Haddad supera Serra, e PT volta a governar São Paulo após oito anos

Do UOL, em São Paulo

  • Leandro Moraes/UOL

    Haddad discursa em palco montado por militantes do PT na avenida paulista, zona central

    Haddad discursa em palco montado por militantes do PT na avenida paulista, zona central

Após oito anos, o PT volta ao poder na maior cidade do país com o triunfo de Fernando Haddad, 49, eleito prefeito de São Paulo após vencer José Serra (PSDB) no segundo turno.

A conquista da prefeitura paulistana representa uma vitória pessoal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que bancou a candidatura de Haddad, e, mesmo entrando tardiamente na campanha por conta da recuperação de um câncer na laringe, ajudou o ex-ministro da Educação a sair de patamares de 3% nas primeiras pesquisas de intenção de voto e chegar à reta final da disputa na liderança.

A vitória de Haddad acontece em um momento complicado para o PT, já que ex-integrantes da cúpula do partido foram condenados pelo STF (Supremo Tribunal Federal) por envolvimento no mensalão, maior escândalo político do governo Lula (2003-2010).

No comando administrativo da principal capital do Brasil, os petistas tentarão pavimentar o caminho para a conquista inédita do governo do Estado em 2014.

Além do apoio de Lula, Haddad contou com a popularidade da presidente Dilma Rousseff, que teve papel decisivo na campanha, participando de comícios e sendo personagem frequente do horário eleitoral gratuito.

Do lado do adversário, a derrota de Serra pode representar o fim da carreira política do tucano que, aos 70 anos, disputou sua quinta eleição consecutiva. Foi derrotado nas duas últimas --na deste ano, para Haddad, e na presidencial de 2010, quando foi superado por Dilma no segundo turno. Serra contava com o apoio do atual prefeito, Gilberto Kassab (PSD), e do governador do Estado, Geraldo Alckmin (PSDB).

Alianças e polêmicas

Antes mesmo do início oficial da campanha, Haddad foi alvo de controvérsias. Primeiro, ao lado de Lula, fechou uma aliança com o PP do deputado federal Paulo Maluf. O acordo foi fechado com uma foto histórica: Lula, Maluf e Haddad no jardim da casa do parlamentar.

A escolha do vice de Haddad também foi conturbada. PT e PSB chegaram a um acordo e definiram que a deputada federal e ex-prefeita da capital Luiza Erundina seria a escolhida. O anúncio da aliança foi marcado pelo constrangimento de Erundina ao justificar a presença de Maluf na chapa. A deputada desistiu de concorrer, e o PT acabou escolhendo Nádia Campeão (PC do B) para vice.

A imposição no nome de Haddad por Lula e a política de alianças acabou contrariando também a ex-prefeita Marta Suplicy, que gostaria de concorrer. Haddad amargou falta de apoio de Marta até o dia 5 de setembro, quando ela entrou na campanha. Dias depois, Dilma nomeou Marta ministra da Cultura, o que foi classificado por Serra como "moeda de troca" e “uso do governo como propriedade privada”. O PT nega que a nomeação tenha relação com o apoio a Haddad.

Caixa de campanha

O PT investiu pesado em Haddad. O petista estimou gastos de R$ 90 milhões na campanha, a mais cara do país. Prestação de contas parcial enviada ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral) referente aos dois primeiros meses de campanha (julho e agosto) mostra um gasto de R$ 16,5 milhões.

O maior doador da campanha é o próprio partido, com uma contribuição de R$ 7,7 milhões. Já o maior doador privado foi a OAS Empreendimentos, de quem Haddad declarou ter recebido R$ 1 milhão.

Do total gasto na campanha, Haddad informou que a maior parte do dinheiro foi destinado à produção de seu programa eleitoral no rádio e na TV: R$ 3 milhões foram reservados para esse fim.

Promessas

Os programas de Haddad, de fato, abusaram da tecnologia, como quando apresentou em 3D o seu projeto intitulado “Arco do Futuro” --uma das principais bandeiras do programa de governo petista, cuja proposta é acabar com os bairros-dormitório e com os congestionamentos no trânsito por meio de incentivos para empresas que se instalarem no entorno do arco formado pela avenida Cupecê e pelas marginais Tietê e Pinheiros, até a avenida Jacu-Pêssego.

A campanha em quatro atos

  • Alexandre Moreira/Brazil Photo Press/AE

    Após ser anunciada como vice de Haddad, Erundina desiste de integrar a chapa

  • Adriana Spaca/Brazil Photo Press

    Ao lado do ex-presidente Lula, Haddad fecha aliança com Maluf

  • Leonardo Soares/UOL

    Marta entra da campanha do PT em São Paulo e, em seguida, é nomeada ministra da Cultura

  • Fabiano Cerchiari/UOL

    Lula e Dilma estiveram presentes no palanque, na TV e no rádio durante a campanha

Outra bandeira da campanha de Haddad é a criação do Bilhete Único Mensal: a partir do pagamento de R$ 140 por mês (ou R$ 70, no caso de estudantes), o usuário poderá fazer viagens de ônibus ilimitadas. De acordo com o petista, a implantação da proposta custará R$ 400 milhões por ano à prefeitura.

Desafios

Entre os maiores desafios do novo prefeito estão a redução do deficit de vagas em creches, a construção de novos corredores de ônibus para melhorar o trânsito na cidade, a redução das filas de espera para marcar consultas e exames na rede de saúde, a construção de mais moradias, a reurbanização de favelas e o combate às enchentes.

A disputa

No segundo turno, Haddad recebeu o apoio de Gabriel Chalita (PMDB), o quarto candidato mais votado no primeiro turno (13,6% dos votos). Celso Russomanno (PRB), que teve 21,6% dos votos e ficou em terceiro lugar, optou pela neutralidade e decidiu não apoiar ninguém.

Já o vice na chapa de Russomanno, Luiz Flávio D´Urso, e seu partido, o PTB --do deputado Campos Machado-- se aliaram a Serra. O tucano teve também o apoio do PPS de Soninha Francine e, ainda, do deputado federal Paulinho da Força (PDT). O PDT nacional, contudo, que tem Brizola Neto no comando do Ministério do Trabalho, declarou apoio a Haddad.

As três semanas que separaram o primeiro do segundo turno foram marcadas por ataques mútuos entre os candidatos. Na primeira semana, o pastor evangélico Silas Malafaia, que apoiava Serra, deu início às polêmicas envolvendo o kit anti-homofobia.

O pastor e o tucano atacaram o que ficou conhecido como "kit-gay" do MEC, idealizado quando Haddad estava à frente da pasta, em 2011 --o material não chegou a ser distribuído porque foi barrado pela presidente Dilma após pressão das bancadas católica e evangélica do Congresso Nacional.

O debate sobre o material, no entanto, se voltou para Serra a duas semanas do segundo turno, depois que a imprensa divulgou que o tucano distribuiu aos professores da rede estadual de ensino material de conteúdo semelhante ao produzido pelo MEC quando era governador, em 2009. Durante a troca de ataques, os dois candidatos evitaram se posicionar claramente sobre o tema.

Superada a discussão sobre o “kit-gay”, os candidatos passaram a se dedicar a discutir as parcerias entre as chamadas OSs (Organizações Sociais) e os hospitais públicos da cidade. As OSs, que detêm quase metade do orçamento da Secretaria Municipal da Saúde, administram 60% das unidades de saúde na capital e são responsáveis por 75% dos atendimentos.

Serra acusou Haddad de querer acabar com essas parcerias e diversas vezes afirmou que isso estaria no programa de governo do petista.

Haddad, então, partiu para o contra-ataque e, na reta final, dedicou seu discurso a negar as afirmações de Serra e a dizer que apenas iria seguir as recomendações do TCM (Tribunal de Contas do Município) para aumentar a fiscalização das entidades.

Veja como foi a campanha de Fernando Haddad (PT) em São Paulo
Veja como foi a campanha de Fernando Haddad (PT) em São Paulo

No programa eleitoral, Serra tentou mostrar Haddad como um homem despreparado para governar a cidade de São Paulo com o argumento de que o petista enfrentou problemas com o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

O tucano também explorou o julgamento do mensalão e, desde o início, abusou de um discurso pautado por “ética” e “valores” --o ex-ministro chefe da Casa Civil José Dirceu foi condenado por corrupção ativa e formação de quadrilha no esquema de compra de apoio de parlamentares do primeiro mandato de Lula.

O ex-presidente Lula chegou a dizer, em reunião interna com petistas, que a resposta ao mensalão seria dada nas urnas.

Perfil do eleito

Nome: Fernando Haddad
Partido: PT
Nascimento: 25/1/1963
Município de nascimento: São Paulo (SP)
Ocupação: Professor de ensino superior
Vice: Nádia Campeão (PC do B)
Coligação: Para Mudar e Renovar São Paulo (PP / PT / PSB / PC do B)

Para rebater as investidas do adversário com base no mensalão, Haddad incluiu em seu programa de governo a criação da Controladoria-Geral do Município, para “combater a corrupção e controlar os gastos da administração”.

Contra Serra, a campanha de Haddad explorou o fato de o tucano ter deixado a Prefeitura de São Paulo um ano e três meses após assumir o cargo, em março de 2006, para concorrer ao governo do Estado. A aliança com Kassab também foi explorada pela campanha petista. Eleito vice de Serra em 2004, Kassab assumiu a prefeitura após a renúncia do tucano. Em 2008, Kassab foi reeleito com o apoio de Serra. De acordo com o Instituto Datafolha, mais de 40% dos eleitores classificam a administração de Kassab como ruim ou péssima.

Histórico

O primeiro cargo político que Haddad assumiu foi o de chefe do gabinete da Secretaria de Finanças da Prefeitura de São Paulo, em 2001, primeiro ano da gestão de Marta Suplicy.

Em 2003, Haddad tornou-se assessor especial do então ministro do Planejamento, Guido Mantega, e em 2005 foi convidado pelo então presidente Lula para assumir o ministério da Educação, cargo que ocupou até janeiro de 2012, já na gestão da presidente Dilma.

Haddad é filho de imigrante libanês, nasceu em São Paulo, é casado e pai de dois filhos. Formou-se na Faculdade de Direito da USP em 1985, mesma instituição onde fez mestrado em economia e doutorado em filosofia.

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