14/09/2010 - 07h00

Ex-parceiros em campo, Bebeto e Romário fazem campanha separados no RJ

André Naddeo
Especial para o UOL Eleições
No Rio de Janeiro

Em cinco minutos cada um distribui cerca de 15 santinhos e posa para pelo menos umas dez fotos. Na equipe do camisa 7 tem até o endereço do site com um código para achar a imagem com o candidato. Quem diria que o Baixinho marrento da camisa 11 voltaria para cumprimentar a senhora que esbarrou nele pedindo atenção? Campanha eleitoral é assim. Bebeto e Romário, que buscam respectivamente uma vaga para deputado estadual e federal pelo Rio de Janeiro, sabem muito bem disso. Apesar de parceiros em campo, os craques fazem campanha separados.

Jogadores tentam carreira na política

"É muito pesado. No final do dia você chega cansado em casa, principalmente mentalmente”, conta Bebeto. "É uma satisfação para mim saber que tudo aquilo que eu fiz por mais de 20 anos no futebol gerou isso, as pessoas têm um reconhecimento, um carinho por mim muito grande", completa Romário.

Ambos trocaram a tranquilidade que a aposentadoria no futebol os proporcionou por uma rotina maçante. Campanha cansativa que traz a pergunta: por que Bebeto, 46, e Romário, 44, resolveram se meter na política?

"Foram vários pedidos da família e dos amigos, que sempre me tiveram como exemplo de homem, de pai de família. Quero que as pessoas me elejam pela confiança, pela credibilidade que eu sempre tive, pela minha história de vida, que sempre foi muito bonita", afirma o soteropolitano Bebeto, que adotou o Rio de Janeiro como sua casa e é filiado ao PDT.

"Eu acredito que independentemente de você ser político ou não, você tem que cumprir aquilo que você fala. Eu graças a Deus na minha profissão as pessoas sempre me respeitaram por esse motivo e eu tenho muita fé que na política não vai ser diferente. Foi isso que me motivou", completa Romário, esse, sim, carioca da gema, ao seu melhor estilo.

Atrelar a campanha a imagem do jogador de futebol bem sucedido, aliás, virou estratégia para os dois candidatos. Quem é que não se lembra da célebre frase do Baixinho de que quando ele nasceu Deus apontou e falou: “Esse é o cara!”? Na TV, no rádio e nos panfletos, está lá: “Ele é o cara”. A campanha do cara estima gastar R$ 800 mil, de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

Bebeto também busca na memória do eleitor o símbolo máximo da sua propaganda eleitoral que quer “embalar o Rio”. Em 94, nas quartas de final diante da Holanda, ao lado do próprio Romário e do meia Mazinho, homenageou o nascimento do filho Matheus ao marcar o segundo gol da seleção na partida e comemorar como se o carregasse no colo. Ele deve gastar R$ 750 mil.

"Acredito que através do esporte, eu sou esse exemplo, o Bebeto é esse exemplo, a gente pode mudar a vida dos jovens de comunidades, que hoje a gente sabe que infelizmente tem uma droga que é o crack que invadiu o Estado. A gente tem seis anos daqui para frente que o esporte vai virar moda no país e a gente tem que aproveitar bem este tempo", avalia Romário.

Veja quais ex-craques disputam cargo nas eleições do dia 3 de outubro

  • No gol, Danrlei, campeão da Libertadores da América pelo Grêmio, que tenta uma vaga como deputado federal pelo PTB-RS. Ele já atuou algumas vezes nesta posição, então, na lateral-direita vem Vampeta , ex-Corinthians, candidato ao mesmo cargo e pelo mesmo partido, o PTB, só quer por São Paulo. Na outra lateral, outro improviso: Marques, ex-Atlético-MG, vai para cima atrás do posto de deputado estadual em Minas Gerais, pelo PTB.

    Cassiá, ex-zagueiro do Internacional, tenta a reeleição na Assembleia Legistativa gaúcha. Sua dupla é Jorge Valença, também ex-Atlético-MG, candidato a deputado estadual pelo PR, na Bahia.

  • Adílio, campeão mundial pelo Flamengo de Zico, em 81, quer ser deputado federal pelo PTC-RJ. Marcelinho, também campeão mundial, em 2000, quer o mesmo cargo pelo PSB-SP. Como meia-armador, Ademir da Guia é candidato a deputado estadual pelo PPS-SP.

  • No ataque, Bebeto (PDT-RJ) e Romário (PSB-RJ) têm a companhia do também "falastrão" Túlio Maravilha, que busca o cargo de deputado estadual pelo PMDB-GO.

     

Oportunismo?

O fato de um ex-jogador de futebol famoso se candidatar a um cargo público levanta a questão: estariam eles se aproveitando da popularidade para adquirir uma posição onde possa ter ainda mais estabilidade financeira após a carreira? Para o jornalista e blogueiro do UOL Esporte, Juca Kfouri, este é justamente o ponto a ser questionado.

"Qual foi o ex-esportista que tenha virado um político importante, e tenha feito algo de realmente importante para a população? Eu não me lembro. Eu acho que em regra se aproveitam da popularidade, em regra conseguem alguns se eleger numa primeira eleição, e em regra não se reelegem porque aí o fã percebe que esse cara não fez nada no primeiro mandato. Então não vejo com bons olhos, acho que é um oportunismo como outro qualquer", opina.

Já o técnico do Fluminense, Muricy Ramalho, atual líder do Campeonato Brasileiro, não entra em polêmica, mas frisa o fato de que “se eles puderem brigar pelo futebol vai ser algo interessante, já que eles vieram do futebol”. Nas ruas, a opinião dos eleitores se divide. “Bebeto é gente fina, merece um voto, sim. Vai fazer muito pelo esporte. É um cara que é novo na política, não está envolvido na sujeira que os outros estão envolvidos”, diz o vendedor Marcelo Siqueira. “Eu não daria o meu voto. É uma incoerência do nosso processo político”, afirma o aposentado Valter Nogueira.

O fato é que, polêmica à parte, a popularidade parece estar mesmo trazendo resultados. Um levantamento do Instituto Brasileiro de Pesquisa Social (IBPS) ouviu cinco mil eleitores no Estado e colocou Romário como o segundo candidato a deputado federal mais votado, atrás apenas do ex-governador Anthony Garotinho (PR). Bebeto não está entre os líderes da pesquisa para deputado estadual, mas ele não diminui a confiança: “Tenho certeza que vou poder fazer alguma coisa pela minha população”.

A campanha do camisa 7 estima que ele precise de 30 mil votos para se eleger e a do camisa 11, 70 mil. Bebeto já disse que não tem problema em trabalhar de terno e gravata, mas e o “Peixe”, acostumado a chinelo de dedo, bermuda e camiseta? "Eu nunca fui muito fã disso, mas não tem como ser diferente, tenho que me acostumar e eu tenho certeza que na política esse aí vai ser o problema menor que eu vou encontrar daqui para frente", finaliza.
 

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