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10/11/2010 - 12h54

PT

Larissa Morais
Da Redação, em São Paulo

Jorge Araújo/Folha Imagem

Wagner e Lula em carreata do 2º turno em Juazeiro (BA)

Wagner e Lula em carreata do 2º turno em Juazeiro (BA)

As previsões de que o PT perderia força nas urnas em decorrência dos escândalos de corrupção foram por água abaixo. Além de ter elegido uma expressiva bancada de deputados, o partido bateu um recorde e vai governar cinco Estados a partir de 2007: Acre, Bahia, Pará, Piauí e Sergipe.



Em 2002, os petistas elegeram apenas os governadores do Acre, de Mato Grosso do Sul e do Piauí.

O crescimento foi ainda mais expressivo quando se considera o número de eleitores. A partir do próximo ano, o PT vai governar 13,5% dos eleitores do país, contra apenas 3,2% de 2003 a 2006.

Bahia

O governo da Bahia deve ser a "menina dos olhos" de Lula e do PT, não apenas pela importância do Estado, mas também pela façanha da conquista.

Com pouco mais de 9 milhões de eleitores, a Bahia é o maior colégio eleitoral no Nordeste. Tem o sexto maior PIB do país - pouco mais de R$ 73 bilhões em 2003.

O ex-ministro Jaques Wagner (PT) disputou pela segunda vez o governo estadual com Paulo Souto (PFL), que este ano tentava a reeleição. Todas as pesquisas apontavam que Souto deveria vencer ainda no primeiro turno.

O petista pôs fim ao domínio do grupo de Antonio Carlos Magalhães (PFL), que governa a Bahia há 16 anos ininterruptos, e cujo poder remonta aos tempos da ditadura militar.

A Bahia esteve entre os Estados que deram maior votação a Lula no segundo turno - 78,08% dos votos válidos.

Dois dias depois do surpreendente resultado, Wagner foi a Brasília conversar com Lula. O ex-ministro, que já tinha uma relação próxima com o presidente, agora é cogitado como um dos possíveis candidatos do PT à Presidência em 2010.

Acre

Quando se fala em história do PT, uma das primeiras imagens que vêm à mente são as greves do ABC paulista no final da década de 80.

A influência de São Paulo na formação do partido é inegável. Mas outro Estado, pequeno e distante do Sudeste, também contribuiu muito nesse processo.

Com a eleição do professor Binho Marques em 1º de outubro, o PT caminha para o terceiro mandato seguido à frente do governo estadual. Para vencer Marcio Bittar (PPS), o partido aliou-se a outras seis legendas: PP, PL, PRTB, PMN, PSB e PC do B.

Em 1990, o engenheiro florestal Jorge Viana concorreu ao governo e tornou-se o primeiro candidato do PT a disputar o segundo turno de uma eleição estadual no Brasil. Viana foi derrotado, mas elegeu-se oito anos depois.

Jorge Viana foi o primeiro governador petista ser reeleito, em 2002, ainda no primeiro turno. Zeca do PT, governador de Mato Grosso do Sul, obteve a reeleição no segundo turno daquele ano.

Mesmo com vitória de Binho Marques, a candidatura de Lula teve dificuldades num dos Estados que mais recebem recursos da União. O tucano Geraldo Alckmin venceu no primeiro turno com 51,79% dos votos válidos, contra 42,62% do petista. Jorge Viana atribuiu o resultado aos escândalos de corrupção.

No segundo turno, a situação inverteu-se - Lula teve 52,36% dos votos válidos, e Alckmin, 47,64%. Ainda assim, o resultado foi bem diferente do Estado vizinho, Amazonas, onde o presidente chegou a 86,8%.

O "Governo da Floresta", como é chamada a administração de Jorge Viana, tem alta aprovação.

O PT ganhou influência no Acre principalmente com as lutas ambientalistas no Estado, que ganharam trágica projeção mundial com o assassinato do líder Chico Mendes em 1988.

Pará

É a primeira vez que o PT governará o Estado paraense. O atual governo e o anterior - Simão Jatene e Almir Gabriel - foram tucanos.

O PT administrou a capital Belém por dois mandatos, de 1997 a 2004. No ano passado, o ex-prefeito Edmilson Rodrigues deixou o partido e filiou-se ao PSOL, pelo qual concorreu ao governo estadual este ano.

Em 2004, o PT perdeu o controle da capital para Duciomar Costa (PTB), que derrotou Ana Júlia (PT).

Piauí

Os petistas estão no primeiro mandato à frente do governo do Piauí. Em 2002, o governador reeleito Wellington Dias (PT) venceu Hugo Napoleão (PFL). Foi a primeira conquista de um governo estadual pelo PT no Nordeste, mais de 20 anos depois a criação do partido no país.

O Piauí foi pioneiro na implantação do Fome Zero, hoje Bolsa-Família, principal programa do governo Lula no início de seu mandato. A propaganda das ações sociais do governo federal em um dos Estados mais pobres do país ajudou Wellington Dias a se reeleger. No Estado, conforme dados da Secretaria da Assistência Social, 362 mil pessoas são beneficiadas com recursos do Bolsa-Família, do governo federal.

O governador é um dos principais aliados do presidente, que soube retribuir a confiança. Segundo o Siaf (sistema do Tesouro Nacional de acompanhamento dos gastos federais), o Piauí foi em 2005 o terceiro Estado com maior volume recursos liberados pelo governo federal.

Sergipe

O ex-prefeito de Aracaju Marcelo Déda (PT) elegeu-se em 1º de outubro após uma acirrada disputa com o governador João Alves Filho (PFL) - o pefelista está terminando o terceiro mandato.

Déda havia sido reeleito para a prefeitura da capital sergipana em 2004, mas se desincompatibilizou do cargo em março deste ano para concorrer ao governo.

O ex-prefeito chegou a dizer no primeiro turno que seria um "interlocutor do governo federal no Nordeste", mas o posto de maior liderança de Lula na região deve ficar com Jaques Wagner, governador eleito da Bahia.

Lula é padrinho de uma filha de Déda e ambos são fundadores do PT.

História

O Partido dos Trabalhadores foi fundado em 10 de fevereiro de 1980 por dirigentes sindicais, intelectuais de esquerda e católicos ligados à Teologia da Libertação. O grupo heterogêneo surgiu com as lutas e greves do chamado novo sindicalismo do final da década de 70.

Em seus primeiros anos, o partido rejeitou o sindicalismo oficial (daí a criação da Central Única dos Trabalhadores - CUT), adotou uma concepção classista de política, abrigou diversas tendências em seu interior e propôs um socialismo democrático, oposto ao modelo soviético.

A partir do momento em que passou a administrar prefeituras e governos, o PT tornou-se mais pragmático. Para chegar à Presidência da República, em 2002, fez alianças com partidos e lideranças antes inimigos, como o PL. Já no governo, Luiz Inácio Lula da Silva formou sua base aliada com PMDB, PP, PTB e outras siglas fora da esquerda.