Marcio Lacerda (PSB) e Leonardo Quintão (PMDB) deram trégua nas trocas de acusações que predominaram os encontros anteriores e procuraram confrontar os programas de governo no último debate, realizado nesta sexta-feira (24) pela TV Globo, na retal final do segundo turno da eleição de Belo Horizonte.

Em quatro blocos, os candidatos trocaram questões entre si sobre assuntos de livre escolha e formularam perguntas sobre assuntos determinados por sorteio, sendo que o quinto e último bloco foi destinado às considerações finais.

O momento mais tenso entre os concorrentes à Prefeitura de Belo Horizonte se deu quando Lacerda instou Quintão a explicar as acusações feitas nesta quarta-feira (24) pelo jornal "Estado de Minas". (Veja resumo abaixo).

Quintão disse não ter nada a declarar sobre o episódio. Citou o número do próprio CPF (Cadastro de Pessoa Física) e pediu aos telespectadores que "puxassem o nome na Receita Federal", garantindo não ter nada que o desabonasse.

Ele ainda afirmou ser o adversário mais "rico que Paulo Maluf", garantindo que o oponente era quem deveria explicar o patrimônio, por possuir "patrimônio vinte vezes maior que o meu". Lacerda declarou cerca de R$55 milhões à Justiça Eleitoral.

Envio de Dólares

Reportagem da edição desta sexta-feira (24) do jornal "Estado de Minas" traz denúncia sobre envio ao exterior de somas de dinheiro (cerca de US$ 1 milhão) feito pela família de Quintão, utilizando-se de préstimos de doleiros, no período de 1998 a 2002. As transferências não passaram pelo meio legal de operações desta natureza, o BC (Banco Central), nem foram informadas à Receita Federal, o que caracteriza crime contra o sistema financeiro e lavagem de dinheiro, informa o jornal, cuja reportagem ainda faz menção a suposto enriquecimento ilícito do candidato.

Segundo a matéria, o candidato peemedebista e o pai, o prefeito de Ipatinga (MG), Sebastião Quintão (PMDB), foram responsáveis pela remessa de US$ 150 mil do montante e contaram com o auxílio do escritório Beacon Hill, que era controlado por diversos doleiros da América Latina e foi fechado em 2003 por promotores dos Estados Unidos. A família teria feito uso do serviço de doleiros que intermediaram operação análoga dos ex-prefeitos de São Paulo Celso Pitta e Paulo Maluf.

Ainda de acordo com a reportagem, A CPI do Banestado obteve documentos que comprovaram a utilização do serviço do escritório por Pitta, Maluf e o doleiro João Arcanjo Ribeiro para enviarem recursos à Suíça e países sediados em paraísos fiscais.

Propostas confrontadas

No início, os dois discutiram solução para o término da obra do metrô de Belo Horizonte, considerado a redenção do trânsito da capital mineira. Quintão asseverou terminar as obras com recursos de "fundo perdido" do governo federal e afiançou investimento do governo federal na mobilidade urbana da cidade com vistas à Copa do Mundo de 2014.

Por sua vez, Lacerda disse ser muito difícil concluir as obras somente com recursos públicos e sinalizou com parceria público-privada. O socialista prometeu dez mil novas moradias para pessoas que vivem em áreas de risco.

O peemedebista anunciou que, se eleito, implantará programa desenvolvido pelo ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social e Combate à Fome) para socorrer as pessoas sob risco de violência.

Os dois garantiram a continuidade do programa "Vila Viva", que urbaniza áreas degradadas em vilas e favelas na capital mineira.

Quintão sinalizou criar a "guarda municipal comunitária", que deverá agir principalmente nos bairros com a comunidade e anunciou R$ 50 milhões para capacitações de jovens para o primeiro emprego.

O socialista elegeu a educação como forma de diminuir a violência e apregoou a construção de cem escolas para a educação infantil.

Em relação à Região Metropolitana, Lacerda vislumbrou a integração das cidades do entorno de Belo Horizonte e disse ser o planejamento integrado entre os municípios a solução para o desenvolvimento econômico da região. Quintão garantiu ter a capital mineira vocação para o comércio e prestação de serviços e disse que irá reavaliar o IPTU (Imposto Predial e Territorial Urbano) para "torná-lo mais justo".

Na área da saúde, R$ 70 milhões foram anunciados pelo peemedebista para a contratação de profissionais para os postos de saúde, caso seja eleito. Por sua vez, Lacerda defendeu a ampliação de convênios com os governos estadual e federal, além de prometer a construção de hospital no bairro Barreiro, um dos mais populosos da cidade, e onde o adversário o suplantou em votos no primeiro turno.

Quintão assegurou a volta do boletim escolar, com avaliação dos alunos, e prometeu a contratação de professores e pedagogos. Por seu turno, o socialista disse ter sido avisado pela Secretaria de Educação Municipal que haverá "provão" no fim do ano nas escolas, como forma de avaliar a educação ofertada aos alunos do ensino público. Em resposta, o peemedebista criticou a avaliação anunciada pelo oponente e disse já existir o programa de avaliação do governo federal.

Ainda sobre a educação, o meio-passe foi prometido por Lacerda para estudantes de baixa renda e, aos domingos, para as suas famílias. Já Quintão, definiu que irá conceder o benefício conjuntamente com entidades estudantis para listarem nomes de estudantes para quem o benefício será dado.

Para gerar empregos, o socialista garantiu deter experiência para detectar as necessidades das empresas e, assim, capacitar a mão-de-obra em razão da demanda. O peemedebista relembrou que como deputado federal conseguiu R$ 3,8 milhões para qualificar jovens na busca do primeiro emprego por meio de convênio com entidade.

Quintão anunciou que irá cobrar da Petrobras o "diesel metropolitano", que segundo ele, "é menos poluente que o diesel tradicional, porém, sem especificar como seria fabricado o combustível.

Com promessas para dinamizar o transporte, diminuir a burocratização dos serviços da prefeitura, os dois finalizaram os blocos.

Nas considerações finais, Quintão disse ser possuidor de uma "campanha simples" e tentou evidenciar a própria experiência política adquirida pelos cargos de vereador, deputado estadual e, atualmente, federal. Apesar de garantir não ter tido "a ajuda dos dois palácios", declarou ser o governador Aécio Neves (PSDB) "amigo, ele é boa gente".

Lacerda, por sua vez, disse estar muito bem preparado e credenciado para fazer uma "bela gestão na Prefeitura de Belo Horizonte".

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