Ex-homem forte da Câmara de Curitiba sai do PSDB e não poderá concorrer à reeleição

Rafael Moro Martins

Do UOL, em Curitiba

  • Divulgação

    Vereador João Claudio Derosso deixa o PSDB e não poderá se candidatar nas eleições de 2012

    Vereador João Claudio Derosso deixa o PSDB e não poderá se candidatar nas eleições de 2012

O vereador João Claudio Derosso, presidente da Câmara Municipal de Curitiba entre 1998 e 2011, pediu desfiliação do PSDB nesta segunda-feira (7). Com isso, não poderá sequer concorrer a um novo mandato nas eleições de outubro.

Com a decisão, ele evitou ser expulso pelos comandantes da legenda, que se reuniram no início da noite para avaliar seu destino. A expulsão de Derosso era dada como certa pelo presidente estadual em exercício do partido, o deputado estadual Valdir Rossoni.

Homem forte da Câmara até o final de 2011, Derosso fica de fora da disputa por um novo mandato como vereador, já que a legislação eleitoral determina que candidatos estejam filiados a um partido pelo menos um ano antes das eleições.

Derosso apresentou seu pedido de desfiliação numa carta escrita à mão, entregue aos líderes tucanos cerca de uma hora após iniciada a reunião. Lacônica, a carta não apresenta qualquer motivo para a decisão.

“Não dou entrevistas. A imprensa colaborou para essa sem-vergonhice (sic) da “Gazeta do Povo”. Vocês conseguiram”, disse Derosso ao UOL, com a voz embargada, minutos após o anúncio da desfiliação.

Ele se refere à série de denúncias apresentada pelo jornal, que o colocaram na alça de mira do Ministério Público e o levaram, em poucos meses, do comando incontestável da Câmara e possível candidato a vice-prefeito em outubro (ao lado do atual prefeito Luciano Ducci, do PSB) a um político sem chances sequer de buscar um novo mandato.

No fim da manhã, Derosso buscava se mostrar confiante. Em entrevista a emissoras de rádio, ele dizia ter certeza de que seria mantido no PSDB e afirmava que seria reeleito “com a maior votação de Curitiba”. Em 2008, ele foi o sétimo mais votado, com 1,1% do total de votos.

Tucanos afirmam que Derosso acreditava que até a última hora que seria poupado. Após a entrega da carta de desfiliação, o tom dos discursos era de alívio. “[A carta] Só definiu o que era o desejo da maioria. Se não tivesse vindo, ele teria sido afastado”, disse Rossoni.

“A situação dele era insustentável, prejudicava a imagem de ética e combate à corrupção do partido. [A decisão de Derosso] Tira do partido o peso de ter de expulsá-lo, pois nada fizemos para que situação dele ficasse insustentável”, avaliou o deputado federal Fernando Francischini, autor do pedido de expulsão do vereador.

No partido, avalia-se que a saída de Derosso é um alívio para a candidatura de Ducci, que tem no governador Beto Richa (PSDB) seu principal cabo eleitoral. Ainda que alguns tucanos temam que o vereador, possivelmente ressentido com a falta de apoio do partido, possa oferecer munição à oposição, a saída dele foi a melhor solução para o imbróglio. “Mais estrago ele faria se ficasse [no PSDB]”, resumiu um assessor da legenda.

Pela manhã, Richa, que até então evitara comentar o assunto, disse que as denúncias contra Derosso “incomodavam”. Presidente estadual da legenda, ele preferiu, porém, não participar da reunião desta noite, entregando o comando do partido a Rossoni, presidente da Assembleia Legislativa.

Mesmo sem legenda, Derosso deve seguir na Câmara até o fim de janeiro de 2013, quando se encerra seu mandato. Ele só deixa o posto antes disso se o PSDB requisitar o mandato à Justiça Eleitoral.

Saiba quem é João Claudio Derosso

Presidente da Câmara entre 1998 e 2011, João Claudio Derosso foi aliado importante dos últimos três prefeitos de Curitiba – Cassio Taniguchi (DEM, atualmente secretário estadual do Planejamento), Beto Richa (atual governador) e Luciano Ducci (eleito como vice de Richa).

Seu domínio começou a ruir com denúncias feitas no final de 2011 pela “Gazeta do Povo” de contratos superfaturados de publicidade.

Pouco depois, o Ministério Público propôs à Justiça ação para que Derosso devolva aos cofres públicos R$ 5,9 milhões “provenientes de fraudes” em licitações de serviços de publicidade.

A Câmara gastou quase R$ 35 milhões em publicidade entre 2006 e 2011. Uma das empresas contratadas para prestar serviços, a Oficina da Notícia, pertence à agora ex-mulher dele, a jornalista Claudia Queiroz Guedes.

Os promotores também suspeitam que a revista Câmara em Ação – que custou R$ 18,3 milhões – seja superfaturada, e tenha tiragem inferior à contratada. Por conta disso, ele pediu afastamento do cargo em novembro de 2011.

Ao menos parte dos R$ 35 milhões foi pago a empresas subcontratadas via notas fiscais emprestadas, mostra levantamento da “Gazeta do Povo”. O jornal também denuncia que o dinheiro financiou programas de rádio mantidos por vereadores – a denúncia envolve o atual presidente, João Cordeiro, o João do Suco (PSDB), o então líder do prefeito na casa, Roberto Hinça (PSD), afastado por conta das denúncias, e o ex-líder da oposição, Algaci Tulio (PMDB).

Tulio, ex-vice prefeito de Curitiba por duas vezes (de 1989 a 1992, com Jaime Lerner, e de 1999 a 2002, com Cassio Taniguchi, atual secretário estadual do Planejamento), admitiu ao jornal que comprava notas para receber o dinheiro.

Há cerca de dez dias, o Ministério Público do Paraná denunciou Derosso por nepotismo. Dessa vez, ele é acusado de contratar a sogra, Noêmia Queiroz Gonçalves dos Santos, e a cunhada, Renata Queiroz Gonçalves dos Santos, para cargos na Câmara.

Dias antes, o tucano virara réu em outra ação, em que o MP pede a devolução de R$ 2,5 milhões usados na “contratação de funcionários fantasmas”.

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