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Entenda como o Google pode influenciar o voto dos eleitores indecisos

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

  • Pablo Raphael/UOL

    Pesquisar na internet é uma das formas de decidir em quem votar na última hora

    Pesquisar na internet é uma das formas de decidir em quem votar na última hora

Às vésperas do primeiro turno das eleições municipais, 4% dos entrevistados pelo Datafolha na pesquisa divulgada na última quarta-feira (28) disseram que não sabem em quem votar para prefeito em São Paulo neste domingo (2). Além desses, outros 34% dos eleitores declararam voto para um candidato, mas admitiram que ainda podem mudar de decisão. É nessa soma de público indeciso que os postulantes ao cargo estão de olho. E eles podem contar com uma ajuda preciosa: as buscas na internet.

Para o professor de filosofia política Aldo Fornazieri, o montante de eleitores indecisos pode ser até maior. "Acredito que os institutos de pesquisa não captam inteiramente o número de indecisos, o processo de decisão em uma eleição como essa é muito movediço". O docente cita a eleição municipal de 2012 em na capital paulista como exemplo. "Praticamente, só se verificou que Fernando Haddad [PT] passaria para o segundo turno no sábado, véspera da eleição. Nos últimos dias há uma movimentação de votos que é muito difícil de ser captada".

Quem é esse candidato?

Entre propagandas, correntes no WhatsApp e indicações de parentes e amigos, a decisão final por um candidato muita vezes passa pela pesquisa sobre suas propostas, seu passado político, polêmicas ou simplesmente pelo seu nome, já que muitos eleitores sequer conhecem determinados políticos.

Em 2012, as buscas pelo nome de Fernando Haddad no Google dispararam justamente no dia da votação do segundo turno, 28 de outubro, ao qual ele passou de maneira surpreendente. Embora o buscador não informe os números concretos de pesquisa, podem-se observar as tendências de busca por meio de uma ferramenta do próprio site, o Google Trends, que mostra números relativos de pesquisa.

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Pesquisa sobre Fernando Haddad no Google se intensificou no dia 28 de outubro de 2012, data da votação do segundo turno das eleições.

Em 2016, não é diferente. Líder das pesquisas iniciais de intenção de voto, Celso Russomano (PRB) era justamente o candidato mais buscado no Google na semana passada, quando ainda tinha maior número de votos segundo dados de Datafolha e Ibope. A ultrapassagem de João Doria (PSDB) nas pesquisas também impulsionou as buscas sobre o empresário, que se acentuaram nesta semana. Já os números de Marta e Haddad têm evoluções parecidas, com o petista ligeiramente à frente da candidata do PMDB nas buscas do Google.

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Ao observar as tendências de busca dos usuários na ferramenta Google Trends, nota-se que a pesquisa sobre João Doria Júnior foi bem maior nos últimos dias do que a busca pelos outros candidatos. Vale notar, o candidato do PSDB é menos conhecido do eleitor paulistano do que os principais concorrentes. Segundo a última pesquisa do Datafolha, 80% dos entrevistados sabiam quem era o empresário, ou seja, 20% não conheciam o primeiro colocado da pesquisa.

O Google sabe tudo. Ou quase

Mas será que dá para confiar na maior ferramenta de busca da internet? Para responder essa pergunta, é preciso entender como o Google funciona.

Quando se faz uma busca no Google, o serviço pesquisa o índice de páginas correspondentes ao termo procurado e mostra os resultados que acredita serem mais relevantes. Segundo o buscador, a relevância é determinada por mais de 200 fatores, entre eles o "PageRank", uma classificação baseada em quantas vezes aquela página é citada em outros lugares. Ou seja, se uma informação é citada e repetida muitas vezes, ganha destaque na busca - mesmo se não for verdadeira ou correta.

"Se uma notícia falsa sobre um candidato for referenciada por muita gente, pode ser que o Google a coloque como algo importante", explica Flávio Cabral Filho, especialista em SEO (sigla em inglês para "Otimização de Motor de Busca"). "Mas mesmo que apareça nas sugestões da busca, dificilmente vai ultrapassar uma notícia verdadeira".

Por outro lado, o Google só remove resultados de busca se envolvem questões como quebra de direitos autorais, entre outras. "Só porque as notícias sobre um candidato são negativas, não é motivo para apagarem". Segundo Flávio, as estratégias mais comuns usada pelos políticos envolvem soltar novas informações que contradigam as anteriores. "Se um candidato é acusado de ter sofrido um processo, por exemplo, ele pode divulgar que o processo já aconteceu e ele foi inocentado".

"Essa nova notícia vai se espalhar e ganhar destaque nos resultados de busca. Assim, as notícias negativas podem perder destaque e ir para a segunda página da busca". Nos últimos dois dias, o UOL procurou o Google para saber mais sobre como o mecanismo de busca determina a relevância das informações divulgadas sobre os candidatos, mas até a publicação desta reportagem, não obteve resposta.

A busca por informações pode ser por notícias boas ou ruins envolvendo os candidatos, antecedentes e até mesmo trivialidades: "Doria foi demitido por Roberto Justus?" é uma das questões mais buscadas na plataforma, ainda referente ao ano em que o candidato do PSDB apresentou o programa O Aprendiz, na TV Record, antes ancorado por Justus.

No caso de Marta, curiosamente as buscas mais comuns são sobre seu parentesco, especialmente se ela tem alguma ligação com seu vice, Andrea Matarazzo. As pesquisas no Google sobre Russomanno estão relacionadas à religião e se ele 'é honesto'. Haddad, por sua vez, é qualificado como 'o pior prefeito do Brasil' e há questionamentos sobre qual é o seu partido.

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A busca pelo nome dos candidatos mostra sugestões baseadas nas pesquisas mais frequentes - e é influenciada pela navegação do usuário na internet

Em política, pesquisa não é tudo

Para o professor de Filosofia Política Aldo Fornazieri, a busca de informações sobre os candidatos tem impacto na escolha de quem não se decidiu ainda, mas não é o único fator determinante. "A pesquisa sobre os dados biográficos do candidato interfere no resultado final, tem influência, mesmo não sendo o fator decisivo".

O professor aponta que a eleição deste ano em SP foi curta e não houve uma clara polarização entre dois candidatos. Para Aldo, a falta de popularidade do prefeito faz com que a eleição em 2016 seja como uma disputa sem um candidato a reeleição.

Como João Doria é o candidato do PSDB, partido do governador Geraldo Alckmin, e Haddad é o atual prefeito da capital paulista, os dois candidatos contam com alguma vantagem em relação aos concorrentes. "A máquina pública tem peso na eleição".

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