10/05/2010 - 10h56

Em debate, petista cobra clareza de Serra; tucano saúda "continuidade" pós-FHC

Diego Salmen
Do UOL Eleições
Em São Paulo

O presidente do PT, José Eduardo Dutra, cobrou a explicitação das propostas da oposição durante a campanha eleitoral. "Serra disse iria mudar os juros e o câmbio, mas eu queria saber em que direção", afirmou. Dutra e seu homólogo do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), participaram de um debate promovido pelo jornal O Estado de São Paulo nesta segunda-feira (10), na zona norte de São Paulo. Os dois debatedores concordaram em um ponto e arrancaram risos da plateia ao garantir que não haveria mais candidatos com "ficha suja" nas fileiras de seus partidos. Ambos são coordenadores das pré-campanhas de seus partidos à Presidência.

Guerra reconheceu avanços do governo Lula. "Méritos do governo atual? Muitos. O que nós deixamos claro é que isso é resultado da evolução de um processo feito por muitos brasileiros", disse. "Esse governo [de Lula] tem sucesso em grande parte por ter desenvolvido a política econômica que nós fixamos e as políticas sociais que inventamos".

O dirigente petista rebateu a afirmação. "Precisou vir uma crise econômica mundial para mostrar que o argumento da continuidade na política econômica é falacioso", afirmou. Ele ainda criticou a forma como a oposição se portou ao longo dos últimos anos. "Quando era líder da oposição no Senado, nunca subi à tribuna para ameaçar bater no presidente da República", lembrou, em referência às ameaças feitas pelo senador Arthur Virgílio (PSDB) em 2005, logo após o escândalo do mensalão.

Questionado sobre a necessidade de uma reforma na Previdência durante um eventual mandato da ex-ministra Dilma Rousseff, Dutra foi incisivo. "A reforma previdenciária não está no nosso programa [de Dilma Rousseff]", disse. Guerra, por sua vez, cobrou do governo Lula a reforma eleitoral ("o PT poderia ter sido mais incisivo na reforma no primeiro ano de mandato"), no que obteve a concordância do dirigente petista.

"Radicalização"

Sobre a declaração do presidenciável José Serra (PSDB) de que convidaria o PT para integrar seu governo caso fosse eleito, Guerra disse que o ex-governador de São Paulo não tem "nenhum preconceito". "É assim que o Serra trabalha. O Estado não pode ser aparelhado para as pessoas do seu partido (...) Se o cara for competente, ele vai buscar. Nós não aparelhamos nada", defendeu.

Guerra negou que haverá uma "radicalização" na disputa por parte do PSDB com a desqualificação da presidenciável petista. "PSDB tem buscado, sim, desqualificar a candidata Dilma Rousseff", Dutra, em referência ao registro de uma página na internet crítica à petista pelo tucano Eduardo Graeff, ex-secretário-geral do governo FHC e atual tesoureiro nacional do PSDB.

"O que nós queremos é o cumprimento da lei. Se não tiver desrespeito à lei, não vai ter processo", esclarceu Guerra ao ser questionado sobre a disputa judicial travada entre os dois partidos no TSE (Tribunal Superior Eleitoral). "A ministra Dilma não teria saído de 0% a 20% se não tivesse andado por aí por conta do PAC. É claro que ela fez campanha".

Indagado sobre o porquê de o PT supostamente ter trabalhado para minar a candidatura de Ciro Gomes (PSB) à Presidência, Dutra foi enfático. "Isso não tem a menor proximidade com a verdade", afirmou. "O pressuposto da candidatura era conseguir uma aliança com o PCdoB e com o PDT, e isso não aconteceu. Nossa posição sempre foi absolutamente respeitosa". Guerra opinou: "o fato concreto é que o PT desidratou Ciro".

PNDH e política externa

Ao comentar sobre o Plano Nacional de Direitos Humanos, proposto no início deste ano pelo governo federal, José Eduardo Dutra admitiu que houve um "problema" na condução do processo que levou ao plano. "Nossa preocupação não é com o Lula; é do PT sem o Lula", criticou o dirigente petista, que em seguiuda se referiu ao plano como "autoritário" e contrário "à liberdade de imprensa".

O dirigente do PT defendeu a política externa do governo Lula e sua manutenção caso Dilma seja eleita. "Nosso projeto é continuar nesse processo de ampliar nossos mercados e não abdicar da liderança do Brasil, especialmente na América Latina, e que garantiu o reconhecimento do presidente Lula em publicações de todo o mundo", disse.

Guerra, por sua vez, criticou a ambiguidade do gestão petista no tema. "Parece que há direitos humanos de esquerda e direitos humanos de direita", afirmou, ao se referir à atitude do governo Lula em relação a países como Cuba, Venezuela e Irã. "Não dá para ficar apoiando ditadores". Dutra rebateu. "No governo anterior [de FHC], não houve declaração sobre os direitos humanos em Cuba", disse. Em relação ao Mercosul, Guerra disse que é preciso que bloco passe por uma ampla reforma.

O senador tucano ironizou a construção do petroleiro João Cândido, construído pelo estaleiro nacional Atlântico Sul e batizado na semana passada em Ipojuca (PE). "O navio está lá, mas não vi ele navegar ainda". Em seguida, Dutra replicou. "Essa insinuação mostra o pensamento de alguns membros da elite política, que duvidam da capacidade da indústria brasileira".

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