substituto tributário. Eu não sou favorável à substituição tributária no meio da crise, porque ela significa única e exclusivamente, num primeiro momento, um aumento arrecadador.
Acho, Serra, que você teve uma avaliação errada da crise. Você supôs que ela ia ser mais profunda do que foi, e até seria se a gente utilizasse os padrões que estavam vigentes no Brasil no governo anterior do Fernando Henrique Cardoso, porque quando vinha crise, desvalorizava o real, o país, que tinha uma dívida indexada ao dólar, quebrava.

Eu tenho dito em todas as minhas intervenções, e vou falar aqui e deixar para falar na tréplica, sou a favor da reforma tributária.

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Candidato José Serra, um minuto e meio para a sua réplica.

[José Serra Candidato PSDB]: Dilma, você fica tão ligada para trás, o teu espelho retrovisor é tão grande que às vezes maior do que o pára-brisa que não fez o que fez o teu governo, inclusive você fez, você diz que rebaixaram impostos, eu vou dar dois números interessantes.
O imposto sobre saneamento, que é uma questão fundamental, que o Governo Federal fez pouco, inclusive, os aumentos que o governo apresenta, são em parte devidos aos investimentos do Estado de São Paulo e do Estado de Minas Gerais, e não do agregado.

Mas, em todo caso, o imposto Pis/Cofins, que é um tributo federal sobre saneamento, aumentou de 3 para 7,6 no seu governo. Eu estou estranhando que você não saiba disso. Tira das empresas estaduais e das municipais, dois bilhões de reais por ano, isso é subtraído do investimento em saneamento no Brasil.

Se for pegar quatro anos, são 8 bilhões a menos, isso foi feito no seu governo e com você, segundo se diz, coordenando o governo, pior ainda. Teve uma coisa que foi direta sua, Dilma. Aumentou se o imposto sobre a energia elétrica, o federal, não venha com estadual, o federal aumentou de 3,65 para 9,6, sendo responsável pelo aumento da tarifa de energia elétrica, é um dos fatores principais...

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: [Interrompendo pelo tempo] Tempo. Candidata Dilma Rousseff, a senhora tem um minuto e meio para a tréplica.

[Dilma Rousseff Candidata PT]: Como vocês estão vendo, ele não falou nada sobre substituição tributária no meio da crise.
Eu quero dizer o seguinte, havia no Governo Federal uma coisa chamada fila burra; a fila burra era a forma pela qual o Governo Federal na época do Fernando Henrique Cardoso não deixava se investir em saneamento. Como é que ela funcionava? Se o primeiro da fila não apresentasse papel, o segundo podia precisar muito do saneamento, não levava investimento.

Nós não, nós ampliamos o investimento, e aí eu reconheço que é importante o papel das prefeituras de São Paulo, de todo o Estado de São Paulo e do Rio de Janeiro; reconheço, também, de Minas Gerais, agora, todos os Estados do Brasil foram beneficiados.

Outro dia eu falei lá no Rio, sendo elegante, que na Rocinha a gente estava investindo 272 milhões só na Rocinha, em tudo, urbanização de favela, saneamento, isso que a Marina chamou de um pacote completo, mas eu fui elegante, eu devia ter falado o seguinte: no Rio nós estamos botando 40 bilhões, enquanto o governo do senhor Fernando Henrique Cardoso botava por ano 274, vou falar 300, em todo o Brasil. Então, discutir saneamento eu acho que é algo que você não deveria tentar, porque vocês não fizeram nada no Brasil nesse período.

[Fernando Rodrigues - Folha de S.Paulo - UOL]: Obrigada, candidata Dilma Rousseff, e o debate agora terá mais um intervalo de cinco minutos e peço a todos que voltem quando faltar um minuto para o final. Obrigado.
 

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