Erundina contradiz versão de Haddad sobre aliança com Maluf

Camila Campanerut

Do UOL, em Brasília

A deputada federal Luiza Erundina (PSB-SP) deu uma versão diferente da do pré-candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, sobre tê-la informado a respeito da aliança com o PP, do deputado federal Paulo Maluf (SP).

Erundina afirmou que, um dia antes do encontro que concretizou a aliança --que ocorreu na casa de Maluf e contou com a presença do parlamentar, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do pré-candidato petista--, ela esteve com Haddad, que disse a ela que "não havia nada de concreto".

Ela foi anunciada como vice na última sexta-feira (15) e, de acordo com a deputada, no domingo (17) à noite, Haddad não havia confirmado a aliança com o PP na capital paulista.

“Ele [Haddad] me disse: 'Não está nada certo, não está confirmado. Não se tem absolutamente nada de concreto em relação a isso [a aliança com Maluf]'”, disse Erundina, que desistiu do posto de vice nesta terça (19). Segunda a deputada, Haddad afirmou que aguardava um telefonema da direção do PT paulistano para saber mais detalhes sobre o assunto.

A coordenação da campanha de Haddad disse hoje que Erundina sabia, sim, da aliança. “Eu sou testemunha de que ela [Erundina] foi informada da aliança na sexta-feira. Nós fomos informados que ela aceitaria ser a nossa vice na quinta à noite e, na sexta antes da coletiva [quando foi anunciada como vice], ela foi informada da aliança e tratou com naturalidade. Parece que ela ficou incomodada com a foto [do Maluf com o Lula]. Existe a forma e o conteúdo. Ela reclama da forma”, declarou o coordenador da campanha, o vereador Antonio Donato, que também é presidente municipal do PT.

Ontem, Haddad também deu outra  versão. “O próprio PSB já havia conversado com ela [Erundina] sobre a possibilidade de apoio do PP. A primeira coisa que eu fiz quando ela chegou ao hotel foi reiterar, já sabendo que o Roberto Amaral havia conversado com ela sobre o assunto, reiterar que aquela era uma possibilidade concreta", afirmou Haddad, na terça-feira (19), ao se referir ao local em que encontrou Erundina para anunciar que ela seria a vice. A declaração do petista foi dada pouco antes do anúncio da desistência de Erundina.

Erundina voltou a criticar Maluf, de quem é adversária histórica. "Conviver com essa pessoa [Maluf] não dá, muito menos fazer política com ele", afirmou.

A parlamentar do PSB voltou a dizer que sua saída da chapa ocorreu para não atrapalhar a campanha do ex-ministro da Educação. "Teria de estar o tempo todo justificando isso [o fato de ela estar ao lado do Maluf na mesma campanha]", disse.

“Ela [Erundina] nunca colocou como condição [o fato de o PT não firmar a aliança com o PP].  Se isso fosse uma condição, não haveria nenhum problema, absolutamente legítimo”, disse Haddad ontem (19).

Erundina disse que a aliança com o PT ajudou a resgatar politicamente o "malufismo". Segundo a deputada, essas alianças entre partidos com ideologias tão distintas, como PT e PP, são negativas.

“Não concordo [com a aliança]. Acho importante o tempo de televisão, não ao ponto de sacrificar a imagem, a história e os princípios (...) Isso é ruim na política, não se pode passar para a juventude que a política é um jogo de interesses, é uma troca de interesses. É desqualificar o povo, que é a fonte do poder, com práticas fisiológicas, oportunistas e interesseiras", afirmou a deputada federal.

Erundina afirmou que o presidente do PSB, governador de Pernambuco Eduardo Campos, foi “muito respeitoso e compreensivo” por acatar sua decisão de desistir da candidatura a vice na chapa de Haddad.

“Eu decidi sair da chapa e seria inconveniente da minha parte comentar", disse ao ser questionado sobre os nomes já ventilados para ocupar o posto de vice na chapa de Haddad.

Segundo Erundina, Maluf tentou negociar com outros partidos, que não aceitaram a aliança em troca de uma eventual indicação dele para Secretaria de Habitação.

Perus

Erundina lembrou ainda que não conseguiria fazer campanha ao lado de um político que deu sustentação da Ditadura Militar, ao lembrar do Cemitério . "Ele [Maluf] construiu [o Cemitério de Perus] e a responsabilidade do que ocorreu lá é dele", afirmou ao lembrar que há 22 anos, quando era prefeita, descobriu que havia corpos de perseguidos pelo regime militar enterrados lá.

*Com colaboração de Débora Melo, em São Paulo

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