PMDB treina jovem para política da conveniência e rachas internos

Hanrrikson de Andrade

Do UOL, no Rio de Janeiro

  • Zulmair Rocha/UOL

    Política e arte

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Conhecido pela forma como se adapta e participa de governos de todas as correntes ideológicas, o PMDB - que, rachado, foi base de sustentação de governos federais do PT e do PSDB - treina seus jovens filiados para conviverem com as conveniências. "Política não é instituição teórica. Política é prática", diz o presidente licenciado da ala jovem do partido, Gabriel Souza, 28, que participou no sábado (17) e domingo (18) do congresso nacional da juventude do partido, no Rio. "Se não há rachas internos, não é o PMDB", diz o estudante Rafael Lopes, 27, integrante do JPMDB, a ala jovem do PMDB.

Na prática, os jovens militantes incorporaram divergências entre membros do alto escalão do PMDB e as transformaram em uma espécie de identidade partidária. O próprio Souza vive uma dessas situações típicas do PMDB. Ele diz que vai retomar o cargo em três meses. Vai ter de enfrentar a resistência do atual mandatário, Marco Antônio Cabral, 25, que é filho de um dos caciques da sigla, o governador do Rio, Sérgio Cabral. Marco Antônio afirma que ficará no cargo até o final do ano.

A principal discórdia está na posição de Marco Antônio com relação à divisão dos royalties do pré-sal. O filho de Sérgio Cabral defende a mesma posição do pai.  "Não há discussão. É um direito nosso", afirma Marco Antônio.

Há quem discorde. "O que falta para o PMDB hoje é uma integração a nível nacional. Falta se aproximar mais do povo e construir uma unidade entre todos os Estados. (...) O debate sobre a divisão dos royalties, por exemplo. O Marco Antônio obviamente defende a posição do Estado dele. Nós somos contra, já que o petróleo não é uma riqueza do Rio de Janeiro, e sim nacional", afirmou o presidente do diretório do Maranhão, Assis Filho, 25.

O segmento jovem do PMDB espera lançar 8.500 candidatos a vereador nas eleições municipais de 2012. "Pelo nosso histórico, temos chances de eleger 30% dos candidatos jovens. A meta inicial para 2012 é eleger 2.550 vereadores", diz Souza, o presidente licenciado do JPMDB.

Cerimônia

Marco Antônio Cabral é visto com desconfiança pelos Estados fora do eixo sul-sudeste. Representantes de diretórios estaduais não escondem que houve uma pressão interna para que o filho de Sérgio Cabral fosse projetado a uma posição de destaque dentro da juventude do PMDB.

"É claro que nós escutamos comentários sobre isso e é inegável que houve uma pressão pelo fato de o Marco Antônio ser filho do governador Sérgio Cabral", disse o presidente do diretório do Rio Grande do Norte, Edson Carvalho, 35. Os dirigentes estaduais reclamam ainda da pouca idade de Marco Antônio.

A intriga palaciana, tal qual o “PMDB adulto”, também é parte do cotidiano dos jovens peemedebistas. A cerimônia, realizada sexta-feira (16),  na capela ecumênica da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), na qual Marco Antônio tomou posse como presidente do segmento jovem do partido, virou tema de conversas ao pé do ouvido.

Na ocasião, além de Sérgio Cabral, marcaram presença o prefeito do Rio, Eduardo Paes, o senador Roberto Requião, o presidente da Assembleia Legislativa do Rio, Paulo Melo, o presidente do PMDB no Rio, Jorge Picciani, entre outras lideranças.

"Se fosse um de nós, será que teria tanta gente importante?", indagou um militante de Minas Gerais para o colega durante o intervalo dos debates de sábado. Abordado pela reportagem do UOL, o jovem preferiu não comentar, tampouco se identificar.

Nordeste cobra espaço

Estados do Nordeste estão se unindo com o objetivo de cobrar mais verba e mais participação política dentro da juventude do PMDB. Possibilidade de oposição na própria juventude em face às próximas eleições internas.

"Não é preciso muito para fazer uma boa gestão nesse tempo que ele [Marco Antônio Cabral] ficará à frente do JMPDB. Mas ele precisa sair do Rio, conhecer pessoalmente a base da militância em outros locais, principalmente o Nordeste. Hoje ele é o presidente, mas muitos militantes pelo Brasil nunca o viram, não sabem quem ele é. Falta da parte da gestão atual um contato maior com as bases", reclama o presidente do diretório do Sergipe, Thiago Menezes, 31.

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