Operação Lava Jato

Empresário diz ter sido pago por ex-assessor de Lula por obras em sítio

Bernardo Barbosa*

Do UOL, em São Paulo

  • Luis Moura - 24.mai.2017/WPP

    Vista aérea do sítio atribuído pelo MPF ao ex-presidente Lula

    Vista aérea do sítio atribuído pelo MPF ao ex-presidente Lula

O empresário Carlos Rodrigues do Prado, que afirma ter feito obras em um sítio de Atibaia (SP) atribuído pelo MPF (Ministério Público Federal) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), disse nesta segunda-feira (19) à Justiça que recebeu pagamentos de um ex-assessor do petista pelos serviços executados no imóvel.

Prado é sócio da construtora Rodrigues do Prado, que prestava serviços à Odebrecht em obras no Estado de São Paulo. Ele foi convocado como testemunha de acusação pelo MPF do Paraná e ouvido pelo juiz Sergio Moro, da Justiça Federal em Curitiba.

O empresário disse ter sido chamado no fim de 2010 por Frederico Barbosa, ex-engenheiro da Odebrecht, para executar parte das obras no sítio. Segundo Prado, Barbosa pediu uma "ajuda" na obra, que era "muito importante" e tinha que ser concluída em 30 dias.

Segundo Prado, os pagamentos pelos serviços prestados em Atibaia -- um total de R$ 163 mil, disse ele -- foram feitos semanalmente em espécie por Rogério Aurélio Pimentel, então assessor da Presidência da República.

De acordo com o empresário, ele se encontrava sozinho com Pimentel em um posto de gasolina para receber o dinheiro, entregue em envelopes. Na versão de Prado, o orçamento da obra também foi acertado com o ex-assessor. 

"Eu não sabia nem o nome dele. Depois que eu fiquei sabendo que o Aurélio era uma pessoa que negociava ou acertava os negócios da obra", disse.

No dia 7, em depoimento a Moro, o engenheiro Frederico Barbosa disse que Pimentel tinha total poder de decisão sobre as obras no sítio.

Em depoimento ao MPF em 2016, o ex-assessor disse ter recebido dinheiro de Barbosa para pagar as despesas das obras realizadas no sítio, mas declarou não se lembrar da prestação de serviços feita pela empresa de Prado.

Para o advogado de Pimentel, João Vicente Augusto Neves, os depoimentos de Prado e Barbosa têm contradições.

"Ele [Prado] não diz ao certo quantas vezes esteve na obra, depois não diz ao certo onde encontrou com o Rogério. Ele alega ter encontrado com o Rogério quatro vezes para receber. O Rogério nega isso, que nunca encontrou com ele para fazer nem um tipo de pagamento. Ele se confunde na hora de descrever o Rogério. Ele não descreve fisicamente como era essa pessoa que se encontrou com ele para entregar quatro envelopes com uma quantia considerável de dinheiro. O Rogério nega que tenha encontra com ele para fazer qualquer repasse", disse Neves.

Os advogados do ex-presidente dizem que "não existe qualquer elemento mínimo que permita cogitar que Lula praticou qualquer dos crimes indicados". Eles também negam que o sítio seja do petista.

Nota fiscal

Prado também disse que Emyr Diniz, ex-diretor da Odebrecht e chefe de Frederico Barbosa, pediu que a Rodrigues do Prado emitisse uma nota fiscal no valor da obra e em nome do empresário Fernando Bittar, formalmente um dos donos do sítio de Atibaia e sócio de um dos filhos de Lula. Bittar também é filho de Jacó Bittar, ex-prefeito de Campinas.

Segundo delatores da Odebrecht, com o fim de ocultar a titularidade do imóvel, o advogado Roberto Teixeira, amigo do petista, teria pedido à empreiteira para que as notas fiscais das obras fossem emitidas contra Fernando Bittar.

O empresário afirmou que nunca soube de quem era o sítio, nem quem era Fernando Bittar, mas declarou que havia funcionários da Odebrecht trabalhando em obras no local.

Prado negou ter ouvido em algum momento que as obras no sítio de Atibaia teriam relação com contratos da Odebrecht com a Petrobras. Segundo a acusação feita pelo MPF, as construtoras Odebrecht, OAS e Schahin gastaram pouco mais de R$ 1 milhão em reformas no imóvel. A vantagem indevida seria uma contrapartida a benefícios em contratos com a Petrobras.

Em nota, o advogado Cristiano Zanin Martins, que defende Lula, apontou que Prado disse não ter conhecimento "de qualquer relação entre contratos da Petrobras e a reforma que disse ter realizado no sítio de Atibaia, que é a real acusação feita pelo Ministério Público contra o ex-Presidente Lula."

"A testemunha também não fez referência a qualquer atuação de Lula em relação a essa reforma, que, se realizada, foi incorporada à propriedade de bem imóvel que pertence à família Bittar", afirmou Zanin.

Para o advogado, o depoimento de Prado "reforça a improcedência da acusação feita contra Lula e o 'lawfare' praticado contra o ex-presidente, que consiste no mau uso e no abuso das leis e dos procedimentos jurídicos para fins de perseguição política".

Além de Lula, Pimentel, Diniz e Bittar, o processo tem mais nove réus, entre eles os ex-presidentes da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, e da OAS, Léo Pinheiro.

*Com Estadão Conteúdo

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