Coligação grande garante vitória na eleição? Em São Paulo, não é bem assim

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

  • 24.jul.2016 - Renato S. Cerqueira/Futura Press/Folhapress

    Padrinho político do empresário João Doria Jr. (esq.), o governador Geraldo Alckmin teve a maior coligação na eleição de 2000 para a Prefeitura de São Paulo

    Padrinho político do empresário João Doria Jr. (esq.), o governador Geraldo Alckmin teve a maior coligação na eleição de 2000 para a Prefeitura de São Paulo

A eleição de 2016 para a Prefeitura de São Paulo já está marcada pelo fato de uma única candidatura concentrar um terço dos 35 partidos que existem no país. A coligação em torno do empresário tucano João Doria Jr. tem 13 legendas: PSDB, PSB, Democratas, PPS, PV, PP, PHS, PMB, PRP, PTdoB, PTN, PTC e PSL. Até então, o recorde pertencia a Aloysio Nunes Ferreira, candidato do PMDB em 1992 (e hoje no PSDB). Sua coligação tinha oito partidos.

Coincidentemente, ambos são os nomes que tiveram apoio de governadores paulistas. Em 1992, o Estado era administrado por Luiz Antônio Fleury Filho, do PMDB. Hoje, o comando é de Geraldo Alckmin, do PSDB.

Porém, ter a maior coligação não é garantia de vitória, mas ajuda a garantir mais tempo de exposição no horário eleitoral fixo no rádio e na televisão. Doria, por exemplo, obteve 31% do tempo de propaganda, contra 26% do prefeito e candidato a reeleição, Fernando Haddad (PT), 20% de Marta Suplicy (PMDB) e 12% de Celso Russomanno (PRB), líder nas mais recentes pesquisas de intenção de voto.

Uma coligação grande, em tese, também pode garantir ao candidato eleito uma maioria na Câmara para apoiar seus projetos. Nas últimas oito eleições realizadas, apenas em duas a candidatura vencedora possuía o maior número de partidos aliados --com uma ressalva: em ambas, essa condição era dividida com outro postulante.

A primeira vez em que isso aconteceu foi em 1985. As coligações de Jânio Quadros e Fernando Henrique Cardoso tinham três partidos cada uma.

8.out.1985 - Jorge Araujo/Folhapress
FHC teve o apoio do cantor e compositor Chico Buarque na eleição de 1985

Além de seu PTB, Jânio contou com o apoio de PFL e PDS. Já o então peemedebista FHC tinha a seu lado o PCB e o PCdoB. Nas urnas, o vitorioso, em turno único, foi Jânio, com 1.572.454 votos. Cardoso teve 1.431.300.

Na eleição de 2008, um empate no tamanho das coligações aconteceu de novo, mas o número de partidos envolvidos foi maior. Tanto Gilberto Kassab (então no Democratas) quanto Marta Suplicy (então no PT) estavam coligados a seis legendas cada um.

Kassab foi apoiado por PMDB, PR, PV, PSC e PRP. Sua adversária teve como aliados o PRB, o PTN, o PSB, o PDT e o PCdoB. Após protagonizarem uma disputa acirrada no primeiro turno (2.140.423 votos para o candidato do Democratas contra 2.088.329 à petista), Kassab levou o segundo turno com 3,7 milhões de votos, cerca de 1,5 milhão a mais do que Marta conseguiu.

As três maiores coligações desde 1985

  1. João Doria Jr., PSDB, 2016: 13 partidos
  2. Aloysio Nunes Ferreira, PMDB, 1992: 8 partidos
  3. Marta Suplicy, PT, 2004: 7 partidos

 

Padrinho derrotado

Nas outras seis eleições, os donos das maiores coligações saíram derrotados. Em 2000, essa era a condição do padrinho político de Doria: o então vice-governador paulista, o tucano Geraldo Alckmin.

Além do PSDB, sua aliança tinha PTB, PV, PSD e PRP. Mesmo assim, Alckmin nem chegou ao segundo turno, que teve a petista Marta Suplicy e seus três parceiros (PCdoB, PCB e PHS) como vitoriosa contra Paulo Maluf (PPB), que disputou o pleito só com o apoio de seu partido.

Em 2004, Marta tentou a reeleição usando uma coligação com sete partidos: PT, PTB, PSL, PL, PRTB, PCdoB e PTN. Ela foi ao segundo turno, mas perdeu para o tucano José Serra, aliado "apenas" a PFL e PPS.

Anos antes, em 1988, Serra e Maluf (então no PDS) tinham o apoio de outros quatro partidos cada um. O tucano contava com PTR, PSC, PCN e PV. Já Maluf, com PNA, PRP, PPB e PJ. A vencedora, em turno único, foi a petista Luiza Erundina, aliada a PCB e PCdoB.

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Antigo recorde

Quatro anos depois, Maluf não teve uma coligação tão grande, tendo sido apoiado por PTB e PL. Mesmo assim, ele deixou para trás o candidato do PMDB, Aloysio Nunes Ferreira (com PDT, PSD, PPS, PMN, PTdoB, PTR e PRP) no primeiro turno de 1992. Essa era, até a atual candidatura de Doria, a maior coligação em uma eleição para a Prefeitura de São Paulo.

1992 - Pisco del Gaiso/Folhapress
Foto de 1992 mostra Aloysio Nunes Ferreira entre Luiz Antônio Fleury Filho, governador de São Paulo na época, e Orestes Quércia, que administrou o Estado entre 1987 e 1991

Maluf foi para a vitória, no segundo turno, contra o petista Eduardo Suplicy (que tinha PCdoB, PSB e PCB).

Sucessor de Maluf, Celso Pitta (PPB) teve o solitário apoio do PFL, uma coligação bem menor que de sua adversária, Luiza Erundina (PT), que contava com PSB, PCdoB, PCB e PMN. Pitta venceu Erundina tanto no primeiro como no segundo turno no pleito de 1996.

Na última eleição, em 2012, o líder em coligações não conseguiu se habilitar para o segundo turno. Celso Russomanno (PRB) aliou-se, para o pleito, a PTB, PTN, PHS, PRP e PTdoB. O vencedor, que disputou a etapa decisiva com José Serra (PSDB), foi o petista Fernando Haddad, que possuía uma coligação mais "modesta", com PT, PP, PSB, PCdoB.

Exposição

Para o professor de sociologia do Mackenzie Rogério Baptistini, as grandes coligações só têm como objetivo exibir as candidaturas, não o compartilhamento de ideias em comum. "No contexto em que estamos, com processo de impeachment e os Jogos Olímpicos, os candidatos ficam afastados da população e buscam maior exposição."

Essa situação, segundo a análise do acadêmico, deve-se ao fato de muitos dos 35 partidos existentes não serem "enraizados socialmente". "Essas agremiações existem para disputar verba do fundo partidário e tempo de televisão, o que acaba deteriorando o sistema político. Não estão em jogo alianças programáticas, um projeto de cidade", afirma Baptistini.

As coligações de 2016 em São Paulo

  • João Doria Jr. (PSDB): PSB, Democratas, PPS, PV, PP, PHS, PMB, PRP, PTdoB, PTN, PTC e PSL
  • Fernando Haddad (PT): PDT, PCdoB, Pros e PR
  • Celso Russomanno (PRB): PTB, PEN e PSC
  • Marta Suplicy (PMDB): PSD
  • Luiza Erundina (PSOL): PCB (sem se coligar, PPL indicará para os filiados votarem em Erundina)

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