Lula em São Borja é "revisão" do PT sobre Getúlio, diz filho de Jango
Bernardo Barbosa
Do UOL, em São Paulo
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Juliana Santos - 19.mar.2018/Divulgação/Câmara de João Pessoa
João Vicente Goulart (PPL) em evento na Câmara Municipal de João Pessoa
Nesta quarta-feira (21), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) visitará São Borja (RS), terra dos ex-presidentes Getúlio Vargas e João Goulart. Filho deste último, João Vicente Goulart disse ao UOL que considera a passagem do petista pela cidade como uma "revisão histórica" do PT sobre o trabalhismo dos dois líderes gaúchos.
"Hoje nós temos uma eleição em que vai se discutir a perda dos direitos trabalhistas", disse Goulart, pré-candidato a presidente pelo PPL (Partido Pátria Livre), em entrevista concedida na sexta-feira (16). "O PT acusava Getúlio, eu acho muito interessante que o PT esteja fazendo essa revisão histórica."
Para Goulart, que foi deputado estadual pelo PDT nos anos 80, Getúlio e Jango "construíram os verdadeiros direitos dos trabalhadores brasileiros."
Antes de ser derrubado pelo golpe militar de 1964, Jango foi ministro do Trabalho de Getúlio. Propôs um aumento de 100% do salário mínimo que provocou uma crise política no começo de 1954 e levou à sua saída do cargo. Meses depois, no Dia do Trabalhador daquele ano, Getúlio decretou o reajuste.
Antes, em 1943, Getúlio assinou a CLT (Consolidação das Leis Trabalhistas), que estabeleceu direitos como o salário mínimo, férias e jornada de trabalho de oito horas, mas também impôs severo controle estatal sobre os sindicatos.
Da crítica ao elogio
Os elogios públicos de Lula a Getúlio passaram a ser recorrentes nos últimos anos. O petista inclusive sancionou, em 2010, a lei que inclui o nome de Getúlio Vargas no Livro de Heróis da Pátria. Mas nem sempre foi assim, como o próprio Lula reconhece.
No recém-publicado "A verdade vencerá: o povo sabe porque me condenam" (Editora Boitempo), Lula conta que começou sua vida política criticando Getúlio, "porque a estrutura sindical no Brasil é fascista mesmo" --segundo alguns historiadores, inspirada em leis da ditadura fascista de Benito Mussolini na Itália.
"Mas imagine hoje, comece a ler a CLT, e você vai perceber o que ela significou para o empresariado paulista, que achava que férias eram um luxo, que o ócio levava o homem a beber, então não podia ter férias", diz Lula no livro, que reúne três entrevistas inéditas concedidas por ele em fevereiro.
O ex-presidente afirma ainda que continua sendo crítico à estrutura sindical brasileira, mas acha que Getúlio "teve um papel no século 20 que poucos chefes de Estado tiveram."
Lula e o PT defendem a realização de um referendo revogatório das alterações feitas na CLT pela reforma trabalhista do governo de Michel Temer (MDB).
"Perseguição"
Os comentários de Lula são parte da resposta a uma pergunta sobre se via identificação da "perseguição que está sofrendo" com a de Getúlio --que, acossado por uma grave crise política, cometeu suicídio enquanto era presidente, em agosto de 1954. Antes de falar das leis trabalhistas, Lula disse que a "perseguição" tem similaridade "no tema da ascensão social das pessoas".
João Vicente Goulart, por sua vez, afirma não ver "claramente uma perseguição a Lula".
Segundo ele, o caso do petista pode até ser discutido juridicamente, "mas não existe uma renúncia de alto risco" como nos casos de Getúlio e Jango.
A visita de Lula a São Borja faz parte da caravana do ex-presidente pelo Sul, iniciada na última segunda-feira (19). O tour por cidades de Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná acontece sob a possibilidade de Lula ser preso após ser julgado seu último recurso na segunda instância. Em janeiro, ele foi condenado pelo TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região) a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo caso do tríplex do Guarujá (SP).
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