Fortaleza do Tabocão (TO)

Partidos 'se antecipam' a eleitores e definem candidato único em cidade do Tocantins

Acordo deixa eleitores da cidade sem alternativa

Em Fortaleza do Tabocão, no Tocantins, quem não quiser Flavinho (PSD) como chefe do Executivo não tem nada a fazer. Um acordo entre partidos, baseado em pesquisas de satisfação, o deixou como a única alternativa de candidato. A opção, entretanto, parece ser bem aceita entre a maioria dos moradores entrevistados pelo UOL. Mesmo sendo candidato único, ele afirma que faz campanha de casa em casa para conquistar o eleitor.

Alexandre Santos, Ana Paula Rocha e Bárbara Therrie

Do UOL, em Fortaleza do Tabocão (TO)

Não fosse pelos discretos e escassos adesivos e cartazes em casas e carros, a campanha eleitoral passaria despercebida nas ruas da pequena Fortaleza do Tabocão (157 km de Palmas).  Nos dois dias em que a reportagem do UOL esteve na cidade, foram vistos apenas dois carros divulgando jingles de campanha. Um deles de um candidato à Câmara e outro do único candidato a prefeito da cidade: Flávio Soares Moura Filho, do PSD, o vereador Flavinho, como é popularmente conhecido no município.

O argumento dos políticos da cidade para justificar o fato de só haver um candidato ao Executivo usa como embasamento algumas pesquisas de opinião pública que teriam sido feitas na cidade. Segundo os entrevistados, em todas elas Flavinho vencia na preferência popular como o futuro prefeito. O UOL teve acesso a uma delas, feita em 2 de junho, que entrevistou 122 pessoas. Nela, Flavinho atingiu 74% da preferência.  

O mentor desta movimentação teria sido o atual prefeito, João Cirino (PR). Ele usa expressões como “amadurecimento político” e “manifestação democrática” para classificar o fenômeno do candidato único na cidade. “A disputa foi muito ferrenha neste quesito. Primeiro se disputou a indicação de prefeito, depois a indicação de vice do Flávio, chegando à conclusão de que os dois mais votados fossem candidatos a prefeito e vice. Uma ferramenta que nós temos para entender a vontade do povo é a pesquisa de opinião pública”, defende.

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  • http://eleicoes.uol.com.br/2012/enquetes/2012/09/28/voce-acha-que-a-justica-eleitoral-deveria-intervir-na-campanha-de-cidades-com-candidatos-unicos.js

O vice se tornou Marcondes Pereira (PSDB), que antes disso seria o cabeça de chapa apoiado pelo prefeito Cirino. O UOL não conseguiu confirmar se Marcondes foi de fato o segundo mais votado nas pesquisas. No levantamento ao qual a reportagem teve acesso, o nome de Marcondes não aparecia como alternativa de vice e o índice de rejeição a ele como candidato a prefeito chegou a 69%.

O presidente do diretório do PV na cidade, Sebastião Arsênio Brito Bucar, dá um relato menos amistoso sobre a forma como Flavinho se tornou candidato único. Ele diz que foi o mau desempenho de Marcondes Pereira nas pesquisas que fez com que Cirino convocasse os presidentes dos partidos para uma reunião em Palmas para propor que houvesse candidatura única composta por Flavinho e Marcondes.

De acordo com Bucar, o prefeito havia prometido ao governador do Estado do Tocantins, Siqueira Campos, que faria um sucessor na cidade. “De lá saiu decidido não pelos partidos, mas pelos coronéis da política do Tocantins. Sem a população ter conhecimento e nem os presidentes dos partidos, que tomaram conhecimento nessa reunião, de onde já saiu a decisão dos deputados, já mandados pelo atual governo [do Estado]”.

Teriam participado do encontro, ainda conforme Bucar, os deputados estaduais Freire Júnior (PMDB) e Sandoval Cardoso (PSD), que estariam representando o Governo do Estado. Consultado, o deputado Freire Júnior confirmou que participou desta reunião, mas defendeu que nela não houve nenhuma imposição sobre a candidatura única nem sobre quem seria o vice. O deputado Cardoso não retornou a ligação da reportagem.

Para o candidato a vice, a união entre ele e Flavinho trará benefícios à cidade. “Sem o governo [estadual] o prefeito jamais faz obra. E o governador é meu amigo pessoal, o filho dele é meu amigo pessoal. Junto com Flavinho, nós podemos buscar muitos recursos. Claro que ele estava à frente nas pesquisas, mas isso não me intimidou”, diz o candidato do PSDB a vice-prefeito, Marcondes Pereira.

A reportagem do UOL começou a visita por Fortaleza do Tabocão acompanhada do candidato Flavinho. As pessoas abordadas foram todas muito receptivas com ele. Nenhuma delas pareceu se importar com o fato dele ser o único candidato à prefeitura. Abordando moradores sem a companhia dele, esperava-se ouvir mais críticas à candidatura única ou a ele.

Entretanto, mesmo as pessoas que deixavam claro que não concordavam em ter só uma opção, destacavam que ele certamente seria eleito de qualquer maneira e que achavam que ele faria um bom governo. O lavrador Antônio Lopes Carvalho, 60, diz que Flavinho sempre ajudou moradores a resolverem problemas de saúde. “Ele mesmo, por conta dele, levava pessoas para hospitais em outras cidades, como Guaraí e Palmas. Ele é muito popular, nasceu e se criou aqui”, explica. Flavinho foi o vereador mais votado nas últimas eleições, com 180 votos.

Aqueles mais revoltados com a situação não concordaram em gravar entrevista. Como a cidade tem poucos habitantes (2.419 de acordo com o IBGE 2010), eles temem se indispor com o futuro prefeito e aliados futuramente. Temendo que algum cliente ouvisse a conversa, uma comerciante só conversou com a reportagem nos fundos de seu estabelecimento. Para ela, tudo não passou de uma armação política que deixou a cidade sem alternativas.

Como um dos partidos da coligação de Flavinho é o PSDB, o representante do PT na cidade foi procurado, já que os partidos costumam ser rivais em eleições. Entretanto, este representante, conhecido como Carlos Barbudo, evitou se aprofundar no assunto e diz que está afastado da política na cidade. O PT consta como partido inativo em Fortaleza do Tabocão. “Uma campanha política não é fácil. Flavinho vem tentando há muitos anos ser prefeito. Vai ser uma experiência nova, uma política econômica”, despista.

Para políticos, candidatura única evita compra de votos

“[Ter] só um candidato vai ‘evitar’ bem o custo de campanha. Evita a exploração que o eleitor tem com o candidato”, declara Flavinho para justificar sua candidatura única. Até 30 de agosto, ele declarou ao TSE ter gastado R$ 5.646,39 dos R$ 24.238,00 de receita arrecadada. A maioria dos gastos declarados é com combustível. Flavinho diz que ganhou de gráficas a impressão de alguns materiais, como santinhos e adesivos.

A linha econômica e contrária a uma suposta compra de votos se repete no depoimento de outros políticos entrevistados. “Foi bom porque não tem despesa, não tem desgaste, não tem atrito”, diz o vereador candidato à reeleição pelo PMDB, Elton da Ambulância.

“Eu sempre digo que é legalizado no processo eleitoral brasileiro a compra do apoio político. A contratação de pessoas [para trabalhar em campanhas], resumindo é isso: você compra apoio político. Todos os partidos identificaram essa preocupação já do passado não muito distante, onde se não se contratar se perde o apoio político. E nós pulamos essa etapa. Eu acredito que o eleitor de Tabocão queria Flavinho na prefeitura. E vão ter, de livre escolha deles”, diz o prefeito João Cirino.

“É desgastante ter dois candidatos. Principalmente nessas cidades do interior, se gosta muito de sugar demais os candidatos”, diz o candidato a vereador pelo PSDB, Antônio Gasolina. “Eu acho que é uma democracia, é uma união. Eu acho que todas as cidades pequenas, do porte do Tabocão, tinham que ter esse bom senso”, conclui o vereador Francisco Gonçalves de Souza (DEM), conhecido por Vaqueirinho. Ele seria o vice de Flavinho, mas abriu espaço na candidatura para Marcondes.

Diário de bordo

  • Alexandre Santos/UOL

    Saiba mais curiosidades das cidades visitadas no UOL pelo Brasil

Apenas um voto já fará de Flavinho o novo prefeito

  • Alexandre Santos/UOL

    Alguns moradores de Fortaleza do Tabocão comentaram que havia uma mobilização discreta na cidade para que quem não concordasse com a candidatura única votasse em branco ou em nulo. A expectativa era de que assim a eleição pudesse ser cancelada. Entretanto, se Flavinho tiver apenas um voto ele já será eleito. Isso acontece porque votos brancos e nulos não entram na contagem. De acordo com o TSE, outras 105 cidades brasileiras têm apenas um candidato à prefeitura. No Tocantins, Fortaleza do Tabocão é a única com este perfil.

Diretório é o “point” de todos candidatos da cidade

  • Alexandre Santos/UOL

    Para encontrar os números dos candidatos a vereador em Fortaleza do Tabocão não é preciso bater perna. Basta ir ao diretório da campanha do candidato à prefeitura, o Flavinho, na região central, e lá estarão todos. As duas únicas coligações proporcionais, “Unidos venceremos” (PP e PSDB) e “Tabocão para todos” (PMDB, DEM, PV e PSD) apóiam a majoritária (Unidos por Tabocão).

Tabocão ganha nova unidade básica de saúde

  • Alexandre Santos/UOL

    Nos dias em que o UOL esteve em Fortaleza do Tabocão, estavam sendo concluídas as obras de uma unidade básica de saúde na cidade. O prédio novo fica ao lado do antigo e já começava a receber alguns atendimentos. A reclamação em relação à saúde na cidade é a mesma que costuma ser feita na maioria dos municípios pequenos: a dependência de se ir a cidades vizinhas maiores para realizar exames ou procedimentos mais complexos. O plano de governo do candidato único à prefeitura da cidade, Flavinho, prevê, entre outros, implantação de laboratórios de análises clínicas, contratação de médicos que residam na cidade e manter farmácia básica aberta à noite e em fins de semana e feriados.

  • Cidade: Fortaleza do Tabocão
    Estado: Tocantins
    Distância da capital: 157 km
    População: 2.419 (censo 2010)
    PIB per capita: R$ 31.597,58
    Área (em km²): 621,560
    Número de eleitores: 2.277
    Data de fundação: 20 de fevereiro de 1991

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