Disputa entre Marina e Aécio revive duelo de Brizola contra Lula em 89

Guilherme Balza

Do UOL, em São Paulo

  • Folhapress

    Do lado esquerdo, Brizola anuncia apoio a Lula após ser derrotado no 1º turno; no lado direito, Marina e Aécio se cumprimentam

    Do lado esquerdo, Brizola anuncia apoio a Lula após ser derrotado no 1º turno; no lado direito, Marina e Aécio se cumprimentam

A reta final do primeiro turno da eleição presidencial deste ano, marcada por uma disputa acirrada pelo segundo lugar entre Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), com Dilma Rousseff (PT) isolada em primeiro, remete à eleição de 1989, quando Leonel Brizola (PDT) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) brigaram voto a voto por um lugar no segundo turno contra Fernando Collor (à época do PRN).

Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada ontem (2), Dilma tem 40% das intenções de voto, contra 24% de Marina e 21% de Aécio, o que configura empate técnico entre a ex-senadora e o tucano, já que a margem de erro é de dois pontos percentuais.

Há um mês, Marina tinha 34% das intenções e estava empatada tecnicamente com Dilma no primeiro lugar. Já Aécio tinha apenas 14%.

A disputa entre Brizola e Lula foi considerada a mais acirrada entre todas as eleições livres que já haviam ocorrido no país.

A poucos dias do pleito, a presença do pedetista no segundo turno era dada como certa pela maioria dos institutos de pesquisa. Collor estava isolado no primeiro lugar.

Com apoio de artistas, intelectuais e da militância petista, Lula cresceu conforme a votação foi se aproximando até terminar o primeiro turno com cerca de 500 mil votos a mais do que Brizola. O placar foi 16,08% para o petista contra 15,45% do pedetista --Collor obteve 28,5% dos votos.

Naquele ano, a apuração arrastou-se por três dias --não havia urna eletrônica. Lula e Brizola revezavam-se no segundo lugar a cada parcial.

Neste ano, a definição de quem vai para o segundo turno deverá ocorrer já na noite do domingo (5).

Contextos diferentes

Lula e Brizola eram os líderes das duas principais referências da esquerda naquele período --PT e PDT, respectivamente. Marina tem origem na esquerda, mas hoje é crítica do que ela chama de lógica da polarização.

Aécio pertence a uma sigla que, originalmente, possuía posicionamentos de centro-esquerda, mas progressivamente foi alinhando-se ao centro e à centro-direita.

Com discurso moralista, Collor se postulava como a alternativa à polarização entre o esquerdismo trabalhista do PDT e o governismo do PMDB, que estava na Presidência com o mal avaliado José Sarney e tinha como candidato era Ulysses Guimarães.

O PT, com militância robusta, força entre os sindicatos, mas ainda pouco expressivo eleitoralmente, era a alternativa à esquerda.

No cenário atual, Dilma representa a continuidade do projeto lulista, que dirige o país desde 2003.

Aécio é o candidato da chamada oposição tradicional. Marina se apresenta como terceira via e tenta vocalizar o desejo de mudança do eleitorado.

Em 1989, o PDT era forte no Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro, mas não tinha grande expressão em outras regiões do país. Já o PT, embora fraco institucionalmente, possuía diretórios e sindicatos em todas as unidades da federação.

Hoje, PT e PSDB possuem uma estrutura forte e candidatos a governador na maioria dos Estados. A despeito do crescimento eleitoral nos últimos anos e da força no Nordeste, sobretudo em Pernambuco, o PSB ainda tem pouca expressão nacional se comparado aos petistas e tucanos.

Em muitos Estados, os socialistas ficam a reboque de PT e PSDB.

Fim ou continuidade da polarização?

Nas eleições de 89, a disputa pela presidência era pulverizada, com quadros históricos dos principais partidos concorrendo ao mais alto posto do país. Havia menos coligações e elas eram formada por quantidade menor de partidos, se comparada às eleições seguintes.

Quatro candidatos alcançaram votação superior a 10% dos votos. Além de Collor, Lula e Brizolla, Mário Covas (PSDB) conquistou 10,8% do eleitorado. Havia ainda Paulo Maluf (do antigo PDS), que recebeu 8,3% dos votos; Afif Domingos (PL), 4,5%; e Ulysses Guimarães, 4,4%.

As eleições seguintes (94, 98, 2002, 2006 e 2010) foram marcadas pela polarização entre PT e PSDB e um terceiro candidato correndo por fora. A quebra da dualidade foi ameçada apenas em 2002, quando Anthony Garotinho (PDT) obteve 18% dos votos no primeiro turno, contra 23% de Serra.

Até alguns dias atrás, tudo indicava que Marina quebraria a polarização e iria para o segundo turno com Dilma, deixando o PSDB de fora pela primeira vez desde 1994. Alvo de ataques de tucanos, que a acusam de falta de preparo, e de petistas, que criticam-na por supostamente mudar de opinião conforme a conveniência, Marina entrou em trajetória descendente, da qual não consegue sair, há um mês.

Resta saber se, nos próximos dias, a ex-senadora continuará a cair e Aécio irá manter a tendência de alta.

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