Com roteiro semelhante a 2010, São Paulo escolhe entre Haddad e Serra

Julianna Granjeia

Do UOL, em São Paulo

Os eleitores paulistanos vão eleger seu novo prefeito neste domingo (28) sob um cenário semelhante ao das eleições presidenciais de 2010, que não reproduz apenas a polarização entre PT e PSDB.

O líder nas pesquisas de intenções de voto, Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, assim como a presidente Dilma Rousseff, foi escolhido pelo ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Em comum, além de Lula, o adversário de ambos: José Serra (PSDB). Também foram repetidas: marketing, alianças controversas, terceira via que ameaçou a polarização e, por fim, uma discussão que envolveu aspectos morais e religiosos.

Alianças

Os aliados dois candidatos se tornaram alvos das duas campanhas.

De um lado,  a coligação de Serra tinha o PR, partido do deputado federal Valdemar Costa Neto, um dos condenados por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo STF (Supremo Tribunal Federal), no julgamento do mensalão --esquema de pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo federal, no primeiro governo Lula (2003 a 2006).

No entanto, a principal aliança que motivou as críticas petistas mais duras foi o apoio do atual prefeito Gilberto Kassab (PSD). Segundo o Datafolha, a proporção de eleitores que consideram a gestão dele ruim ou péssima subiu de 36% para 48%.

Do outro, além dos próprios petistas envolvidos no escândalo, a polêmica foto de Lula e Haddad com o deputado federal Paulo Maluf (PP-SP), que selou o apoio do PP à candidatura petista. Maluf não pode deixar do país por ser procurado pela Interpol e tem cerca de US$ 175 milhões bloqueados no exterior devido à suposta fraude, segundo o Ministério Público.

O deputado nega que tenha mantido contas no exterior. A Justiça da Ilha de Jersey, um paraíso fiscal, já começou a julgar a ação da prefeitura para tentar recuperar US$ 22 milhões atribuídos a Maluf. A aliança com o PP fez com a deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP), anunciada como vice de Haddad, desistisse de apoiar o PT em São Paulo. Na época, Erundina afirmou que se sentiu agredida com a foto. Cargo para ter Marta na campanha

Lula não foi candidato neste ano, mas, assim como em 2010, foi protagonista.  Ao lançar Haddad, frustrou a intenção da ex-prefeita Marta sair como candidata --a mais cotada internamente no PT.

Para apaziguar o ânimo da petista, que no começo da campanha do escolhido do ex-presidente não apareceu, Marta ganhou o Ministério da Cultura. No dia 11 de setembro, duas semanas após aparecer ao lado de Haddad e declarar seu apoio a ele, Marta foi anunciada no lugar de Ana de Hollanda. Assim como Dilma na época que recebeu a benção de Lula, o ex-ministro da Educação foi visto por desconfiança, não só pelos eleitores, mas também dentro de seu partido.

Ungido o preferido, Haddad saiu de 3% de intenção de voto, no início da campanha, para chegar à véspera do segundo turno com mais de 40%. A própria presidente afirmou, em comício realizado no início do mês em São Paulo, que a campanha de 2012 repetia a de 2010.

“O argumento que foi usado contra mim é muito parecido com o argumento que está sendo usado sorrateiramente, às vezes, e, abertamente, outras, com ele [Haddad]. Disseram que eu era um poste, que eu não tinha competência para governar. Usaram de todos os argumentos contra mim”, disse Dilma no palanque, ao lado de Haddad e Lula.

Ao usar a metáfora do "poste", a presidente se referiu à capacidade atribuída a Lula que, com sua popularidade, alavancaria a carreira política até de “um poste”.

A crítica foi rebatida pelo Lula em comício pelo candidato do PT à Prefeitura de Campinas (a 93 km de São Paulo), Marcio Pochmann. "Diziam que a Dilma era um poste. O Marcio também. É de poste em poste que o Brasil vai ficar iluminado", discursou Lula, novamente ao lado de Dilma.

Marketing

Para alavancar o então desconhecido candidato do PT à prefeitura, o marqueteiro João Santana assumiu a campanha de Haddad. Santana também esteve à frente da equipe de Dilma em 2010.

Foi ele também o autor do mote da campanha de reeleição de Lula em 2006: “Deixa o homem trabalhar”. Para coordenar o marketing deste ano do candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, um nome tão conhecido quanto o do postulante: Luiz González.

González foi o marqueteiro das campanhas vitoriosas de Serra em 2004, para a prefeitura de São Paulo, e 2006, para o governo estadual. Também foi de Geraldo Alckmin, candidato derrotado nas eleições presidenciais de 2006, e da campanha presidencial de Serra, em 2010. Como em 2010, os dois marqueteiros optaram que seus candidatos adotassem um tom mais agressivo no segundo turno. Na época, Serra não era esperado para a segunda fase da eleição presidencial. Para tentar reverter o quadro, passou a atacar Lula e Dilma.

Neste ano, quem partiu para o ataque mais incisivo, apesar de ter proposto uma campanha apenas propositiva, foi Haddad. A equipe petista justificou a estratégia como defesa dos boatos e mentiras espalhados pela campanha tucana.

Política e religião

Já a grande polêmica criada pelos candidatos para atacar seus adversários --o que, consequentemente, desvia a atenção do plano de governo-- migrou do aborto, em 2010, para a religião, em 2012.

A discussão em torno do chamado "kit gay", material didático que foi encomendado pelo Ministério da Educação sob a gestão de Fernando Haddad para combate à homofobia nas escolas, trouxe à tona o papel das igrejas em uma disputa eleitoral.

Em 2007, quando ocupava o cargo de ministra-chefe da Casa Civil, Dilma afirmou em sabatina no jornal "Folha de S.Paulo" que era um “absurdo” que o Brasil não houvesse descriminalizado o aborto.  Em maio de 2010, em debate promovido por televisões católicas, disse que não sabia se achava necessário ampliar os casos em que a lei já permite o aborto.

Em maio de 2011, quando o projeto Escola sem Homofobia, ainda estava em desenvolvimento, alguns dos vídeos do material que recebeu o nome de “kit gay” vazaram e foram criticados por deputados federais da bancada evangélica.

Na época, a bancada evangélica acusou Haddad, então ministro da Educação, de ter decidido distribuir o kit sem consultar os deputados evangélicos e católicos como havia prometido.

Sob pressão, no dia 25 de maio do ano passado, a presidente Dilma determinou a suspensão da produção e distribuição do material.

O assunto foi explorado no primeiro turno pelas campanhas do candidato derrotado Celso Russomanno (PRB) e de Serra.

Terceira via

Outra semelhança entre os roteiros de 2010 e 2012 é a existência de um candidato que se apresenta como terceira via, mas não emplaca.

Em 2010, Marina Silva, então candidata à Presidência pelo PV, foi quem fez o papel desempenhado no primeiro turno por Russomanno contra a polarização entre PT e PSDB.

No entanto, Marina nunca chegou a liderar as pesquisas de intenção de voto como o candidato do PRB, que não esperava ficar de fora do segundo turno.

Marina e Russomanno também têm em comum o apoio de igrejas evangélicas.

Entre o novo e o conhecido

Resta agora aguardar se Serra também repetirá o discurso pós-eleição 2010 neste domingo: “Não é um adeus, é um até logo", e deixa um suspensa no ar sobre seu futuro político, e o lulismo chega a São Paulo. Ou se a cidade desiste do “novo” e fica com quem já conhece.

Perfis

Serra, 70, disputou sua primeira eleição em 1986, quando elegeu-se deputado federal. Em 1990 foi reeleito. Em 1995 foi eleito senador por São Paulo. Foi ministro do Planejamento entre 1995 e 1996 e ministro da Saúde entre 1998 e 2002. Foi candidato a presidente da República em 2002, derrotado no segundo turno. Em 2004, José Serra elegeu-se prefeito de São Paulo e, em 2006, deixou a prefeitura para disputar o governo do Estado. Venceu no primeiro turno. Em 2010, candidatou-se novamente à Presidência, quando perdeu para Dilma.

Haddad, 49, disputa sua primeira eleição neste ano. Professor doutor pela USP (Universidade de São Paulo), foi subsecretário de Finanças e Desenvolvimento Econômico em 2001, na gestão de Marta Suplicy (2001-2004). Dois anos mais tarde, foi para Brasília trabalhar como assessor especial do Ministério do Planejamento e Finanças. Em seguida, tornou-se secretário-executivo do MEC (Ministério da Educação). Em 2005, o petista assumiu o MEC. Deixou o cargo em novembro de 2011 para se preparar para a disputa eleitoral.

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