As campanhas dos presidenciáveis apresentaram na última semana, no horário eleitoral gratuito, mais promessas e propostas que tentam seduzir o eleitor a apoiar seus respectivos candidatos nas eleições de outubro.

A Agência Pública checou alguns dados para saber o que é exatamente verdadeiro e se as informações passadas estão devidamente contextualizadas, utilizando termos de jogos de cartas para questionar as incorreções. Veja abaixo algumas das afirmações dos candidatos que não correspondem 100% ao que foi apurado:

Alexandre De Maio/Agência Pública

Arte/Agência Pública

A propaganda eleitoral de Dilma Rousseff (PT) da última quinta-feira (4) disse:

"No ensino básico, Dilma levou a educação de tempo integral, que antes só se via em escolas particulares, para 56 mil escolas públicas. E serão 60 mil até o fim do ano."

Não foi Dilma que levou a educação em tempo integral para todas essas escolas. A campanha incluiu no cálculo aquelas que aderiram, no final do governo Lula, ao programa federal Mais Educação, que atua em parceria com Estados e municípios para ampliar a jornada para no mínimo sete horas. O número de escolas cadastradas no Mais Educação até 4 de setembro deste ano chegou a 57.883, segundo o Ministério da Educação, o que ainda é distante da meta da candidata -- o prazo final de cadastramento foi adiado sucessivas vezes e, segundo funcionários do MEC, ainda estava aberto quando esta checagem foi publicada. Do total de participantes, 10.027 escolas foram incluídas no programa entre 2008 e 2010, durante o governo Lula. Logo, Dilma teria conseguido a inclusão de 47.856 unidades até o momento em seu mandato.

Além disso, ao dizer que só se via a educação em tempo integral em escolas particulares, a campanha desconsiderou iniciativas anteriores. Uma das mais importantes são os Cieps (Centros Integrados de Educação Pública), criados pelo antropólogo Darcy Ribeiro durante os dois mandatos de Leonel Brizola como governador do Rio (1983-1987 e 1991-1994).

Aécio: Minas Gerais com a melhor educação do Brasil

Arte/Agência Pública

No programa eleitoral desta quinta, Aécio Neves (PSDB) disse:

"[O Brasil precisa] Da experiência adquirida em dois mandatos como governador de Minas Gerais, onde levamos meu Estado a ter a melhor educação do Brasil."

Aécio já havia dito em programa anterior que, durante sua gestão, Minas Gerais chegou a ter a melhor educação fundamental do país, mas não é verdade. Nos anos em que houve ranking do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), em 2009 e 2011, Minas Gerais ficou em primeiro apenas na primeira fase do ensino fundamental, que vai até o 5º ano/4ª série. Na segunda fase, até o 9º ano/8ª série, que engloba alunos que passaram por todo o ensino fundamental, Minas ficou atrás. Em 2009, ficou em quarto, empatado com Acre e Paraná; em 2011, ocupou a segunda posição, atrás de Santa Catarina.

No Ideb divulgado nesta sexta-feira (5), com dados de 2011 para 2013, a nota de Minas Gerais também caiu.

Nesta semana, Aécio expandiu a afirmação, dizendo que Minas chegou a ter "a melhor educação do país". Mas, se considerarmos também o ensino médio, o Estado tampouco chegou à liderança. Na avaliação dos alunos do 3º ano do ensino médio feita pelo Ideb em 2009, Minas Gerais ficou atrás de Paraná e Santa Catarina. Em 2011, o Estado foi superado por Santa Catarina, São Paulo e Paraná.

Marina: Associação entre tempo na escola e aprendizado real

Arte/Agência Pública

No programa de terça (2), ao falar sobre a permanência das crianças nas escolas em tempo integral, Marina Silva (PSB) afirmou o seguinte:

"As pesquisas mostram que, quanto mais tempo na escola, mais a criança e o jovem aprendem."

Dois especialistas em educação alertam que a relação entre aprendizado e tempo não é necessariamente direta, pois depende do conteúdo apresentado aos alunos e das condições do local de ensino.

"Tanto eu posso ter uma educação em tempo integral que seja emancipadora como posso ter uma que seja castradora. Se você implementa um projeto voltado para o consumismo, por exemplo, isso pode não ter nenhum resultado em termos de uma formação cidadã ou cognitiva. Você pode ocupar o tempo da criança com uma atividade profundamente retrógrada, discriminatória", diz Lúcia Velloso Maurício, professora-adjunta da Faculdade de Formação de Professores da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) e estudiosa do ensino em tempo integral.

"Depende do que se ensina. Depende das condições da escola. Depende se as crianças chegam do trabalho para a escola e se chegam bem alimentadas", opina Miguel Gonzalez Arroyo, professor titular da Faculdade de Educação da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), especialista no assunto e ex-secretário adjunto de Educação (1993-1997) da prefeitura de Belo Horizonte na gestão Patrus Ananias (PT).

Dilma: Inflação próxima de zero

Arte/Agência Pública

A propaganda eleitoral de Dilma Rousseff (PT) de terça-feira exibiu uma frase dita por Dilma no debate promovido por UOL, SBT, Folha de S.Paulo e rádio Jovem Pan, um dia antes:

"A inflação hoje está próxima de zero."

Segundo o IBGE, a inflação de julho em relação ao mês anterior, medida em 0,01% pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), foi mesmo próxima de zero. No entanto, se a comparação for feita em relação ao mês de julho do ano passado, a inflação subiu 6,5%, valor que corresponde ao teto da meta definida pelo Banco Central. Ainda segundo o IBGE, de janeiro a julho deste ano, a inflação atingiu 3,76%.

Aécio: falta de evolução nos indicadores sociais do Brasil

Arte/Agência Pública

"[Está aí a candidatura governista] que fracassou. Fracassou na melhoria dos nossos indicadores sociais."

Ao contrário do que diz o candidato, os indicadores sociais brasileiros melhoraram nos últimos anos. O Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento) aponta que o IDH brasileiro cresceu de 0,740 (2011) para 0,742 (2012) até chegar a 0,744 em 2013. De 2000 a 2013, o Brasil apresentou uma média de crescimento anual do IDH de 0,67%. O IDH avalia três dimensões sociais: longevidade, educação e renda. O Brasil ocupa hoje o 79º lugar no ranking dos 187 países reconhecidos pelas ONU (Organizações das Nações Unidas). É um dos 52 países com alto índice de desenvolvimento humano, segundo o Relatório do Desenvolvimento Humano 2014 - acima, estão os 49 países com índice muito alto de desenvolvimento humano.

Dilma: Investimento real do governo em transporte público

Arte/Agência Pública

"Estamos investindo R$ 143 bilhões em obras que estão ampliando e criando, pelo Brasil afora, nove metrôs, 14 VLTs, 180 BRTs e corredores de ônibus exclusivos nas nossas principais cidades."

O valor de R$ 143 bilhões corresponde, na verdade, a ações feitas pela União em conjunto com governos estaduais, municipais e com o setor privado. Para chegar ao valor, Dilma somou R$ 48 bilhões referentes à contrapartida dessas outras esferas. De acordo com a pasta, do total investido pelo governo federal (R$ 95 bilhões), R$ 33 bilhões vieram do Orçamento Geral da União e R$ 62 bilhões de financiamentos através de bancos públicos como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e a Caixa Econômica Federal.

O programa da tarde de terça reproduziu fala do debate promovido no dia anterior por UOL, SBT, Folha de S.Paulo e rádio Jovem Pan, no qual Dilma reformulou a fala para "143 bilhões de reais foram colocados à disposição" para a mobilidade urbana.