07/10/2010 - 12h00

Aliados nos Estados serão decisivos no segundo turno, dizem analistas

Andréia Martins
Do UOL Eleições
Em São Paulo
  • Dilma e Serra começam a escalar seus times para a segunda fase da corrida presidencial

    Dilma e Serra começam a escalar seus times para a segunda fase da corrida presidencial

Os aliados de Dilma Rousseff (PT) e de José Serra (PSDB) nos Estados, especialmente os governadores eleitos, já estão sendo convocados para engrossar a campanha presidencial do segundo turno.

Nas próximas quatro semanas, novas estratégias e discursos serão adotados para o tudo ou nada da eleição presidencial. Estão em jogo a confirmação dos votos recebidos no primeiro turno, os 33,5 milhões de eleitores que não foram às urnas ou votaram em branco ou nulo e o resgate do voto dos eleitores do PV e da sua principal liderança, a senadora Marina Silva.

Enquanto a linha de frente de Dilma conta com os governadores eleitos Sérgio Cabral, do PMDB do Rio (veja o desempenho dos presidenciáveis no Rio de Janeiro), Tarso Genro, do PT do Rio Grande do Sul, Eduardo Campos, do PSB de Pernambuco, e Jaques Wagner, do PT da Bahia, a de Serra traz nomes como o dos tucanos Geraldo Alckmin, eleito em São Paulo, Beto Richa, eleito no Paraná e Antonio Anastasia, sucessor de Aécio Neves no governo mineiro.

Para especialistas ouvidos pelo UOL Eleições, os aliados de Dilma devem se empenhar em tentar aumentar a votação especialmente em Estados do Nordeste, onde ela ainda pode crescer mais. Já do lado tucano, a principal missão dos aliados é aparecer na campanha de Serra, sendo que Aécio Neves será o principal ator político entre os tucanos desse segundo turno.

Na mobilização dos aliados, Dilma saiu na frente convocando governadores eleitos e líderes para uma reunião em Brasília, na noite de segunda-feira (4). Já o PSDB reuniu as lideranças nesta quarta-feira (6), também em Brasília.

Para o cientista político Ricardo Ismael, da PUC-RJ, a convocação por parte de Dilma serviu para ela dar um recado aos governadores eleitos e às demais lideranças: “conquistem os votos de Marina nesses Estados”.

Como Marina Silva indica que pode permanecer neutra no segundo turno, Ismael diz que os governadores eleitos “já devem se empenhar em se aproximar do eleitorado da verde”. “No curto tempo do segundo turno, Dilma não poderá percorrer tantos Estados, essa missão caberá a eles [eleitos]”, diz ele.

Fábio Wanderley Reis, cientista político da UFMG, diz que a grande missão desses aliados é “descobrir como se atrai esse eleitorado, que se mostrou tão diverso”. Sobre o posicionamento de Marina, Reis acha difícil que a senadora opte pela neutralidade.

“Acho difícil ela dizer que não tem nada a ver com isso agora. Isso não é a atitude que se espera de uma líder, que se lançou de forma tão bonita e obteve uma votação tão expressiva. E apesar das divergências, o [partido] que mais se aproxima da sua bandeira ainda é o PT”, diz Reis.

Do lado tucano, o deputado federal do PV do Rio, Fernando Gabeira, já sinalizou apoio a Serra por considerá-lo "o melhor candidato”. Gabeira disse ter certa autonomia no partido e que, por isso, seu apoio não significa que o tucano contará também com o PV ou com Marina.

Tião Viana (PT), governador eleito no Acre, é tido como um dos principais canais entre o PT e Marina. Além de serem do mesmo Estado, ele recebeu o apoio da verde durante toda a sua campanha.

  • Eleitos em Minas, Anastasia, Aécio e Itamar são peças-chave para a campanha de José Serra

Minas pode decidir a eleição

Em Minas Gerais, a eleição tripla no último domingo (Antonio Anastasia, do PSDB, para o governo do Estado e Aécio Neves, do PSDB, e o aliado Itamar Franco, PPS, para o Senado) dá novo fôlego a Serra no Estado. Os três serão peças-chave na tentativa de reverter a vantagem de Dilma, que obteve 46% dos votos, contra 30,9% de Serra no Estado.

Aécio já disse que está “à disposição de Serra para trabalhar na campanha” e que o momento agora é de “reorganizar forças políticas”. Seu sucessor, Anastasia, também declarou que a prioridade agora é “ajudar Serra”.

Para Ismael, o empenho dos dois tucanos será muito maior neste segundo turno, já que “podem assumir a campanha tranquilos, sem medo de que o apoio a Serra interfira nas suas”.

“Dilma está numa situação muito difícil em Minas, e Minas pode decidir a eleição de 2010”, diz Ismael. Para ele, hoje, o prestígio de Aécio e Itamar combinado com o de Anastasia, é superior ao dos petistas Fernando Pimentel e Patrus Ananias, e Hélio Costa (PMDB), todos derrotados no último domingo.

“Se Serra entrar em acordo com o PSDB de Minas e o de São Paulo, e sinalizar que vai batalhar pelo mandato de cinco anos sem direito a reeleição, Aécio compra a briga e Minas inteira vota no Serra. Tudo depende de uma negociação política”, diz o cientista político.

Para Fábio Reis, o papel de Aécio como o principal ator político do lado tucano neste segundo turno, o coloca numa situação de ambiguidade.

“Empenhar-se na campanha de Serra significa deixar de lado a disputa presidencial nos próximos oito anos, o que está nos planos dele. Ser líder da oposição em um governo Dilma seria muito melhor para ele do que no governo de Serra. Mas é claro que ele não é movido apenas pelas aspirações pessoais”, diz Reis. Para ele, após as eleições, Aécio terá assumido o cargo de maior liderança do partido.

Votos nos Estados

Vitoriosa em 18 Estados, Dilma agora deve recrutar outros nomes para tentar alterar o cenário nos locais onde perdeu (MT, MS, RR, RO, SP, PR, SC e AC), e onde o PT elegeu apenas um governador e dois da base aliada.

Entre esses nomes, estão Tião Viana, eleito governador pelo PT do Acre, e Silval Barbosa, do PMDB do Mato Grosso, que recebeu apoio incondicional de Dilma durante a sua campanha e já garantiu que vai se dedicar à campanha da petista em seu Estado mas "sem assumir cargo de coordenação" na região. No Sul, onde o PSDB elegeu Beto Richa, no Paraná, e o aliado Raimundo Colombo, do DEM, em Santa Catarina, Tarso deve ser chave para tentar alavancar a popularidade de Dilma na região.

  • Eleito com mais de 80% dos votos, Eduardo Campos (PSB-PE) tentará aumentar vantagem da petista no NE

Pegando carona na popularidade do presidente Lula no Nordeste, Dilma venceu em todos os Estados. Reverter esse cenário será um dos pontos mais complicados para Serra. Na região, ele conta com Rosalba Ciarlini eleita governadora do Rio Grande do Norte pelo DEM, e Silvio Mendes (PSB), que disputa o segundo turno no Piauí.

Já o tucano Teotônio Vilela, que vai disputar o segundo turno, em Alagoas, ainda é apoio incerto. Ao comentar sua participação na campanha de Serra, nesta segunda-feira (4), o atual governador desconversou. “O presidente [Lula] é meu amigo pessoal e me respeita muito. Alagoas vai tratar de Alagoas. A eleição para presidente é outra coisa”, disse.

Ismael destaca que Dilma contará, entre outros, com dois grandes puxadores de voto na região: Jaques Wagner (PT), governador reeleito da Bahia, e Eduardo Campos (PSB), também reeleito para comandar Pernambuco. “São peças-chave porque têm a máquina do governo na mão e pela força política”, comenta o cientista.

Além deles, Ciro Gomes (PSB), escolhido para fazer parte da coordenação da campanha da petista, entra como cabo eleitoral de Dilma, ao lado de seu irmão, Cid Gomes (PSB), reeleito governador do Ceará.

No Rio, com o apoio de Gabeira ao tucano e as investidas de Anthony Garotinho (PP), o deputado estadual mais votado no Estado, com 694.862 votos, contra Dilma, o cenário seria de disputa. “Apesar da popularidade, Cabral não tem como garantir que Dilma vencerá como no primeiro turno. Gabeira vem se manifestando pró-Serra, e Garotinho mostra que não tem a intenção de fazer campanha para a petista”, diz Ismael.

Em São Paulo, com atuação de Geraldo Alckmin, a votação de Serra tende a crescer na opinião do cientista. Por outro lado, Dilma contará com Marta Suplicy (PT), senadora eleita, e que afirmou nesta quarta-feira (6) que o PT terá que "suar a camisa" para conquistas os votos perdidos.

Outra figura importante no Estado, que pode reaproximar Dilma do eleitorado religioso, depois da polêmica em torno das declarações da petista sobre o aborto, é o deputado eleito Gabriel Chalita. “Existe uma grande preocupação por parte de algumas lideranças religiosas com relação a esse tema. Será uma outra ação, e outras figuras entram em jogo, como o Chalita". Candidato a deputado federal pelo PSB-SP, Chalita recebeu 560.022 votos em São Paulo e já declarou apoio a Dilma.

Ainda com relação ao aborto, o cientista alerta que "não basta eles [aliados] chegarem [aos eleitores]". "Talvez nesse caso seja preciso que Dilma apareça, escreva uma carta aos brasileiros e mostre sua opinião”.

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