Sem nenhum prefeito em Alagoas, PT submerge à força de Collor e Renan e sonha ser "partido grande" no Estado

Carlos Madeiro

Do UOL, em Maceió

Nos últimos dez anos, o PT se consolidou como o partido de maior força no país, alcançando a presidência da República por três eleições consecutivas e garantindo eleições de governos estaduais e municipais. Mas em meio à regra, há uma exceção: em Alagoas, o partido não possui sequer um prefeito ou deputado federal no poder, sofre da pouca barganha política e vive à sombra dos três senadores que dominam a política local.

Segundo analistas e políticos ouvidos pelo UOL, não há dúvidas de que o PT alagoano está longe de ser um "partido grande", com influência, e submerge à força do PMDB, do senador Renan Calheiros; do PTB, do senador Fernando Collor de Mello; e do PP, do senador Benedito de Lira. Junta, a trinca de senadores --que compõem a base aliada do governo federal-- domina as principais prefeituras do Estado, entre elas Maceió e Arapiraca. Os três partidos contam com o apoio do PT, que aparece sempre como coadjuvante no processo eleitoral.

Em 2008, o PT chegou a eleger uma prefeita entre os 102 municípios: Sânia Tereza, da pequena Anadia, a 88 km de Maceió. Primeira mulher petista a assumir uma prefeitura no Estado, ela foi cassada do cargo em dezembro de 2011, após ser presa e acusada de mandar matar um vereador do PPS que fazia oposição a ela na Câmara. A acusação não só manchou o nome do partido no Estado (até então imune a crimes de pistolagem), como tirou o único gosto que o partido tinha de poder executivo no Estado. Hoje, o cardápio petista inclui apenas um vice-prefeito --da pequena Belém--, três deputados estaduais e 24 vereadores espalhados pelos municípios.

Os números do PT em Alagoas são para lá de modestos e contrastam com a força petista no Nordeste, onde o partido governo tem Estados como a Bahia e prefeituras como Recife e Fortaleza, além de possuir dezenas de senadores e deputados eleitos.

A derrocada em 2002

Para o cientista político e professor da Ufal (Universidade Federal de Alagoas), Alberto Saldanha, a derrocada do PT alagoano começou em 2002, quando a então senadora e então petista Heloísa Helena recusou uma candidatura ao governo do Estado, quando todos apontavam uma chance real de vitória --à época, Helena apontou que a coligação nacional com o PR não poderia ser repetida no Estado, já que, entre os republicanos de Alagoas, havia empresários e adversários históricos do partido. A partir dali, o PT alagoano foi caindo pelas tabelas.

“Heloísa desmontou o PT no Estado ao não disputar aquela eleição em 2002. O partido ainda lançou o nome Judson Cabral [então vereador de Maceió e atual deputado estadual], mas só para constar. Ressalte-se que, em 1998, você teve uma ascensão das esquerdas em Alagoas, como a eleição de Ronaldo Lessa [então no PSB] para o governo e de Heloísa para o Senado. Você tinha naquela época um PT em ascensão, mas que não soube aproveitar a situação. Essa esquerda eleita rachou no meio do caminho, e a saída de Heloísa [expulsa em 2003], que era a grande liderança, enfraqueceu o partido em nível estadual, que teve de começar da estaca zero”, explicou.

Segundo Saldanha, com o aumento de poder político no cenário nacional de Collor e Renan, o PT alagoano acabou perdendo ainda mais força e virando uma espécie de moeda de troca das negociações do diretório nacional com os senadores e seus respectivos partidos. “Existe aqui em dependência da base aliada do governo federal, desde o presidente Lula. Collor e Renan usam o poder que têm em Brasília para trazer o partido a reboque em Alagoas. Com os caciques políticos de outros partidos, o PT fica sempre num segundo plano porque depende muito, especialmente do PMDB, e continua preso a esses senadores. A eleição se aproxima, e na capital, por exemplo, o PT tenderá mais uma vez a ser coadjuvante”, afirmou.

Mas na opinião de um militante petista há mais de 20 anos que preferiu não se identificar, a aliança com nomes reprovados pela “verdadeira militância”, como a união Collor em 2010 --quando no segundo turno, o -ex-presidente fez campanha para a chapa a qual o PT tinha o candidato a vice-governador--, desgastaram e afastaram petistas históricos do partido. “Além de perdemos a nossa identidade, jogamos fora parte da nossa história. Vivemos, hoje, dos pequenos cargos federais que nos são dado como 'favor.' Órgãos mais importantes, como o INSS [Instituto Nacional da Seguridade Social], o Porto de Maceió e o DNIT [Departamento Nacional de Infra-Estrutura de Transporte] estão nas mãos de outros partidos, de parlamentares que negociam direto em Brasília. Para nós, sobra os mais problemáticos, como o Incra [Instituto Nacional da Colonização e Reforma Agrária]. E o que é pior: poucos reclamam”, desabafou.

Para Alberto Saldanha, situações como essa levam o PT a viver um dilema em Alagoas: romper com os aliados de prestígio nacional para tentar expandir no Estado ou manter os parceiros e cargos ofertados por eles em municípios, mas mantendo-se como um partido sem força. “Esse é o grande dilema. Se ele quer construir um projeto no Estado, tem de se sair à sombra de Renan e Collor. Se não sair, será dependente e ficará eternamente como coadjuvante”, sentenciou.

"Parceiros fiéis"

No PT em Alagoas, Collor e Renan são tratados como aliados de primeira hora sem nenhum constrangimento. Fiel seguidor da cartilha nacional do partido, o presidente do PT em Alagoas, Joaquim Brito, admite que os senadores são “parceiros fiéis” do governo federal, mas repudia com veemência a ideia que os dois deem as cartas no partido e definam coligações em Brasília, à revelia de bases locais.

“Os dois são da base de sustentação e estão no governo Dilma. São parceiros fiéis do PT em Alagoas. Mas não há nenhum processo de interferência de nenhum parlamentar no partido. E ninguém vai ousar tentar isso. Todos sabem que o PT tem seu presidente, tem sua autonomia em Alagoas. Essas notas venenosas, de que o Renan decide as coisas no PT, é diarreia mental”, assegurou Brito, sem esconder a irritação quando questionado sobre o poder de Collor e Renan nas decisões do partido. “Isso é coisa inventada por vocês, da imprensa”, rebateu.

Conhecido pelo estilo “durão”, Brito não esconde os erros que teriam contribuído para que o PT virasse um partido de pouca expressão em Alagoas nos últimos anos. “Não tem que fazer um bordado para justificar. Houve falta de organização, faltaram recursos materiais, foram cometidos erros nos processos de aliança. Tivermos, em alguns momentos, tendência muito isolacionista. Sei que é uma coisa inconcebível termos a presidência a três mandatos e, em Alagoas, não termos nenhum prefeito. Mas estamos trabalhando para crescer no Estado e mudar essa realidade”, disse.

Aspirações

Classificado por muitos como um partido pequeno no Estado, o PT sonha com dias melhores em 2012, quando aposta eleger cinco prefeitos. Se conseguir, elegerá apenas prefeitos em cidades pequenas, de pouca expressão política. Não há, porém, perspectiva de candidatos nos maiores municípios do Estado, onde os petistas devem, mais uma vez, pegar carona nos partidos da base aliada da presidente Dilma Rousseff e garantir cargos periféricos nas gestões.

Segundo Brito, o diretório criou um grupo de trabalho eleitoral, em dezembro do ano passado, para fazer o diagnóstico das dificuldades e potencialidades do partido para a eleição de outubro. O resultado, para ele, é animador e pode indicar uma mudança de rumo do partido no Estado.

“Nós fizemos um planejamento e temos convicção de que é possível eleger cinco prefeitos e 50 vereadores. Nos municípios em que temos densidade eleitoral, vamos negociar para que os partidos da base aliada federal nos apoie. Em outros municípios, vamos apoiar esses partidos. Em Maceió, vamos fazer parte da aliança que envolva os partidos que estarão sob o comando do prefeito Cícero Almeida (PP)”, adiantou.

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