Disputa entre "petismo" e "carlismo" marca eleição em Salvador

Felipe Amorim

Do UOL, em Salvador

Maior capital onde PT e DEM estão mais bem posicionados nas pesquisas, Salvador viu a disputa ser polarizada entre os candidatos a prefeito Nelson Pelegrino (PT) e ACM Neto (DEM), que fizeram do legado de seus grupos políticos a principal arma para conquistar eleitores e atacar adversários. A disputa entre "petismo" e "carlismo" será posta a prova nas urnas na eleição deste domingo (7), e poderá ser decidida apenas no segundo turno se for confirmada a tendência indicada pelas últimas pesquisas eleitorais.

O candidato do DEM se apresenta como gestor de pulso firme e eficiência administrativa, perfil que marca a propaganda dos quadros do partido no Estado, e está associada a figura do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (1927-2007), avô do candidato, ex-prefeito da capital e governador do Estado por três mandatos. O segundo nome do senador cunhou a expressão que define seu estilo político: carlismo.

“Salvador quer um prefeito que coloque ordem na casa”, foram as palavras escolhidas por Neto para iniciar sua fala no primeiro debate televisivo entre os candidatos, realizado em 2 de agosto.

Já Pelegrino faz das parcerias com o governo estadual e federal do PT um dos pontos centrais de sua campanha. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a presidente Dilma Rousseff (PT) gravaram depoimentos para a propaganda eleitoral do petista, assim como o governador Jaques Wagner (PT). Lula chegou a participar de um comício em Salvador, em 14 de setembro.

Antes do início do horário eleitoral, em 21 de agosto, o Ibope apontava o petista com 13% das intenções de voto, contra 40% de ACM Neto. Com mais que o dobro do tempo de propaganda de Neto na TV, Pelegrino cresceu 21 pontos nas pesquisas e conseguiu encostar no adversário.

Ataques

Candidato do "time de Lula, Wagner e Dilma”, como repetido pela propaganda petista, Pelegrino centrou fogo no horário eleitoral contra a condenação pelo DEM das cotas raciais nas universidades, e levou ao ar um discurso de Neto, deputado federal, no qual o parlamentar ameaçava dar uma “surra em Lula”, em pronunciamento na Câmara dos Deputados à época da CPI dos Correios, em 2003.

Neto conseguiu barrar os vídeos na Justiça, e voltou à carga contra o PT, mencionando na propaganda o julgamento do mensalão pelo STF (Supremo Tribunal Federal), caso de corrupção para supostamente comprar apoio parlamentar no primeiro mandato do ex-presidente Lula, que envolve lideranças petistas. Dessa vez, foi o PT que acionou a Justiça Eleitoral para fazer cessar os ataques.

Distantes dos demais candidatos nas pesquisas, Neto e Pelegrino deixaram claro o antagonismo político na troca de acusações contra as gestões do PT e DEM no governo Estadual, no debate na TV da quinta-feira (4), o último antes da eleição deste domingo (7).

“A violência só fez aumentar em Salvador. O PT da propaganda é um, o da vida real é outro. O helicóptero do governador deveria ser usado para perseguir bandido”, afirmou Neto durante o debate.

“O governo atual contratou 10 mil policiais, contra o governo anterior, [que contratou] só 1.400. Vocês passaram 16 anos no governo e a Bahia era a capital nacional dos grupos de extermínio”, rebateu Pelegrino, no mesmo encontro.

As críticas ao governador Jaques Wagner (PT) tem sido uma importante munição contra o rival na propaganda de Neto, principalmente no campo da segurança pública e da educação. Recentemente os professores da rede pública do Estado encerraram uma greve que durou 115 dias, e a Bahia é o Estado que registrou o maior aumento no número de homicídios entre 2000 e 2010: 332,4%, segundo estudo do Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça.

Carlismo

Em 2006, a eleição de Wagner encerrou um ciclo de quatro mandatos do DEM no Estado, iniciado com o próprio avô de Neto, em 1991. O ex-senador ACM já havia governado a Bahia em outros dois mandatos, nas décadas de 1970 e 1980.

O feito levou analistas mais apressados a decretarem, à época, “a morte do carlismo”, alcunha que define o legado e perfil político do grupo ligado ao ex-senador ACM.

Para o cientista político Joviniano Carvalho Neto, professor da UFBA (Universidade Federal da Bahia), a eleição de ACM Neto “seria a a prova de que o carlismo continua com uma raiz na política e na cultura baiana, ainda que com um viés moderno”, diz o professor.

“ACM Neto mantém, e é parte fundamental da força dele, a marca de ACM [o ex-senador], que é a Bahia associada a modernização e autoritarismo, e ao lado disso uma parte emocional de apoio à baiananidade”, afirma Carvalho Neto.

Para o estudioso, a entrada do ex-presidente Lula na campanha em Salvador levou o candidato do DEM a se posicionar com um discurso mais claro de oposição política ao PT --ainda que mais centrado nas críticas ao governo estadual, poupando Lula e a presidente Dilma-- mas assumindo uma “candidatura claramente antipetista”, diz.

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