Em livro, Lula diz que Dilma ficou triste em reeleição e ironiza Ciro Gomes

Bernardo Barbosa

Do UOL, em São Paulo

  • Divulgação/Editora Boitempo

    Capa do livro "A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam", de Lula

    Capa do livro "A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam", de Lula

Em entrevista para o livro "A verdade vencerá: o povo sabe por que me condenam", que será lançado nesta sexta-feira (16) em São Paulo pela editora Boitempo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conta que Dilma Rousseff, sua sucessora e colega de partido, demonstrou tristeza logo após ser declarada vitoriosa na disputa eleitoral de 2014.

"Bom, quando a Dilma ganhou em 2014, eu estive com ela, senti a Dilma triste no dia da vitória [26 de outubro de 2014]; (...) saímos conversando da casa dela para o hotel onde ela foi fazer o pronunciamento, [eu] convencido de que era a primeira vez que via uma pessoa ganhar triste, inquieta. A sensação que tive foi de que ela não tinha gostado de ganhar. Quando me aproximei, ela falava: 'Eu nunca mais quero participar de um debate, nunca mais'. Estava visivelmente irritada, não sei se pela vitória apertada; mas a vitória apertada é mais gostosa do que qualquer outra coisa!", relatou Lula.

Naquela eleição, Dilma superou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) no segundo turno, na disputa mais apertada desde a redemocratização. Ela obteve 51,64% dos votos válidos contra 48,36% para o tucano, uma diferença de apenas 3,4 milhões de votos. A campanha foi marcada pelo tom agressivo, principalmente nos debates na televisão. 

Lula concedeu três entrevistas para o livro "A verdade vencerá", todas em fevereiro passado, ao quarteto formado pelos jornalistas Juca Kfouri, colunista do UOL, e Maria Inês Nassif; pela fundadora e diretora da editora Boitempo, Ivana Jinkins; e pelo professor de relações internacionais da UFABC (Universidade Federal do ABC) Gilberto Maringoni, que foi candidato a governador de São Paulo pelo PSOL em 2014. A obra será lançada em evento com a presença de Lula no Sindicato dos Químicos de São Paulo, às 18h de sexta-feira (16).

Na conversa, o ex-presidente chegou a afirmar que está "pronto para ser preso". Condenado em segunda instância no chamado processo do tríplex, da Operação Lava Jato, Lula pode ter sua prisão ordenada depois do julgamento dos recursos no TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre), o que ainda não tem data para acontecer. 

A seguir, leia alguns trechos em que Lula fala de Dilma e de outros políticos, como os pré-candidatos a presidente Ciro Gomes (PDT) e Guilherme Boulos (PSOL) e os ex-ministros José Dirceu e Antonio Palocci, homens-chave nos governos petistas e depois condenados por escândalos de corrupção.

Nelson Almeida - 25.jan.2018/Estadão Conteúdo

Dilma, o impeachment e a "pouca vontade" de fazer política

Apesar de defender Dilma Rousseff como quadro técnico e como ministra, Lula diz também que ela cometeu erros na política "talvez pela pouca vontade que ela tinha de lidar com a política; muitas vezes ela não fazia aquilo que era simples fazer." No processo do impeachment, por exemplo, o ex-presidente afirma que "em nenhum momento" foram feitas reuniões com as bancadas de partidos, mas apenas com parlamentares individualmente. Com isso, o governo achou que teria votos suficientes para barrar o impeachment.

Ricardo Stuckert - 9.abr.2015/Instituto Lula

Uísque com Temer

Depois que Michel Temer (PMDB) enviou uma carta a Dilma Rousseff, no fim de 2015, dizendo que era um "vice decorativo", Lula disse ter procurado o emedebista para convencê-lo a fazer um acordo com a presidente. "Tomamos um uísque juntos", relata o petista no livro. Lula ainda elogia a postura de Temer quando a delação da JBS veio à tona, envolvendo o atual presidente em um escândalo de corrupção. "Sou obrigado a reconhecer historicamente que o Temer soube se impor. Desmoralizou o (ex-procurador-geral Rodrigo) Janot, desmoralizou o Joesley (Batista, dono da JBS) e desmoralizou a Globo. E nunca mais se tocou no assunto."

Sérgio Lima - 15.out.2009/Folha Imagem

Ciro, "inteligente até certo ponto"

Lula não deixa barato as críticas que Ciro Gomes tem feito ao PT. O pedetista já disse, por exemplo, que é "mais fácil um boi voar" que o PT apoiar um nome de outro partido para a Presidência. No livro, o ex-presidente afirma gostar de Ciro, mas insinua uma certa arrogância em seu ex-ministro. "Só acho que o Ciro faz parte de um grupo seleto de pessoas que sabem tanto das coisas que nem perguntam para a gente 'como vai?', porque já sabem como a gente vai." Para Lula, Ciro é "inteligente até certo ponto, porque, se fosse inteligente mesmo, estaria defendendo o PT, se acredita que não vou ser candidato." Segundo o ex-presidente, "ninguém será candidato pela esquerda sem o apoio do PT."

Nelson Antoine - 24.jan.2018/UOL

Boulos deveria "construir coisa nova"

Lula criticou o fato de Guilherme Boulos ter escolhido o PSOL para sua pré-candidatura a presidente. O ex-presidente diz ter falado ao líder sem-teto: "A única coisa que lamento é que você, com o sonho que tem na cabeça de um partido político, tenha entrado no PSOL. Não deveria. Você deveria construir uma coisa nova." A proximidade de Lula com Boulos tem sido motivo de polêmica entre parte da militância do PSOL, que foi fundado por políticos expulsos do PT. 

Lula Marques - 2005/Folhapress

José Dirceu, um "guerreiro"

Condenado em processos do mensalão e da Operação Lava Jato, o ex-ministro José Dirceu é chamado de "guerreiro" por Lula. "Eu acho que o José Dirceu é um guerreiro. É um homem de muita dignidade e é um companheiro que soube enfrentar de cabeça erguida todo esse processo que está sofrendo." Lula faz a ressalva de que não pode dizer se Dirceu "pediu dinheiro, se fez alguma coisa", mas diz também que nunca acreditou "na história do mensalão". José Dirceu foi ministro da Casa Civil de Lula entre 2003 e 2005, até a explosão do escândalo do mensalão.

Eraldo Peres - 15.jun.2005/AP Photo

"Eu tenho pena do Palocci"

Em depoimento na Operação Lava Jato, o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci acusou Lula de ter recebido propinas dentro de um "pacto de sangue" entre a Odebrecht e o PT. Apesar das duras palavras, o ex-presidente disse não ter raiva de Palocci. "Eu tenho pena do Palocci. Por que eu vou ter raiva dele? Eu tenho uma tese antiga. Delator só delata porque roubou. Quem delata é porque quer fazer negócio." Palocci estaria negociando há quase um ano um acordo de delação premiada com autoridades, mas não há informações oficiais sobre isso. O ex-presidente e o ex-ministro são réus em um mesmo processo da Lava Jato, sobre a compra de um terreno pela Odebrecht supostamente para o Instituto Lula.

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