Ao ser reeleito para a Prefeitura de Curitiba no primeiro turno com uma votação histórica, o tucano Carlos Alberto Richa, o Beto Richa, 43 anos, garante o legado do grupo do ex-prefeito e ex-governador Jaime Lerner à frente da administração da capital paranaense em um ciclo que, no fim de 2012, completará 23 anos.

Desde que foi eleito prefeito em 1988 via eleição direta, Lerner fez o sucessor e contribuiu decisivamente para que o seu círculo de poder fosse preservado na capital do Paraná.

Mesmo em exílio voluntário no Rio de Janeiro desde 2003, quando transferiu seu domícilio eleitoral e deixou o PFL (atual DEM) para se filiar ao PSB, Lerner deixou atrás de si a estrutura do lernismo com o qual preservou-se como referência de gestão administrativa dentro e fora da capital, no Brasil e além dele.

Richa é a melhor tradução dessa escola. Político discreto e habilidoso, o tucano elegeu-se deputado estadual em 1994, seguindo os passos do pai, o ex-governador José Richa (falecido há cinco anos), um dos fundadores do PSDB e ícone do movimento das Diretas Já em 1984, ao lado de personalidades como Ulysses Guimarães, Fernando Henrique Cardoso e do próprio presidente Lula.

Reeleito em 1998 para a Assembléia Legislativa, Richa iniciou ascensão que, em uma década, o tornaria, vice-prefeito de Curitiba (2001-2004), secretário municipal de Obras (2001-2003), candidato ao governo do Paraná (2002) e, finalmente, prefeito eleito e reeleito de Curitiba.

Há quatro anos, o tucano era considerado a terceira via na disputa pela Prefeitura de Curitiba. À frente dele estavam Ângelo Vanhoni, que encabeçava a poderosa aliança formada por PT e PMDB, ungida com o apoio do governador Roberto Requião, e Rubens Bueno, do PPS, que então firmava-se com o slogan do "voto limpo".

Órfão do apoio do então prefeito Cassio Taniguchi, com o qual rompera depois de baixar a tarifa de ônibus urbano durante período de três dias em que assumiu a prefeitura, Richa livrava-se assim, sem traumas, do recente desgaste sofrido pelo então prefeito, envolvido na primeira denúncia documentada da existência de caixa dois em campanhas eleitorais. Para muitos, uma estratégia orquestrada pelo grupo lernista para livrar o tucano da pecha de "cúmplice" no esquema.

Eleito em 2004, depois de vencer o primeiro turno com 35,06% dos votos válidos e bater Ângelo Vanhoni no segundo turno por uma diferença de nove pontos percentuais (54,7% a 45,2%), Richa resgatou o "Chapéu Pensador" da Era Lerner - nome dado à sede da Secretaria do Municipal do Meio Ambiente, erguida com toras de madeira e rodeada de janelas de vidro, onde o ex-prefeito pensava a cidade - e tratou de tornar-se um fazedor de obras.

A aprovação da administração do tucano, que ultrapassa a marca de 80% segundo os institutos de pesquisa, no entanto, é creditada menos à argamassa das construções e mais às cerca de 240 audiências públicas realizadas ao longo de quatro anos nos bairros de Curitiba e ao serviço de atendimento instalado no ICI (Instituto Curitiba de Informática), com capacidade para traçar o perfil da população em minúcias nas várias regiões da capital e elencar os seus problemas.

Desde junho, quando anunciou sua intenção de disputar novamente a Prefeitura de Curitiba, todas as pesquisas de intenção de voto mantiveram Beto Richa em confortável liderança que excedeu os 70 pontos percentuais. Em contraposição, os adversários juntos não alcançaram 20%.

Às vésperas das eleições, a oposição, tendo à frente a petista Gleisi Hoffmann, ainda apelou aos eleitores a fim de que prorrogassem a decisão para o segundo turno e estendessem o debate. Em vão.

O índice de aprovação da administração de Richa ultrapassou fronteiras e provocou uma corrida da cúpula tucana a Curitiba. Nas últimas semanas desembarcaram em Curitiba os governadores de São Paulo e Minas Gerais, José Serra e Aécio Neves, principais pré-candidatos do partido à presidência da República, e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Com a vitória expressiva, Richa cacifa o seu nome para disputar o governo do Estado em 2010, no que repetiria a breve passagem de 15 meses de Serra pela prefeitura paulista, além de tornar-se a principal referência política do tucanato na região sul do país.

Em entrevista ao UOL, ainda no início da campanha, Richa foi indagado se repetiria gesto de Serra em 2004 e, mais recentemente, de Geraldo Alckmin, registrando em cartório o compromisso de permanecer na prefeitura durante os quatro anos de mandato. "Eu não preciso assinar um termo. Vou cumprir". Não é o que se afirma, no entanto, nos bastidores.

Prevendo a vitória expressiva do tucano, o senador Osmar Dias (PDT), principal aliado de Richa nesta eleição, declarou durante a semana que sua candidatura ao governo era "irreversível". Foi uma mensagem velada ao vaidoso tucano que, longe da campanha, não abre mão da rotina de exercícios diários na academia e a prática de esportes como ciclismo, tênis, natação e pilotagem na classe Turismo.