Após ter seu nome ligado a milícias, Paes recua e promete licitação individual das vans

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio

A campanha do prefeito do Rio de Janeiro e candidato à reeleição, Eduardo Paes (PMDB), veiculou nesta sexta-feira (31) uma propaganda no rádio no qual promete fazer uma nova licitação das vans de forma individual, e não por cooperativa.

O material surge no dia seguinte às declarações de seu principal adversário, Marcelo Freixo (PSOL), que afirmou durante a Sabatina Folha/UOL que a gestão de Paes contribuiu para "o crescimento das milícias". A máfia do transporte alternativo é a maior fonte de renda para os grupos paramilitares, em especial na zona oeste da cidade.

Na propaganda, Paes fala diretamente com os motoristas de vans, e afirma que todos terão direito a participar da licitação. Em 2009, o prefeito do Rio foi fotografado em uma reunião com líderes milicianos que controlam cooperativas de vans na zona oeste. A imagem tem sido constantemente republicada por usuários de redes sociais.

A fotografia mostra Paes ao lado de César Moraes Gouveia, conhecido como "César Cabeção", presidente da cooperativa "Rio da Prata" e identificado pela CPI das Milícias --que foi presidida por Freixo na Assembleia Legislativa do Rio, em 2008-- como um dos chefes da máfia do transporte alternativo. Há três anos, a cooperativa de Cabeção venceu o processo licitatório de dez linhas de vans na zona oeste.

Também aparecem na imagem Dalcemir Barbosa, que foi acusado pela mesma CPI de ser um dos líderes da milícia que domina a favela Rio das Pedras, na zona oeste, Hélio Ricardo, conhecido como "Gringo", e Getúlio Rodrigues, morto em 2010. Os dois últimos foram citados pela CPI das Milícias como responsáveis por violentas ações de milicianos na guerra pelo controle das vans.

Declarações de Freixo

Na quinta-feira (30), o concorrente do PSOL à Prefeitura do Rio, Marcelo Freixo, afirmou que a gestão de Paes tinha responsabilidade sobre o crescimento de milícias na cidade, cooperando com licitações feitas para as vans que circulam no Rio, e o acusou de favorecimento eleitoral.

"Ele [Eduardo Paes] tem responsabilidade pelo crescimento das milícias. Falo disso abertamente e, se estivesse em um debate com ele, falaria para ele”, declarou durante Sabatina Folha/UOL.

Questionado se o prefeito obtém votos por essa conivência com as milícias, Freixo respondeu que sim. “É só ver o mapa eleitoral dele. Onde ele ganhou a última eleição em relação ao [Fernando] Gabeira [em 2008]? Onde foi a votação determinante para ele? Com o apoio de quem? Quem os milicianos apoiaram e quem eles apoiam hoje?”, disse.

"Há vários vereadores da base política do governo integrantes da milícia. É só você ver por quais partidos essas pessoas se elegem", completou o deputado estadual.

Freixo afirmou ainda que não estava "dizendo que o prefeito é miliciano". Para o candidato do PSOL, a suposta "contribuição" dada pela atual gestão ao crescimento das milícias tem um caráter essencialmente político.

"Não significa que ele seja miliciano ou que ele ganhe dinheiro com isso. (...) Eu jamais faria um negócio desse, leviano. Não sou ele. Quem costuma usar de leviandade é ele, não eu. (...) O que estou dizendo é que o projeto político de poder [do governo municipal] em relação às lideranças locais alimentou as milícias durante esse tempo".

"Ele foi subprefeito da Barra e sabe bem como as milícias se organizam. Tem discurso dele em um telejornal falando da milícia como um bom exemplo de policiamento comunitário. Isso está no YouTube. Ele poderia ter rompido com isso como prefeito. Não só não rompeu como alimentou esses setores que hoje são danosos para o Rio de Janeiro", finalizou.

Além da questão do transporte alternativo, Freixo citou o caso dos centros sociais que, segundo o deputado, são controlados pelos milicianos e mantidos com dinheiro da prefeitura.

Paes rebate

Na Sabatina Folha/UOL desta sexta-feira (31), Eduardo Paes afirmou que a acusação do adversário Marcelo Freixo de ter responsabilidade no crescimento das milícias na cidade deve “ser desespero eleitoral".

"O processo eleitoral prevê que os candidatos tenham suas opiniões sobre os outros candidatos. O deputado [Freixo] sabe que eu não tenho relação com milícia, aliás, é um risco enorme politizar o tema da segurança pública. (...) muitos querem ser comentaristas, deve ser desespero eleitoral", disse.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada no dia 29 de agosto, Paes aparece em 1º lugar com 53% das intenções de voto. Em seguida, está o candidato Freixo, com 13%.

Paes afirmou que "não se deve politizar o tema de segurança pública" e criticou os políticos que se transformam em comentaristas.

Sobre as licitações de vans para o transporte alternativo, Paes disse que elas estão sendo feitas individualmente porque as informações apontam para o fato de que as cooperativas são comandadas por milicianos.

"Não estou dizendo que todos os donos de cooperativas são milicianos, mas as informações dizem que existem. Hoje, todas as vans têm licenças individuais, e, mesmo assim, se formam cooperativas e passam a ser supostamente de milicianos", afirmou.

Tréplica

Após as declarações de Paes, Freixo emitiu uma nota oficial na qual responde as acusações de "leviandade" e "desespero eleitoral" feitas pelo atual prefeito na Sabatina Folha/UOL.

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O deputado afirma ter encaminhado ao peemedebista, em 2008, o relatório da CPI das Milícias, "mostrando que a Prefeitura do Rio tinha responsabilidade em tirar o controle do transporte alternativo dessas máfias".

"Ainda assim, em 2009, o atual prefeito se encontrou dentro da prefeitura com supostos milicianos que controlavam cooperativas de vans e, depois, fez uma licitação que favoreceu esses grupos, que o apoiam eleitoralmente", afirma a nota.

"Devolvo a acusação de ‘leviandade’ com o desafio de que o atual prefeito explique o que os milicianos que controlam máfias de vans estavam fazendo com ele dentro da Prefeitura em 2009. Essa reunião ocorreu depois que eu estive com o prefeito pessoalmente, entregando o relatório da CPI das Milícias, em que estes milicianos apareciam como indiciados. Alguns destes criminosos depois foram presos ou mortos. Uma das propostas da CPI, de competência da Prefeitura, era mudar a forma de licitação das vans, fazendo individualmente e não por cooperativas, como foi feito após a reunião", declarou Freixo.

O pleiteante do PSOL também questionou a avaliação de “desespero eleitoral”. “Qual o motivo de desespero se a nossa campanha é a única que está subindo nas pesquisas, enquanto a dele está caindo. Apesar de termos um orçamento quase 30 vezes menor e um tempo de TV de pouco mais de um minuto, somos a candidatura que mais cresce e tem o menor índice de rejeição nas intenções de voto”, afirmou.

Em nota, Freixo afirmou que "o atual prefeito teve a oportunidade de realizar a licitação de vans de forma individual ainda no início de 2009, quando pessoalmente entreguei a ele o relatório final da CPI das Milícias da Alerj com essa proposta, como uma das 58 ações prescritas para o enfrentamento efetivo das milícias no Rio de Janeiro".

"Passaram-se três anos e ele não tomou essa iniciativa. Pelo contrário, chegou a realizar uma licitação do transporte alternativo por cooperativas, o que fortaleceu ainda mais as máfias que as controlam.  Só depois de uma reportagem bombástica no Fantástico, no ano passado, ele começou a sinalizar que mudaria de ideia", informou a nota.

Ainda de acordo com Freixo, "assim mesmo, com toda a pressão parlamentar, da mídia e da opinião pública, o prefeito pouco fez de fato até agora para o enfrentamento das milícias, no que competiria ao papel do poder municipal. E agora, está claro que anuncia essa licitação de forma individual com interesse eleitoreiro".

Outro lado

A reportagem do UOL entrou em contato com a assessoria de Eduardo Paes, mas a campanha do peemedebista afirmou que não comentaria "críticas feitas por adversários".

A respeito da veiculação da propaganda na qual o candidato à reeleição promete fazer uma nova licitação individual das vans, a assessoria não soube informar se o material já havia sido exibido antes das declarações de Freixo. No entanto, informou que as peças publicitárias feitas para o rádio são "fechadas com uma semana de antecedência.

Em relação ao último processo licitatório das vans, a assessoria de Paes afirmou que o assunto deveria ser questionado na Secretaria Municipal de Transportes. A reportagem tentou em contato com a SMTR na noite desta sexta-feira, porém ninguém foi localizado.

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