Em reunião, PT mira classe média e lamenta popularidade de Pixuleco

Aiuri Rebello

Do UOL, em São Paulo

  • Aiuri Rebello/UOL

    PT vai declarar "tolerância zero" com boneco Pixuleco

    PT vai declarar "tolerância zero" com boneco Pixuleco

Em reunião fechada nesta quinta-feira (25), a executiva nacional do PT discutiu as estratégias de ação agora que o TRF-4 confirmou a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no caso do tríplex do Guarujá e aumentou a pena de prisão para 12 anos e um mês. Dentre os pontos abordados, está a nova Carta aos Brasileiros que deve ser assinada por Lula e lançada ainda no primeiro semestre de 2018, com um dos focos principais na classe média.

Também foi discutida a ampliação do calendário de manifestações em defesa do ex-presidente ao redor do país e uma aproximação maior com outros partidos políticos e movimentos sociais; além de uma "declaração de guerra" ao boneco Pixuleco. Participantes da reunião contam que existe entre os petistas um clima de grande frustração com a popularidade do boneco -- usado nas manifestações pelo Impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e a favor da condenação de Lula.

O boneco inflável gigante (também disponível em versões pequenas) representa Lula com roupas de presidiário. O termo "pixuleco" é uma referência a delações premiadas onde é apontado que o termo era utilizado por membros do PT para falar de propina.

"Agora é tolerância zero com o Pixuleco", afirmou, segundo presentes, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR), presidente da legenda, no início da parte fechada da reunião. A declaração foi ovacionada pelos presentes. Procurada pelo UOL, ela não foi localizada para comentar a estratégia. A avaliação entre integrantes da executiva nacional é que o boneco ganhou muita popularidade e virou o grande símbolo contra Lula e a legenda. Ele pontuaram que foi um erro não dar importância para a caricatura e ignorá-la, como foi feito até agora.

Apesar disso, os petistas não fecharam questão em torno de como esse combate vai ser feito. Estão no horizonte ações judiciais e a criação de figuras alternativas. O uso de violência contra o boneco quando ele for inflado não foi discutido.

O boneco já foi atacado e chegou a ser furado durante manifestações em 2016 e 2017. No último ato que ele foi usado em São Paulo, na Avenida Paulista na quarta-feira, dia 24, organizadores da manifestação pela condenação de Lula pediram aos manifestantes um cordão humano para proteger a figura após algumas provocações de transeuntes.

Classe média

No encontro, a executiva nacional discutiu a segunda Carta ao Povo Brasileiro a ser divulgada, provavelmente, nos próximos meses. Ela será focada na defesa do legado dos governos petistas -- desde as prefeituras onde foi implantado o orçamento participativo até as conquistas sociais no governo federal - e deve trazer um apelo à classe média, onde o PT avalia que perdeu mais simpatizantes desde a crise que culminou no impeachment de Dilma.

Apesar de Lula liderar as pesquisas de intenção de voto para presidente neste ano, de acordo com a última pesquisa Datafolha, o apoio ao petista cai conforme avança o nível de renda do eleitor. No geral, ele oscila em torno dos 37% das intenções de voto para o primeiro turno nas respostas estimuladas, dependendo do cenário. O segundo colocado na pesquisa, Jair Bolsonaro (PSC-RJ), aparece com 18% das intenções de voto na maioria dos cenários.

Entre as famílias que ganham até dois salários mínimos, a preferência de votos de Lula sobe para em torno dos 47%, contra 13% de Bolsonaro, de acordo com o Datafolha. Já nas faixas da população que tem renda familiar entre dois e cinco salários mínimos, a intenção de voto do petista cai para 31% -- com Bolsonaro subindo para 21%.

Na faixa das famílias cujos salários vão de cinco a dez salários mínimos, o desempenho do ex-presidente cai ainda mais e bate nos 20%. Na mesma camada, Bolsonaro possui 29% das intenções de voto. Na classe A, onde estão as famílias com renda acima de 10 salários mínimos por mês, Lula possui 15% das intenções de voto contra 23% do principal rival.

"Além de manter o apoio das camadas populares, nossa principal missão é recuperar uma parcela do eleitorado da classe média que está órfão, não se enxerga no governo Temer nem nas opções de centro-direita", diz um parlamentar do partido, membro da executiva nacional que pediu para não ser identificado por não ter autorização para falar em nome da sigla.

Ele afirma não acreditar na conquista do voto entre as camadas mais ricas da sociedade, mas diz crer ser possível abocanhar uma parcela dos eleitores nas camadas intermediárias de renda. "O Lula é o único capaz de aglutinar campos antagônicos, como fez em seus governos anteriores. Temos que aproveitar essa memória coletiva e trazer esse pessoal que não se vê representado nas candidaturas da direita para a gente, para o Lula", diz o petista.

Para tanto, a carta deve conter uma afirmação sobre o compromisso do PT com a estabilidade econômica, mas, ao contrário da primeira carta, em 2002, o foco da mensagem não será esse. Em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo" em dezembro, Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula, havia afirmado que o documento seria um compromisso com o povo e não o mercado. 

"É preciso assumir compromissos com o povo. E, sim, revogar medidas adotadas pelo governo golpista para implementação de um projeto verdadeiramente democrático e popular", disse Okamoto na ocasião.

Em entrevista ao UOL na semana passada, o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT-SP) afirmou que a carta está pronta e espera apenas a aprovação final de Lula para ser divulgada. 

Além da presidente nacional do partido, participaram da reunião os deputados federais Paulo Pimenta (PT-RS) e Benedita da Silva (PT-RJ) e o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), além dos vice-presidentes e secretários nacionais. Lula participou da reunião, mas saiu antes da discussão destes pontos, logo após ter sido novamente lançado como pré-candidato do PT à Presidência da República.

Aloisio Mauricio/Estadão Conteúdo
Lula e Gleisi Hoffmann (PT-PR) participam de reunião da executiva nacional da sigla, em São Paulo

Aposta em comitês populares

De acordo com comunicado enviado pela Secretaria Nacional de Organização do PT aos diretórios municipais nesta sexta-feira (26), ao qual o UOL teve acesso, uma das principais apostas da legenda para este ano são os comitês populares, montados nos diretórios do PT nos municípios para defender o direito de Lula a ser candidato. Segundo o PT, já existem mais de 2.000 comitês do tipo em atividade ao redor do país.

Outra avaliação da executiva nacional é que o partido está isolado e precisa aproximar-se de outras legendas para enfrentar o ano eleitoral. Não só com partidos de esquerda, tradicionais aliados, mas também com legendas de centro-esquerda e até de centro, que compõe a base de apoio do governo de Michel Temer, e até setores mais próximos do próprio PMDB.

A legenda mantém a disposição de aprofundar o enfrentamento com o Judiciário e pretende promover um calendário de manifestações pelo país com a ajuda de movimentos sociais como o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e outros integrantes da Frente Brasil Sem Medo. A ideia é seguir na desqualificação das sentenças que condenaram Lula com o argumento de que fazem parte de uma espécie de complô para tirar o ex-presidente da eleição neste ano.

 

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