Morte de Campos não afetou Marina em pesquisa, diz diretor do Datafolha

Do UOL, em São Paulo

O diretor-geral do Instituto Datafolha, o sociólogo Mauro Paulino, afirmou em entrevista na noite desta segunda-feira (18) ao "Roda Viva", da TV Cultura, que a comoção gerada pela morte de Eduardo Campos (PSB) teve impacto reduzido ou até nulo no desempenho de Marina Silva (PSB) na pesquisa divulgada pelo Datafolha hoje.

No levantamento, a presidente Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição, obteve 36% das intenções de voto, contra 21% de Marina e 20% do senador Aécio Neves (PSDB-MG). Na pesquisa anterior, realizada pelo Datafolha há um mês, Dilma tinha os mesmos 36%, Aécio, 22%, e Campos, 8%. Nesta quarta-feira, Mariana deve ser confirmada candidata à Presidência.

"Acredito que [o impacto da morte] foi muito pouco, talvez nenhum. Marina obteve percentual muito parecido com o que ela obteve em 2010 (18%) e próximo ao que ela obteve na pesquisa anterior [27%, em abril deste ano]. A proporção de votos da Marina praticamente não alterou, o que nos leva a crer que isso (os 21%) é um capital eleitoral que ela tem", afirmou Paulino, com a ressalva de que é necessário sempre observar o contexto em que cada pesquisa é realizada.

Para o diretor do Datafolha, a eleição presidencial "está muito aberta", e tanto a reeleição de Dilma, quanto a existência de um eventual segundo turno, são incertos. "Nada é inevitável. A gente acabou de ter uma reviravolta, mas, mesmo considerando que não mude muita coisa, é uma eleição que ainda está muito aberta."

Na avaliação do entrevistado, a eleição atual é muito peculiar: começou cedo, em junho de 2013, em meio à onda de protestos que "despertaram o eleitor" e "radicalizaram o desejo de mudança" e "de melhoria dos serviços públicos". Além disso, de lá para cá, houve a aliança da Rede com o PSB e a realização da Copa do Mundo, que mexeu com os ânimos do eleitorado, de acordo com o sociólogo. 

Paulino afirmou que, desde que as urnas eletrônicas foram adotadas, há uma tendência maior a ter segundo turno em função da redução de votos nulos, já que antes muitos votos eram anulados por erros no preenchimento das cédulas. O sociólogo disse que a entrada de Marina na disputa reduz, mas não elimina, as chances de uma vitória de Dilma já no primeiro turno.

"Não fecho questão nisso até porque Dilma reagiu agora, melhorou a avaliação [de governo] (...) mas a chance maior hoje, principalmente com a entrada da Marina, é que a eleição vá para o segundo turno", disse.

Economia e serviços públicos

Segundo o diretor do Datafolha, o interesse pela eleição atual está mais baixo do que nas eleições anteriores, tanto que, "pela primeira vez, a maioria dos brasileiros não votaria se não fosse obrigatório".

O fator que pode ser decisivo neste pleito, disse Paulino, será a comunicação e "a forma como cada um vai se dirigir ao eleitor" e "mostrar soluções principalmente para questões ligadas ao dia-a-dia". "O eleitor espera uma comunicação mais autêntica, menos plastificada", afirmou. 

Para Paulino, a melhoria dos serviços públicos, e não só a economia, é um tema que irá atrair a atenção do eleitor neste ano. Ele aponta como fator que pode ser decisivo na disputa presidencial o aumento ou a manutenção da taxa de desemprego, hoje abaixo de 5%. "[A baixa taxa de desemprego] é algo que sustenta a Dilma até hoje. São poucos brasileiros que temem perder o emprego. Isso dá uma sensação de segurança."

Eleitor de Marina

O sociólogo afirmou que o eleitor de Marina tem o mesmo perfil dos que participaram dos protestos de junho: jovem, escolarizado, com renda alta. "É a classe média tradicional." O perfil deste eleitorado, no entanto, contrasta, ao menos no que tange às preferências programáticas, com outro público-alvo de Marina: os evangélicos, que terão ainda mais peso nestas eleições, segundo Paulino.

De acordo com o diretor do Datafolha, os adversários de Marina, num primeiro momento, vão ter de "equilibrar" os ataques à candidata por conta da morte de Campos. 

Cabos eleitorais

Ainda segundo Paulino, as pesquisas do Datafolha têm mostrado que Lula ainda é o "principal cabo eleitoral do país", já que mais de 30% do eleitorado votaria em alguém apoiado por ele. Na sequência aparecem o ex-ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Joaquim Barbosa, a própria Marina e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja potencial de transferir votos é de 12% apenas.

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