Dilma é campeã de votos em cidades que têm homenagem a ditadores no nome

Carlos Eduardo Cherem

Do UOL, em Belo Horizonte

Dilma Rousseff (PT) venceu a candidatura de Aécio Neves (PSDB) no segundo turno em municípios brasileiros que têm seus nomes em homenagem a ditadores. No Maranhão, a cidade de Presidente Médici deu a Dilma 2.815 votos (85,41% dos votos válidos) e 481 (14,59%) a Aécio. O município tem o nome de Presidente Médici em homenagem ao general Emílio Garrastazu Médici (1905-1985), que governou o país no período mais duro do regime militar, entre 1969 e 1974, quando a presidente foi presa e torturada.

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Votação em Presidente Médici (MA)

Embora Aécio tenha vencido o pleito em outra cidade chamada Presidente Médici, esta em Roraima, superando Dilma com 53,04 % dos votos (5.893), e em Medicilândia (PA), que também homenageia Médici, Aécio foi vencedor, com 65,03% dos votos, contra 34,07% de Dilma.
 
A petista bateu o tucano no município paranaense que homenageia o marechal Humberto de Alencar Castello Branco (1897-1967), primeiro presidente do regime militar, e que governou o país entre 1964 e 1967. 
 
Em Presidente Castelo Branco (com um "l" só), no Paraná, o tucano teve somente 37,61% dos votos (1.173) diante de 1.946 votos de Dilma (62,39%).

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Raio-X votação em Presidente Médici (RO)

O mesmo bom desempenho eleitoral a petista conseguiu em Presidente Figueiredo, no Amazonas, onde teve 75,45% (9.676 votos) dos votos frente a 3.148 votos (24,55%) de Aécio. O nome do município homenageia o ex-presidente João Baptista de Oliveira Figueiredo (1918-1999), último presidente do regime militar, entre 1979 e 1985.

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Raio-x da votação em Presidente Castelo Branco (PR)

No município de Presidente Vargas, no Maranhão, Dilma teve 89,14% dos votos (7.294 votos) e Aécio 889 votos (10,86%). Getúlio Dornelles Vargas (1882-1954) governo o país em dois momento distintos: entre 1930 e 1945 e entre 1951 e 1954. No período entre 1937 e 1945, o regime foi ditatorial.

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Raio-X da votação em Presidente Figueiredo (AM)

Em 1964, quando o cearense Castello Branco ocupava a Presidência, Dilma Rousseff, aos 16 anos, começou a atuar no movimento estudantil em Belo Horizonte. Á época, a presidente leu o livro "Revolução na Revolução", do francês Régis Debray, e optou pela luta armada. Nesse período, conheceu seu primeiro marido, Cláudio Galeano de Magalhães Linhares, que também lutava contra o regime militar.

Em 1969, o general Emílio Garrastazu Médici ocupava o mesmo gabinete que Dilma usa há quase quatro anos no Palácio do Planalto quando o grupo armado de Dilma foi desmontado em Belo Horizonte. Ela entrou para a clandestinidade, mudou-se para o Rio de Janeiro e casou-se novamente com Carlos Franklin Paixão de Araújo, do PCB (Partido Comunista do Brasil). Em 1970, ela mudou-se para São Paulo, onde manteve sua atuação junto ao grupo, e foi presa em janeiro de 1970. Torturada nas prisões do regime militar, foi condenada e cumpriu dois anos e um mês de prisão. Deixou o presídio no fim de 1972 com 57 quilos, dez quilos mais magra, e com uma disfunção na tireoide.

Às vésperas da posse do general João Batista de Oliveira Figueiredo, em 1978, Dilma ingressou na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), após ter concluído sua graduação em economia na UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul). Voltou para o Rio Grande do Sul e, em 1985, quando o último presidente militar deixava o Planalto, Dilma dedicou-se à eleição de Alceu Collares (PDT) à Prefeitura de Porto Alegre. Sua casa virou comitê de campanha e ali foi feito o programa de governo do pedetista, do qual Dilma tornou-se secretária da Fazenda.

Em 2011, Dilma tomou posse como primeira mulher a ocupar a Presidência do país. No primeiro almoço que ofereceu no Palácio do Planalto, recebeu suas ex-companheiras de prisão. Dez meses depois de assumir o governo, a presidente sancionou a lei que instituiu a Comissão da Verdade, com o objetivo de esclarecer violações dos direitos humanos no país no período entre 1946 e 1988.

Aécio perde em Tancredo Neves

Nas eleições deste ano, Dilma superou Aécio Neves na cidade que homenageia em seu nome o único presidente vivo da lista de 20 cidades brasileiras (cinco delas em São Paulo e outras cinco na Bahia) que têm nomes de ex-mandatários: Presidente Sarney, no Maranhão.

O município que deu a Dilma 89,14% (7.294) de seus votos homenageia o senador José Ribamar Ferreira Araújo da Costa Sarney (1930), que governou o país entre 1985 e 1990, após suceder Tancredo de Almeida Neves (1910-1985), que adoeceu em 14 de março de 1985, 24 horas antes de tomar posse na Presidência. Ele morreu em 21 de abril do mesmo ano.

A cidade de Presidente Tancredo, na Bahia, por sua vez, embora homenageie o avô de Aécio no nome, votou majoritariamente em Dilma, embora por margem pequena: 52 votos. Em Presidente Tancredo, a petista superou com 9.676 (50,20%) votos o tucano, que teve 6.507 (49,80%) votos.

A petista ainda superou o tucano nas três cidades que homenageiam em seus nomes o ex-presidente mineiro Juscelino Kubitschek de Oliveira. Em Presidente Kubitschek, em Minas Gerais, Dilma teve 70,02% (1.308) votos frente a 560 (29,98%) votos de Aécio.

Em Presidente Juscelino, também em Minas, a petista teve 1.896 (72,62%) votos. Em Presidente Juscelino, no Maranhão, foram 5.152 (92,88%) votos para Dilma.

República Velha

Aécio, entretanto, foi vitorioso nos cinco municípios paulistas cujos nomes homenageiam ex-presidentes da República, todos eles governantes anteriores a 1930, no período da República Velha.

Aécio venceu em Presidente Bernardes com 59,73% (4.869) dos votos. Em Presidente Venceslau teve 68,49% dos votos, Presidente Epitácio (59,41%), Presidente Prudente (70,20%) e, finalmente, Presidente Alves (66,83%).

Esses municípios têm nomes que homenageiam, respectivamente, os ex-presidentes Arthur da Silva Bernardes (1875-1955), que governo entre 1922 e 1926; Venceslau Brás Pereira Gomes (1868-1966), entre 1914 e 1918; Epitácio Lindolfo da Silva Pessoa (1865-1942), entre 1919 e 1922; Prudente José de Moraes e Barros (1841-1902), entre 1894 e 1898; e, finalmente, Francisco de Paula Rodrigues Alves (1848-1919), entre 1902 e 1906.

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