Investigadas na Lava Jato doam R$ 60 milhões a presidenciáveis e partidos

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

As empreiteiras que são investigadas pela Polícia Federal e pelo MPF (Ministério Público Federal) na Operação Lava Jato já doaram, ao todo, R$ 60,4 milhões para os três principais candidatos à Presidência --Dilma Rousseff (PT), Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB)-- e os respectivos diretórios nacionais de seus partidos. Desse total, R$ 47,8 milhões (79%) foram doados para Dilma e para o PT. 

Os dados referem-se à segunda parcial de doações, divulgada no último sábado (5) pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral). Os números consolidados das doações e gastos de campanha só serão divulgados após o segundo turno.

Entre as construtoras investigadas, a UTC Engenharia, OAS, Queiroz Galvão, Camargo Corrêa, Engevix e Galvão Engenharia fizeram doações eleitorais. As empresas são suspeitas de superfaturar obras contratadas pela Petrobras e pagar propinas a políticos.

A campanha de Dilma recebeu diretamente R$ 25 milhões de duas empreiteiras: OAS (R$ 20 milhões) e UTC Engenharia (R$ 5 milhões). O montante representa cerca de 20% do total recebido diretamente pela campanha da candidata à reeleição (R$ 123,3 milhões). 

O diretório nacional do PT ganhou R$ 22,8 milhões da OAS (R$ 10,9 milhões), UTC (6,4 milhões), Queiroz Galvão (R$ 3 milhões) e Engevix (R$ 2,4 milhões). O valor equivale a um terço do total recebido pela direção nacional do partido (R$ 66,5 milhões).

Os números das doações recebidas diretamente por Marina Silva ainda não aparecem na prestação de contas do TSE em função da substituição da candidatura de Eduardo Campos, morto no último dia 13. O comitê presidencial do PSB recebeu, até agora, R$ 600 mil da OAS.

Já o diretório nacional do PSB recebeu R$ 5,8 milhões da OAS (R$ 5,1 milhões) e Queiroz Galvão (R$ 700 mil). Ao todo, o comitê presidencial do PSB recebeu R$ 19,6 milhões em doações. A direção nacional da sigla ganhou R$ 22,3 milhões.

A direção nacional do PSDB recebeu R$ 6,2 milhões da OAS (R$ 5,7 milhões) e Queiroz Galvão (R$ 500 mil). Desses, R$ 3 milhões foram repassados ao comitê de Aécio Neves, que também recebeu R$ 1 milhão diretamente da UTC.

Reportagem divulgada nesta terça-feira (9) pelo UOL mostrou que a UTC, apontada como uma das empresas envolvidas pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto da Costa no pagamento de propina, doou pelo menos R$ 12,9 milhões para algumas das principais campanhas eleitorais do país.

PMDB e PP

Segundo reportagem publicada pela revista "Veja" no último sábado, Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, afirmou, em delação premiada a procuradores federais, que políticos do PMDB, PP, PT e PSB receberam propina de fornecedores da estatal.

Costa citou como recebedores de propina o ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB), a governadora da Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), os ex-governadores do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral (PMDB-RJ), e de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB).

Também foram citados os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR) e Ciro Nogueira (PP-PI); os deputados federais Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizzolatti (PP-SC); o ex-ministro das Cidades Mario Negromonte (PP) e o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto.

O diretório nacional do PMDB recebeu R$ 13,5 milhões da Queiroz Galvão (R$ 7,2 milhões) e OAS (R$ 6,3 milhões). Já a direção nacional do PP ganhou R$ 5 milhões da OAS (R$ 2,1 milhões), Galvão Engenharia (R$ 1,4 milhão), Queiroz Galvão (R$ 1,2 milhão) e UTC (R$ 200 mil).

O que dizem as empreiteiras e partidos

Procuradas, OAS, UTC, Camargo Corrêa, Queiroz Galvão, Engevix afirmaram que todas as doações seguem a legislação eleitoral. A Galvão Engenharia não respondeu ao contato feito pela reportagem.

Sobre as investigações, a Camargo Corrêa afirmou que "já esclareceu anteriormente que não fez pagamentos à empresas com quem não tenha contratos legalmente estabelecidos e executados, muito menos com fins de repasse a políticos".

A campanha de Dilma afirmou que "as doações são legais, declaradas e constam da prestação de contas ao TSE, em conformidade com a legislação eleitoral."

O deputado federal Márcio França (PSB-SP), candidato a vice-governador na chapa com Geraldo Alckmin (PSDB) e tesoureiro da campanha de Marina Silva, afirmou que não vê problemas nas doações destas empreiteiras e que elas não colocam em xeque o discurso de "nova política" da candidata de seu partido.

"As grandes empreiteiras doam para todo mundo. O que muda é a quantidade: doam um pouquinho para nós, um monte para o Aécio e uma montanha para a Dilma", disse.

A reportagem telefonou para assessores de campanha de Aécio e encaminhou um email pedido uma posição a respeito do tema. Não houve resposta até o fechamento da reportagem.

O senador Ciro Nogueira, presidente nacional do PP, afirmou que não há irregularidade em receber doações de empreiteiras suspeitas de pagar propina a políticos de sua sigla. "Todas as doações são legais. Não vejo o menor obstáculo para essas doações. Não vejo diferença em receber de empreiteira, banco, mineradora, empreiteira, montadora. O grande câncer das eleições é o caixa dois."

A reportagem ligou para os celulares de várias lideranças do PMDB, entre elas Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves e Valdir Raupp, vice-presidente do partido, mas ninguém atendeu às ligações.

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