Lula tem poder de unir aliados, mas forma de atuação nem sempre é democrática, dizem especialistas

Maria Denise Galvani e Priscila Tieppo

Do UOL, em São Paulo

Desde a divulgação de um vídeo em 28 de março deste ano, quando anunciou que voltaria “à vida política” após tratamento contra um câncer de laringe, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem cumprido a promessa à risca e, em especial na última semana, se transformou no principal ator da política brasileira.
 
Mensalão, CPI do Cachoeira, eleições municipais e sucessão da presidente Dilma Rousseff. Ao melhor estilo Lula, o ex-presidente foi protagonista de questões controversas.

“O rumo que ele tem procurado dar [nas negociações políticas], influenciar de uma forma não muito democrática nesses processos, é questionável", diz Fábio Wanderley Reis, da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).

 “Sem a figura de Lula, a possibilidade de haver conflito entre os aliados é sempre maior. O PT é um partido de tendências e Lula tem a capacidade de apontar caminhos”, afirma o cientista político Túlio Velho Barreto, da Fundação Joaquim Nabuco, do Recife.

Mensalão, CPI e Haddad

Ao longo da última semana, após reportagem publicada na revista "Veja", Lula e o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Gilmar Mendes trocaram acusações. Mendes acusa Lula de tentar pressioná-lo a ajudar no adiamento do julgamento do mensalão em troca de "blindagem" na CPMI do Cachoeira. Lula nega a acusação. Partidos de oposição chegaram a cogitar a convocação de Lula para depor na CPI.

"É prejudicial para ele [Lula] que tem que aparecer ao lado dos candidatos e, inevitavelmente, ele terá dar uma satisfação sobre o caso. No momento, ele está em silêncio, dando corda para o Gilmar Mendes se enforcar", afirma o professor e cientista político Claudio Couto, da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas).

Depois deste episódio, Lula esteve em Brasília, onde se encontrou com Dilma e deu uma palestra. Ao longo da semana, dedicação exclusiva às alianças do PT nas eleições municipais. Políticos fazem romaria ao escritório de Lula em São Paulo para tentar fechar acordos ou ouvir a opinião do ex-presidente. Ele interferiu diretamente nas disputas pelas prefeituras de São Paulo, Recife e Fortaleza. "Lula vai se envolver onde o conflito é acentuado ou se o resultado na cidade têm influência na perspectiva de poder em 2014”, afirma Velho Barreto. 

Lula ainda participou do “Programa do Ratinho”, no SBT, onde fez campanha eleitoral para o pré-candidato do PT em São Paulo, Fernando Haddad, e disse que pode disputar a sucessão de Dilma, caso a presidente não aceite concorrer à reeleição. “Não vou permitir que um tucano volte ao poder no Brasil”, disse.

A participação do ex-presidente gerou críticas por parte da oposição. Neste sábado (2), ele ainda foi a principal estrela do lançamento da candidatura de Haddad em São Paulo.

COMO LULA ATUA NO ATUAL CENÁRIO POLÍTICO?

Túlio Velho Barreto - Fundação Joaquim Nabuco "Sem a figura de Lula, a possibilidade de haver conflito entre os aliados é sempre maior. O PT é um partido de tendências, e Lula tem a capacidade de apontar caminhos"
Francisco Moreira Ribeiro - Unifor (Universidade de Fortaleza) "Lula é um animal político, tem uma capacidade enorme de construir alianças e grande potencial de voto"
Alessandra Aldé- UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro) "A figura do Lula tem sido relevante, ele é uma marca partidária do PT e tem peso no processo eleitoral"
Claudio Couto da FGV-SP (Fundação Getúlio Vargas) "O papel político do Lula neste processo é de transferência de votos. O Fernando Haddad é muito pouco conhecido do público e, por conta disso, aparecer ao lado do Lula pode funcionar. A participação dele no 'Programa do Ratinho' prova isso"
Fábio Wanderley Reis da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais) "Há uma certa influência de Lula nas ações, como, por exemplo, no Recife com a escolha de um candidato, em São Paulo, com a escolha do Haddad. Mas o rumo que ele tem procurado dar, influenciar de uma forma não muito democrática nesses processos, é questionável"
Maria Hermínia Tavares ? USP (Universidade de São Paulo) "Goste-se ou não Lula é um político de grande prestígio, bem maior do que o prestígio do PT. ele é um negociador experiente e sem dúvida pode ajudar essa costura complicada para construir as coalizões municipais"

 

UOL Cursos Online

Todos os cursos