Feliciano usa foto de Serra e Alckmin em panfleto de teor homofóbico

James Cimino

Do UOL, em São Paulo

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    Panfleto distribuído via correio pelo candidato Marco Feliciano (PSC) associa imagem de Alckmin e Serra (PSDB) a mensagens homofóbicas; Alckmin aprovou lei anti homofobia em SP em 2001

    Panfleto distribuído via correio pelo candidato Marco Feliciano (PSC) associa imagem de Alckmin e Serra (PSDB) a mensagens homofóbicas; Alckmin aprovou lei anti homofobia em SP em 2001

O candidato à reeleição e deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP) está enviando um panfleto eleitoral por correio, com conteúdo homofóbico, pedindo votos para si e para os candidatos Geraldo Alckmin e José Serra (ambos do PSDB-SP).

O panfleto, em formato de carta, diz que o motivo de sua carta "é muito sério" e, em seguida, enumera algumas leis e projetos de lei que, segundo ele, "ferem a igreja de Cristo". Não há no conteúdo qualquer proposta para as áreas de educação, saúde, reforma política e tributária, previdência e corrupção.

Dentre os projetos citados pelo pastor, há "a mais séria lei que passou pelo Congresso, a PL 122, a lei contra a homofobia". No texto, Feliciano diz que essa lei, caso aprovada "obrigará líderes religiosos a fazerem o casamento entre pessoas do mesmo sexo, correndo risco de prisão". O texto do PLC 122, no entanto, não faz qualquer referência à obrigação citada.

Feliciano critica ainda um projeto de lei que pretende transformar em lei municipal a Parada do Orgulho Gay e diz que esse é o primeiro passo para que os LGBTTs "implantarem o início de seu governo promíscuo". O texto ainda critica a lei do PSIU, que, segundo ele, fechou mais de 300 igrejas em São Paulo e Rio.

A reportagem do UOL procurou a assessoria de imprensa do PSDB, que afirmou que "a propaganda em questão não foi confeccionada pelas campanhas do PSDB, que sequer tinham conhecimento dela. O texto não expressa as opiniões do partido". O governador Geraldo Alckmin inclusive foi quem assinou a lei estadual que pune homofobia em São Paulo.

O chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, disse por telefone que a carta é pessoal e assinada por Marco Feliciano e que a inclusão dos nomes de Alckmin e Serra no panfleto é porque são da mesma chapa. "A gente coloca até como uma gentileza com eles. Mas não nos preocupamos se eles concordam ou não. É o pastor quem está falando."

Marina Silva

Cerca de duas semanas atrás, um panfleto dos candidatos Ezequiel Teixeira (SD-RJ) e Edino Fonseca (PEN-RJ) se utilizou da mesma prática para colar sua imagem à da candidata Marina Silva (PSB). O material, no entanto, era mais agressivo ainda.

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Cartilhas com conteúdo homofóbico distribuída pelos candidatos Edino Fonseca (PEN) e Ezequiel Teixeira (SD) no Rio de Janeiro usa imagem da candidata Marina Silva (PSB) sem autorização
Em 24 páginas (leia aqui a integra do documento), a revista com Fonseca, Teixeira e Marina anuncia: "Veja os planos do anticristo: nova ordem mundial contra a família e a igreja" (a palavra "Veja" é escrita com a mesma tipografia usada pela revista da editora Abril).

O anticristo, no caso, são os homossexuais, prostitutas, ateus, comunistas, "abortistas", usuários de drogas e o governo Dilma, a quem acusa de "dominar a mente do povo com a legalização das drogas", acusa o governo do PT de querer legalizar a eutanásia, para "matar os mais velhos" e diminuir os gastos do SUS, e o aborto, para provocar um "extermínio" e comercializar os órgãos dos fetos abortados. Há inclusive uma tabela de preços de um suposto "mercado do feto". Diz ainda que a legalização do aborto provocará um aumento da pedofilia, porque as meninas estupradas serão obrigadas a abortar para esconder o crime.

Nas páginas seguintes, a revista diz que a criminalização da homofobia permitirá que os gays pratiquem sexo dentro das igrejas, além de dizer que gays, lésbicas e transexuais são doentes mentais.

Após denúncia do candidato a deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ), a candidata do PSB à presidência chamou o material de "criminoso" e acusou Edino Fonseca, responsável pela confecção do panfleto, de usar de forma indevida sua imagem. A campanha da candidata soltou uma nota de repúdio aos panfletos que afirmou ter "cunho homofóbico e amplamente discriminatório". A campanha ainda afirmou que entraria na Justiça para que o material fosse apreendido. Leia abaixo a nota na íntegra:

A Coligação Unidos pelo Brasil vem a público repudiar de forma veemente o uso criminoso e indevido da imagem de Marina Silva em panfletos de cunho homofóbico e amplamente discriminatório, assinados com o CNPJ da campanha de Édino Fonseca, candidato a deputado estadual pelo partido PEN/RJ, que cita também Ezequiel Teixeira, candidato a deputado federal pelo Solidariedade/RJ.

A Coligação vai acionar a Justiça para a busca e apreensão, bem como proibição de distribuição do material, que estimula o ódio e a violência contra pautas diferenciadas dos movimentos feminista e negro.

O programa de governo da candidata à Presidência Marina Silva não deixa dúvidas quanto à cultura de paz e de garantia ampla dos direitos humanos: "Não podemos mais permitir que a dignidade das minorias sexuais continue sendo violada em nome do preconceito. É preciso olhar com respeito os grupos hoje discriminados." O programa aponta como fundamentais políticas, leis e programas destinados a reparar injustiças históricas e a aproximar, cada vez mais, a cidadania cotidiana da definida como ideal pela sociedade em sua lei maior.

A reportagem procurou os candidatos Edino Fonseca e Ezequiel Teixeira, mas não conseguiu resposta deles sobre o material. O UOL também procurou o TRE-RJ para saber se houve a apreensão do material, mas foi informado que, "pelo menos na cidade do Rio de Janeiro", a cartilha de Fonseca e Teixeira não havia sido recolhida.

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