Católicos ou evangélicos: quem pode decidir a eleição no Rio de Janeiro?

Paula Bianchi

Do UOL, no Rio

  • Gustavo Serebrenick/Brazil Photo Press

    Bispo licenciado da Igreja Universal, Crivella surpreendeu ao ir para o 2º turno com Pezão

    Bispo licenciado da Igreja Universal, Crivella surpreendeu ao ir para o 2º turno com Pezão

Além das propostas de governo, o tema religião tem sido um dos mais frequentes na campanha eleitoral para o governo do Rio de Janeiro. O governador e candidato à reeleição Luiz Fernando Pezão (PMDB) passou a explorar a questão assim que o senador Marcelo Crivella (PRB) garantiu vaga no segundo turno da disputa. "Você quer um Estado governado pelo bispo Macedo?", diz uma das inserções mais usadas pela campanha peemedebista, fazendo referência ao líder da IURD (Igreja Universal do Reino de Deus), Edir Macedo. Crivella é sobrinho de Macedo e bispo licenciado da Universal.

Para especialistas ouvidos pelo UOL, o debate sobre religião coloca em foco não o eleitor evangélico pentecostal, que, historicamente, costuma votar em candidatos vinculados à religião, mas o eleitor católico. "Ainda que o catolicismo venha perdendo adeptos, continua sendo a maior parte do eleitorado", explica o sociólogo e autor do livro "O Voto do Brasileiro", Alberto Carlos Almeida.  "Esse eleitorado, mesmo o católico não praticante, não faz alarde, mas não vota em candidatos que tenham uma imagem fortemente evangélica", afirma Almeida. "É o que eu chamo de voto silencioso dos católicos."

Os evangélicos pentecostais, que em 1980 eram 3% da população do Estado do Rio, chegaram a 15,8% em 2010, segundo o IBGE, acima da média nacional, de 13,3%. Enquanto isso, no mesmo período, os católicos passaram de 80,6% da população fluminense para 46,3%. Segundo o sociólogo, essa tendência faz com quem os candidatos de forte característica evangélica tenham bom desempenho em eleições legislativas, mas decaiam em votações majoritárias.

No segundo turno, Crivella recebeu o apoio do candidato derrotado do PR, Anthony Garotinho – o deputado federal e ex-governador é evangélico e com frequência menciona a igreja a que pertence. Juntos os dois conquistaram 39,99% dos votos válidos contra os 40,57% de Pezão.

Frente à aliança, o peemedebista abriu o horário eleitoral na TV com a reprise de uma reportagem do Fantástico exibida em 1995, na qual bispo Macedo ensina pastores da Universal a convencer os fiéis a doar dinheiro para a igreja. Em debate na rede CBN na terça-feira (14), Pezão chegou a acusar Crivella de ser testa de ferro de Macedo e reiterou que candidato mistura política com religião.

O professor Cesar Romero Jacob, um dos autores do Atlas da Filiação Religiosa e Indicadores Sociais no Brasil, cita a eleição presidencial de 2002 em que Garotinho não passou para o segundo turno como exemplo do papel da rejeição católica em eleições majoritárias. "Sem chegar a dizer que todos os pentecostais votaram em Garotinho, observa-se uma enorme semelhança entre o mapa das votações do candidato evangélico e o da porcentagem de pentecostais na população total", explica. "Quando o candidato tem uma marca religiosa muito forte, ele tem o piso alto, começa muito bem, mas o teto baixo; a rejeição é muito grande. Onde o Rio é mais católico o voto do Garotinho nesta eleição de 2002 foi pífio."

Jacob diz ainda que esta eleição apresenta um fator diferente – a divisão entre as igrejas, já que Crivella não conta com o apoio de Silas Malafaia, nome forte da também pentecostal Assembleia de Deus. "O que não quer dizer que Malafaia vai ser seguido."

Em sua defesa e a fim de conquistar os cerca de 1,6 milhão de eleitores que o separam da votação de Pezão, Crivella repete sempre que possível que está licenciado de suas funções na igreja. "As pessoas têm direito à liberdade religiosa", afirmou candidato durante o debate da CBN.

Para o professor Jacob, o senador, que disputa sua sexta eleição para um cargo Executivo, terá que tirar a marca de evangélico pentecostal para chegar ao governo. "Ele vai precisar mostrar que governa para todos para poder tirar o peso desses 46% [de católicos)", afirma. Almeida vai mais longe. "Crivella tinha que ter ido a muita a missa no primeiro turno, agora é tarde. É muito difícil um eleitorado majoritariamente católico eleger um evangélico", afirma.

Para o professor, o senador terá que tirar a marca de evangélico pentecostal, mostrar que governa para todos, para poder tirar o peso desses 46%. "Se os fiéis vão votar no irmão, já não sabemos."

Eleições 2014 no Rio de Janeiro
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