Dilma e Aécio fazem último debate; encontro pode definir eleição?

Márcio Padrão

Do UOL, em São Paulo

  • Andre Penner/AP

    14.out.2014 - A candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff (PT), e o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) participam do debate da Band

    14.out.2014 - A candidata à reeleição, presidente Dilma Rousseff (PT), e o candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB) participam do debate da Band

A menos de 72 horas do seu fim, o segundo turno das eleições presidenciais de 2014 concluirá, na "TV Globo", nesta sexta-feira (24), o ciclo de debates entre a atual presidente e candidata à reeleição Dilma Rousseff (PT) e o candidato Aécio Neves (PSDB). O período foi marcado pela postura agressiva --em diferentes níveis-- adotadas pelos candidatos nos três debates televisivos das últimas semanas, sobretudo na Band no dia 14 de outubro, e no do UOL/SBT/Jovem Pan no dia 16 -- na Record, domingo (19), os ataques foram reduzidos e mais propostas foram discutidas. O debate na "Globo" começa às 22h10.

O debate como evento decisivo para o eleitor indeciso e a estratégia do ataque durante os encontros não são unanimidades, segundo especialistas ouvidos pelo UOL.

Para o marqueteiro político Chico Santa Rita, o eleitor normalmente não gosta dessa abordagem envolvendo trocas de acusações, chamada por ele de "pancadaria".

"Se houvesse uma terceira via ela estaria recebendo os votos dessa insatisfação. Na situação atual os dois vão ganhar e perder votos: só o resultado das urnas vão mostrar o vencedor", disse.

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Já o professor de Ética e Direito à Comunicação da UnB Eduardo Brito da Cunha associa o aumento à rejeição de Aécio aos ataques de Dilma.

"Ou seja, uma postura negativa funciona sim. Mas é uma faca de dois gumes, pois se passar de um limite muito tênue, pode pegar mal para quem está fazendo a propaganda como agressor", afirmou.

Dennis de Oliveira, professor da USP em Comunicação e Política, disse acreditar que a maior polarização da disputa foi em parte motivada pela disseminação de discursos de ódio, como na participação de Levy Fidelix em um debate no primeiro turno.

Além disso, ele afirmou que os meios de comunicação estariam focando mais nos escândalos políticos em detrimento das demandas do país, e isso estaria influenciando as posturas de Aécio e Dilma.

"Os candidatos adequam suas estratégias à agenda social, e não há como desconsiderar que boa parte desta agenda é responsabilidade da mídia", disse Oliveira.

Uma postura negativa funciona sim. Mas é uma faca de dois gumes, pois se passar de um limite muito tênue, pode pegar mal para quem está fazendo a propaganda como agressor Eduardo Brito da Cunha, professor de Ética e Direito à Comunicação da UnB
X Em geral o eleitor não gosta dessa pancadaria. Se houvesse uma terceira via ela estaria recebendo os votos dessa insatisfação Chico Santa Rita, marqueteiro político

O crítico de TV do UOL, Mauricio Stycer, afirmou que a cada eleição, os candidatos têm aumentado o número de exigências para participar destes encontros, fator que acaba reduzindo o interesse jornalístico dos debates.

"Sem mediação de fato e sem perguntas feitas com o objetivo de expor contradições, os candidatos transformaram os debates em monólogos. Por outro lado, fazer um ataque pessoal em um debate tem muito mais impacto, acredito, do que numa propaganda eleitoral por passar a impressão de ser um evento 'jornalístico', Ao elevarem o tom, Dilma e Aécio tentaram se aproveitar desta 'vantagem'", disse. 

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Influência relativa

Independente do comportamento dos presidenciáveis, os especialistas disseram que os debates eleitorais têm atualmente uma influência apenas relativa na decisão do eleitor médio em quem votar. 

"No primeiro turno, havia uma unanimidade de que Aécio ganhou votos graças a seu bom desempenho no debate na 'TV Globo' [no dia 2 de outubro]. Mas isso ocorreu só por conta do debate? Não teremos essa resposta, porque o candidato já vinha em uma crescente nas pesquisas", disse Chico Santa Rita.

Oliveira afirmou o mesmo. "Em caso de candidaturas em situação de empate, pode ser mais decisivo. Mas os candidatos já vão para o debate preparados pra consolidar posições com seus respectivos eleitores", disse.

O professor também disse que o horário e o formato dos debates tira parte de sua influência. "Como é exibido às 22h, o público é mais seletivo, e o pouco tempo na TV não permite aprofundar questões. Pretendem mais trazer impacto do que uma disputa de ideias".

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Pontos fortes e fracos 

Os estudiosos também comentaram os desempenhos individuais dos candidatos a presidente.

Segundo Oliveira, a principal arma de Dilma nos debates é seu amplo domínio sobre economia e dados do governo, mas por outro lado a linguagem muito técnica, as gagueiras e a dificuldade de completar falas no tempo exigido foram fatores que a atrapalharam.

"Ela também não tem o carisma do Lula e dentro das condições que ela tinha até que se saiu bem", disse.

Chico Santa Rita criticou o dossiê de 90 páginas que Dilma leva consigo, repleto de informações tanto de seu governo quanto dos adversários e apelidado de "Bíblia", como apontou reportagem da Folha de S. Paulo.

"Isso é um exagero. Recomendo aos meus clientes que levem um resumo de principais temas em um caderno de 20, 25 páginas. É só um lembrete."

Já Aécio, de acordo com Oliveira, apresenta nos debates uma performance que consolida, mas não amplia seu eleitorado.

"Ele fala muito para o seu eleitor, não sai muito dali, além de usar um discurso muito duro e autoritário".

Cunha notou outra falha em Aécio. "Em um dos debates, o candidato falou duas ou três vezes a palavra 'sociedade'. Normalmente os consultores recomendam não usar palavras difíceis, que afastam o eleitor médio. Pode-se trocar 'sociedade' por 'comunidade', pois sociedade remete à alta sociedade, os ricos", disse o professor da UnB.

Além dos termos pouco conhecidos, os candidatos que pretendam se destacar em debates televisivos não devem fazer frases longas demais, na opinião do professor Cunha.

"Além do conteúdo, o visual é importante para qualquer candidato que pretenda se destacar", disse.

Ele sugere o uso de maquiagem, para tirar marcas e olheiras; roupas com tecidos mais firmes ("evita-se tecido tulle ou tweed"); e ficar mais baixo que seus oponentes. "Os baixinhos procuram ficar em plataformas mais altas", disse.

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