Opinião: Eduardo Paes é o maior adversário de si mesmo, diz Plínio Fraga

Plínio Fraga

Colunista do UOL

Candidato à reeleição, o prefeito Eduardo Paes (PMDB), demonstrou na sabatina Folha/UOL que seu maior adversário continua sendo si próprio. "Estamos mais pontuais que os britânicos", disse sobre o cronograma das Olimpíadas. "Está tudo on schedule, no prazo." Não titubeou ao proclamar seu papel na cidade: "Adoro ser síndico/dona de casa mesmo". Mas se disse um prefeito com articulação internacional. "Se não fosse, não seria chamado para falar sobre a experiência na cidade no TED, quem é sofisticado sabe do que estou falando", comentou a respeito do Technology, Entertainment e Design, um painel mundial de divulgação de boas práticas de interesse público.

Num momento, referiu-se às "patas do Estado", noutro chamou opositores de "pipoqueiros", "populistas baratos, demagogos". Declarou que, quando deputado, era motivo de chachota por ser do Rio e que sabe que a cidade tem problemas a enfrentar. "Eu não sou tonto. A gente parou de falar que São Paulo era culpada dos nossos problemas."

Disse que tentou fazer licitação para tirar a administração do Carnaval da mão dos bicheiros. "Mas a Disney não quis comprar. Ninguém quer ver o Mickey, o Pluto e o Pateta. Querem ver a Portela."

Esse modo de falar, mais irônico que bem-humorado, mais arrogante que seguro, obriga que Paes tenha de volta e meia explicar ou justificar suas declarações. Seja quando chamou Lula de "chefe de quadrilha psicótico" ou quando afirmou que "não há governo honesto". "Sei lá quando disse isso" ou "eu disse isso?" são suas saídas quando confrontado com arroubos de um passado para ele muito distante.

Faz discurso indignado quando cita que a saúde e a educação no município ainda são muito ruins. Mas diz que antes dele era muito pior. Assume que a questão do transporte é problemática. "Tá cheio de gente andando de 'quentão', gente engarrafada no trânsito por aí." Citou que hoje só 18% dos cariocas andam em transporte de massa e que, com novas linhas de metrô e corredores expressos de ônibus, esse índice saltará para 63%. "Outro dia o sujeito chegou para mim no estúdio que estou gravando e disse: prefeito, o sr. me apresentou o Bonner. Isso porque ele está chegando em casa antes do Jornal Nacional, com o corredor expresso."

Paes deu uma mostra do seu estilo. "Eu sempre faço média com a imprensa." Ao responder sobre atropelamentos num corredor expresso na Barra, disse que não faria passarela. "Primeiro, porque o plano no Lucio Costa não permite. Segundo, porque acho feio para caramba. Terceiro, porque as pessoas não usam. Atravessam por baixo. Vira sombra em dia de sol e guarda-chuva em dia de chuva."

Esse tom um tanto amargo e desafiador só é possível para quem tem uma vantagem que é o dobro da soma de seus concorrentes, com o dobro de volume de recursos arrecadados também. Não foi à toa que Paes disse a plenos pulmões na sabatina: "Sou o prefeito mais feliz do mundo". Não é difícil acreditar.

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