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01/10/2006 - 18h42

Cerveja e preferência por Lula marcam eleição em Heliópolis

Por Vanessa Stelzer

SÃO PAULO (Reuters) - Nas mesas de bares e em rodas de amigos, a bebida era a cerveja. Nas ruas estreitas, crianças brincando e pessoas com sacolas de compra nas mãos eram personagens de um domingo que parecia como qualquer outro, não fossem os grupos distribuindo adesivos de candidatos para lembrar que era eleição.

Mesmo com o desrespeito a olhos vistos da lei eleitoral e da lei seca, o domingo de votação foi bastante tranqüilo em Heliópolis, a maior favela de São Paulo.

Apesar de a preferência entre os moradores de Heliópolis parecer ser pelo candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva, a festa nesse ano não foi tão grande quanto a de 2002, segundo moradores.

De acordo com o site da Prefeitura de São Paulo, Heliópolis conta com 100 mil habitantes e uma área de quase um milhão de metros quadrados, tornando-a a maior favela da capital.

Conforme o policial militar Cortizo, que cuidava da segurança de uma das escolas do bairro, várias pessoas foram detidas por boca-de-urna e levadas à 95ª Delegacia de Polícia.

"Foram várias pessoas, mas tirando isso, está tudo tranqüilo, tudo calmo, nenhum incidente", disse ele, acrescentando que, por desrespeito à lei seca, não tinha nenhuma notícia de pessoas detidas.

No entanto, a cerveja era a bebida mais presente nas mesas dos bares. Em um quarteirão com quatro bares, por exemplo, três tinham clientes em mesas na calçada com duas ou três garrafas de cerveja sobre elas. Nos carros estacionados, grupos de amigos conversavam e ouviam música bebendo cerveja. As garrafas eram apoiadas sobre o capô dos automóveis, estacionados ao lado de comitês eleitorais abertos.

"O povo gosta de beber, o que eu posso fazer?", disse o dono de um bar que preferiu não se identificar.

Festa menor
Nas escolas onde houve votação, o clima também era de tranqüilidade. E também de organização. "Votei rapidinho. Entrei, vote e saí, nem tinha fila. Estava tudo ótimo", disse a faxineira Maria da Graça Souza, de 32 anos.

Segundo ela, a eleição presidencial de 2002 foi mais animada em Heliópolis. "No outro ano, a gente estava mais feliz de votar no presidente dos pobres (Lula). Hoje eu também votei no Lula, mas da outra vez foi mais legal votar nele. Ele ainda é o presidente da gente, dos pobres, mas agora ele já está rico", disse ela.

Na frente de uma escola, o vendedor de água e refrigerantes Valdinei da Silva, de 28 anos, reforçou a nostalgia da faxineira: "Hoje parece que as pessoas estão na rua só porque é domingo, dia de passear e descansar", disse.

"A outra eleição, estava mais divertido, as pessoas estavam mais felizes, porque era a primeira vez que a gente podia votar para um homem do povo ir lá para a capital (Brasília)", afirmou.

"Mas eu vou votar no Lula, a gente ainda acha que ele é dos pobres. O outro lá (Geraldo Alckmin) é mais dos ricos, não é?", completou.

Lula também cativou os jovens. O estudante Rogério Silva, de 16 anos, não precisava votar, já que é menor de 18 anos, mas o fez apenas para dar seu voto a Lula.

"Eu gosto do Lula, vim votar nele. Não ligo para isso, não (denúncias de corrupção)", disse ele, acompanhado por dois amigos menores de 18 anos que também declararam sua opção pelo mesmo candidato.