Lula dobrou gravações para programas eleitorais em 2016 comparado com 2012

Pablo Raphael

Do UOL, em São Paulo

  • Fabio Braga/Folhapress

    Lula intensificou sua participação na campanha de Haddad já na reta final do primeiro turno

    Lula intensificou sua participação na campanha de Haddad já na reta final do primeiro turno

Mesmo acusado pelo Ministério Público Federal de "comandante máximo" do esquema de corrupção investigado pela operação Lava-Jato e sob a sombra do impeachment de Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem participado intensamente das eleições municipais deste ano. Em comparação com 2012, a presença do ex-presidente dobrou nos programas eleitorais. 

Lula gravou participações para os programas eleitorais de mais de 400 candidatos, entre prefeitos e vereadores, em todo o Brasil, segundo o Instituto Lula. Em 2012, o ex-presidente participou de 204 programas. Vale notar que, na época, o ex-presidente estava se recuperando da remoção de um tumor na laringe.

Em São Paulo, Lula intensificou sua presença ao lado de Fernando Haddad (PT), candidato a reeleição em São Paulo, na última semana da corrida eleitoral, mas sua presença tem sido mais tímida do que na disputa de quatro anos atrás.

Lula pediu votos para o atual prefeito da capital paulista no domingo (25), na terça (27) e estará junto com ele no dia 30. Em 2012, Lula começou a aparecer na campanha de Fernando Haddad 14 dias antes, em 11 de setembro.

Em 2012, foi Lula quem apresentou Haddad como candidato na TV. Este ano, o prefeito usa o tempo na telinha, que caiu drasticamente, para destacar realizações nas áreas de mobilidade, educação e saúde. Em 2012, o petista tinha 7 minutos e 39 segundos. Em 2016, são apenas 2 minutos e 35 segundos.

Nos programas de Fernando Haddad em 2012, Lula foi citado quatro vezes, apareceu durante quase 1 minuto do programa ao lado do então candidato a prefeito de São Paulo. Em 2016, o ex-presidente ainda não apareceu no programa de Haddad exibidos durante o primeiro turno.

Facebook PT - Diretório Municipal de São Paulo/Reprodução
Na convenção do PT em junho, o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, comemorou junto com Lula e o candidato à vice pelo PDT, Gabriel Chalita (à esquerda) a oficialização da candidatura para tentar sua reeleição

Além de fazer campanha para Haddad, Lula participou de eventos com candidatos em sete capitais e outras cidades do Nordeste, no Rio de Janeiro e estará hoje em Campinas (SP). 

Distância do padrinho político

Na reta final do primeiro turno, o prefeito de São Paulo está sempre ao lado de Lula, mas durante a campanha, houve um distanciamento da figura do ex-presidente. Para o cientista político Roberto Romano, Lula tomou cuidado para "não queimar" a candidatura de Haddad logo no começo. "Agora, estando definida a falta de popularidade de Haddad, Lula se sente à vontade para apoiar a candidatura. Não será possível aos seguidores do prefeito culparem Lula pelo resultado, nem dizer que ele abandonou Haddad".

O ex-presidente é um personagem influente junto aos eleitores: Após aparecer ao lado de Fernando Haddad no último domingo, as intenções de voto no atual prefeito de SP subiram de 9% para 12%, colocando Haddad em um empate técnico com Marta Suplicy (PMDB). Romano aponta que Lula, mesmo com toda a corrosão em sua popularidade nos últimos anos, ainda é um líder importante. "É o líder político com mais seguidores no país", diz o cientista. "Mas não se sabe o impacto dele em São Paulo".

"Lula tem muitos seguidores no Brasil todo, mas se isso é o bastante para levar a candidatura de Haddad para o segundo turno e além, é uma coisa muito diferente", explica o cientista político.

A campanha de Fernando Haddad para a reeleição tenta manter o prefeito de São Paulo longe de polêmicas como a Operação Lava-Jato e o impeachment de Dilma Roussef, temas que cercam Lula onde quer que ele vá. Mas mesmo os eleitores fiéis do partido reconhecem que a crise política afetou a imagem do prefeito.

É o que acredita Josué Delfino, 58: "A perseguição ao Lula e ao PT tem impacto na eleição, por isso o Haddad está mal nas pesquisas. Ele fez uma administração corajosa, melhorou a cidade. Mas o povo acaba associando ele com tudo o que está acontecendo no país".

Josué, que foi militante do PT nos anos 1990, acha importante Lula aparecer na campanha. "Ele não pode se acovardar com a perseguição política, temos que nos inspirar nele e ir para a rua, não é hora de abaixar a cabeça".

Pablo Raphael/UOL
"Se o Haddad e outros candidatos do PT perderem as eleições, vai ser hora de reinventar o partido", diz o eleitor Josué Delfino. "Pensar no que fez de errado e em como levar a bandeira adiante, para atrair novos eleitores no futuro".

"Fla-Flu" político na eleição em SP

Enquanto Haddad se concentra em ressaltar as conquistas e projetos de seu primeiro mandato, Lula reforça o engajamento dos petistas "contra o golpe", levando para a votação deste domingo o clima de "Fla-Flu" político que se instalou no país desde 2014.

No discurso feito no "Ato da Virada" na noite de terça (27), em São Paulo, o ex-presidente disse que "Haddad é o único que pode se contrapor a Temer". Lula sugeriu que Temer planeja se desfazer do Banco do Brasil, da Caixa Econômica Federal e vender a Petrobrás.

Segundo o ex-presidente, reeleger Haddad seria "uma forma de enfrentar a política de desmonte que se pretende fazer no país". O nome de Michel Temer foi citado por todas as personalidades que subiram ao palco do evento para falar de Fernando Haddad, sempre com o bordão "Primeiramente, 'Fora, Temer' ".

Para o cientista político Roberto Romano, essa estratégia de segmentação da sociedade não é uma boa decisão do PT. "Desde sua primeira eleição presidencial, Lula se deu muito bem com o programa multi-ideológico e multi-partidário", aponta. "Mesmo em SP, para eleger Haddad, Lula buscou a benção de Paulo Maluf". Segundo Romano, o discurso atual serve apenas para manter os eleitores atuais votando no PT, e não em Marta ou Erundina, por exemplo.

"As eleições municipais serão uma verificação da coesão interna do PT. Conforme o resultado, você vai saber qual o contingente dos eleitores que permanecem fiéis, se haverá um aumento ou diminuição, não apenas nos cargos, mas também na militância de base", conclui o cientista. "Pela primeira vez em sua existência, o PT vai mostrar se, de fato, tem condições para se manter como um partido ou se vai se esfacelar e terá que se refundar absolutamente".

A última participação de Lula na campanha de Fernando Haddad para a reeleição em São Paulo será uma caminhada na Rua 25 de Março, prevista para sexta-feira, 30 de setembro.

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