Com PC do B distante, Delfim Netto se torna opção caseira para ser vice de Chalita em SP

Janaina Garcia

Do UOL, em São Paulo

O ex-deputado federal e ex-ministro Antonio Delfim Netto, 84, é um dos nomes analisados pelo PMDB em São Paulo para ser o vice do deputado federal Gabriel Chalita à prefeitura paulistana. Ele é o atual coordenador do programa de governo do peemedebista.

Segundo uma fonte da campanha de Chalita, o nome de Delfim é um dos preferidos pelo candidato caso o PMDB não feche acordo com o PC do B, que pode lançar Netinho de Paula para a prefeitura ou definir uma coligação com o PT de Fernando Haddad.

A parceria do PC do B com os petistas em âmbito municipal repetiria o apoio da sigla ao PT no governo federal, uma vez que a sigla integra a base de apoio à presidente Dilma Rousseff no Congresso.

Após uma conversa com representantes do Instituto de Engenharia, na Vila Mariana (zona sul), na tarde da segunda-feira (11), Chalita desconversou sobre o nome do ex-ministro para a chapa e disse que ainda aguarda os resultados das conversas com o PC do B, primeira opção. Além de Netinho, estão cotadas também para o posto a sambista e deputada estadual Leci Brandão e a vereadora Nádia Campeão.

“Acreditamos que no máximo até dia 20 agora definiremos o nome, mesmo porque, se houver algum recurso ou algo do tipo a respeito, teremos tempo de resolver o assunto até a convenção”, disse.

A convenção do PMDB está marcada para o próximo dia 24 no Pátio do Colégio, centro antigo de São Paulo. O pré-candidato do partido afirmou que a escolha “depende de um olhar” pelo interessado e no qual, garantiu, “não tenho preconceito”.

"Não sou candidato a um cargo religioso", diz Chalita

“Esse é um processo pelo qual os principais candidatos vão passar. Quero alguém de dentro da base, mas desde que seja ficha-limpa, que tenha tranquilidade, e não alguém que seja um peso para eu carregar”, definiu. Quanto questionado se o critério da ficha-limpa –lei que terá aplicabilidade, segundo o STF (Supremo Tribunal Federal), já para o pleito deste ano –será adotado para escolher o parceiro ou parceira de chapa, Chalita diz que "com certeza. Deus me livre, né?”

Analogia a Hélio Bicudo

Nos bastidores da campanha peemedebista, a escolha de um nome como o de Delfim poderia trazer impacto semelhante ao do jurista Hélio Bicudo à campanha de Marta Suplicy (PT) à prefeitura, na campanha de 2000. Um dos fundadores do PT, porém, Bicudo acabou declarando voto no tucano José Serra no segundo turno das disputa à Presidência da República, em 2010, uma vez que Marina Silva, do PV, que apoiara no primeiro turno, ficou em terceiro lugar na disputa.

A reportagem do UOL tentou contato com Delfim, mas foi informada, na casa do ex-ministro, que ele ainda não se manifestaria sobre o assunto.

Composição "tira votos de Serra", diz analista

Para o cientista político Carlos Melo, do Insper (Instituto de Ensino e Pesquisa), uma eventual definição por Delfim atrairia “setores conservadores hoje mais ligados ao PSDB” de José Serra e neutralizaria o “desconhecimento” do eleitorado por Chalita --além de atrair financiamentos de campanha desses mesmos setores.

“Para determinado eleitorado conservador, a presença dele vai dar credibilidade ao nome do Chalita, que é muito jovem e vinculado a setores da Igreja. Nos setores econômicos industriais, por exemplo, até se sabe quem é Gabriel Chalita, mas não se sabe qual seria sua postura como prefeito”, avaliou o analista.

Na avaliação de Melo, dentro do contexto de um eleitorado mais conservador, a combinação Chalita/Delfim tiraria votos de José Serra. “Porque quem vota no PT não vai mudar; já o perfil de eleitorado do PSDB é outro. Além disso, inclusive para o Chalita buscar financiamento de campanha isso pode trazer um impacto positivo –uma coligação dele com o PCdoB, por exemplo,  não acrescentaria praticamente nada. É um partido com pouquíssima interlocução com o empresariado”, comparou.

Se o histórico de Delfim no regime militar pode acarretar algum ônus ao PMDB? “Acho difícil. O PT, mesmo, vai dizer o quê de Delfim, que se tornou um dos principais conselheiros tanto de Dilma quanto do Lula?”, respondeu o analista.

Nos últimos anos, o ex-ministro foi um dos principais conselheiros nos dois mandatos de Lula na Presidência, feito repetido com a presidente Dilma Rousseff. Em 2006, não conseguiu se reeleger para a Câmara Federal --situação lamentada publicamente, à época, pelo próprio Lula.

Histórico

Ex-ministro de três presidentes do regime militar (Artur Costa e Silva, Emílio Garrastazu Médici e João Figueiredo), Delfim foi um dos mentores do chamado “milagre econômico” brasileiro, na década de 1970.

Economista formado pela Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP), onde é professor aposentado, ingressou na carreira pública por indicação de Roberto Campos, em 1966, como secretário da Fazenda de São Paulo. No ano seguinte, foi convidado por Costa e Silva para chefiar o Ministério da Fazenda. No governo Geisel, foi nomeado embaixador brasileiro na França (1974-1979).

A carreira parlamentar teve início na Assembleia Constituinte de 1986; depois, foi eleito deputado federal outras quatro vezes, mas sempre pelo mesmo grupo político –ainda que o partido tenha mudado de sigla no período (PDS, de 1980 a 1993; PPR, de 1993 a 1995; PPB, de 1995 a 2003; PP, de 2003 em diante).

UOL Cursos Online

Todos os cursos