Por discurso popular e contra Patrus, Lacerda lembra prisão pela ditadura em Belo Horizonte

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

Após a perda do apoio do PT no início de julho, o prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB), candidato à reeleição, trouxe para campanha questões até então consideradas tabus: a sua participação na oposição à ditadura militar, implantada em 1964, a militância em movimentos de esquerda e sua prisão. A estratégia, segundo especialistas, tem o objetivo de contrapor o candidato petista na capital mineira, Patrus Ananias --que terá um discurso à esquerda, com viés mais popular.

O assunto, durante a gestão de Lacerda, foi barrado. Correligionários e assessores evitavam a questão e preferiam vender a imagem do prefeito como bom gestor.

Empresário bem sucedido no segmento de telecomunicações, Lacerda também evitou o assunto na campanha de 2008, privilegiando o aspecto de administrador qualificado.

Neste ano, durante o período eleitoral, essa situação foi mantida até o PT romper com ele, no início do mês, após o socialista negar a participação da legenda na coligação proporcional (na eleição de vereadores) para o partido de seu atual vice-prefeito Roberto Carvalho, presidente municipal do PT em Belo Horizonte.

"Dei minha contribuição. Quando estudante, fui preso. Dediquei minha vida e minha experiência de vida defendendo os trabalhadores", disse o socialista, no início da semana, em encontro com sindicalistas, na sede do comitê de reeleição em Belo Horizonte.

Durante o ato com os sindicalistas, a assessoria do candidato distribuiu panfleto com texto que dá ênfase à luta política de Lacerda durante a juventude. O tom amarelo escuro, utilizado até então pelo candidato, foi substituído pelo vermelho, que agora predomina.

A propaganda da campanha de Lacerda é feita pelo publicitário mineiro Cacá Moreno, responsável por campanhas do PSDB em Minas Gerais. João Santana, marqueteiro do ex-presidente Lula, é responsável pela propaganda da campanha petista.

"Nossa bandeira tem de ser sempre distribuição de renda. Do acesso à saúde e à educação. É preciso avançar na democratização do orçamento, na escola integrada, na duplicação da [avenida] Antônio Carlos, na duplicação da [avenida] Pedro I, no Boulevard Arrudas", afirmou Lacerda, durante o encontro.

Cercado de trabalhadores, o candidato lembrou a todos que é filho de funcionário da extinta RFF (Rede Ferroviária Federal) e de uma professora primária.

Bandeiras populares

O cientista político Fábio Wanderley Reis, professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), disse que, a partir do rompimento com o PT, Lacerda precisa de um discurso para os setores populares do município, enfatizando questões sociais.

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"É imperioso para o Marcio [Lacerda] acenar para as camadas populares. É fatal que ele caminhe nessa direção. O Patrus [Ananias] tem uma proximidade muito grande com o Lula. É identificado com as políticas sociais do governo. O Bolsa Família está carimbado na sua testa", disse Reis.

"Pesquisas feitas nos últimos anos revelam um desinteresse crescente das camadas populares, a maioria dos eleitores, pela política. Esse desinteresse faz com que a imagem que os eleitores têm dos candidatos tenha maior importância na hora do voto", afirmou o professor da UFMG.

O cientista político, Carlos Ranulfo, professor do Departamento de Ciência Política da UFMG, fez a mesma avaliação.

"O adversário do Marcio [Lacerda] agora vem da esquerda. A crítica de Patrus [Ananias] será pela esquerda. O perfil técnico do prefeito terá de ser relegado a um segundo plano", afirmou Ranulfo.

"O problema para o Marcio [Lacerda] é que o Patrus [Ananias] tem autoridade para reivindicar a paternidade de muitas políticas sociais em Belo Horizonte."

Mesmos discursos

Para Ranulfo, os dois candidatos que lideram as pesquisas de intenção de voto em Belo Horizonte --de acordo com o Datafolha: Marcio Lacerda (44%) e Patrus Ananias (27%), deverão direcionar seus discursos na campanha eleitoral para as questões sociais e as políticas públicas no município.

"Os dois lados terão dificuldades. O Marcio [Lacerda] vai buscar mostrar que, como bom administrador, é o melhor nome para garantir a continuidade dessas políticas. O Patrus (Ananias) vai dizer que é preciso resgatar o projeto inicial que foi abandonado por Marcio [Lacerda]", diz Carlos Ranulfo.

Ditadura militar

Lacerda participou da militância de esquerda em oposição à ditadura militar, no início dos anos 1970.

Estudava administração de empresas na UFMG, em Belo Horizonte, quando, aos 21 anos, foi preso e cumpriu uma pena de quatro anos, em prisão em Juiz de Fora (MG).

Seu companheiro de cela foi o ex-prefeito Fernando Pimentel, atual ministro do Desenvolvimento e antecessor de Lacerda na Prefeitura de Belo Horizonte, que, ao lado do senador Aécio Neves (PSDB), em 2008, lançou Lacerda candidato a prefeito da capital mineira, numa aliança do PT com o  PSDB.

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