Para cientista político, condenação dificulta "vitimização" de Lula
Guilherme Azevedo
Do UOL, em São Paulo
O cientista político José Álvaro Moisés, da USP (Universidade de São Paulo), afirma que a condenação em segunda instância do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nesta quarta-feira (24), compromete o suposto processo de autovitimização do maior líder do PT.
"A condenação por unanimidade [3 a 0], com o aumento da pena, introduz narrativa nova na tentativa de Lula se apresentar como vítima. Agora, isso ficou mais dífícil", avalia.
Para Moisés, o julgamento do recurso do petista pela 8ª Turma do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), em Porto Alegre, transmitido ao vivo, mostrou para a população a transparência do processo, os argumentos da acusação e a avaliação dos juízes, com respeito à manifestação da defesa do ex-presidente.
"Isso compromete a tese da perseguição", pontua o cientista político.
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Lula tem repetido, como estratégia de defesa, que é vítima das elites brasileiras, que tentariam, via abuso da Justiça, barrar sua nova intenção de concorrer à Presidência. O petista é o líder das intenções de voto, com cerca de 30%, segundo a pesquisa Datafolha divulgada em dezembro último.
Moisés afirma também que a condenação "enfraquece a situação eleitoral de Lula e ao mesmo tempo introduz uma tensão na disputa". Essa tensão viria exatamente da tentativa do pré-candidato se apresentar a qualquer custo como concorrente, mesmo contra a lei, impulsionado pela tese do perseguido político.
"O PT tem demonstrado, em seu DNA, dificuldade de aceitar a democracia e o império da lei, de que não há ninguém acima da lei", critica o professor.
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- http://noticias.uol.com.br/enquetes/2017/12/12/voce-acha-que-lula-sera-candidato-em-2018.js
Para o especialista, a tendência, agora, é a pré-candidatura de Lula perder força. "O Lula tem esse 'recall' [lembrança] nas pesquisas e vai cair, porque a população vai se dar conta de que ele é responsável pela corrupção e pela crise atual. O julgamento foi mais um passo para isso."
Questionado se o movimento recente de Lula na direção do apoio das antigas bases do PT, o movimento sindical e de reforma urbana e agrária (metalúrgicos, MTST e MST), poderia ser uma espécie de refundação do partido, Moisés disse que não.
"A única refundação possível do PT é assumir a corrupção, os erros que cometeu e pedir desculpas. Mas o partido se comporta como se a sociedade brasileira fosse idiota."
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