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28/09/2006 - 21h22

Lula encerra dia de suspense dizendo "não" ao debate

Por Ricardo Amaral

RIO DE JANEIRO (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva encerra a campanha pela reeleição sem participar de qualquer debate, embora tenha alimentado durante todo o dia o suspense em torno da presença na TV Globo esta noite.

Após reuniões com ministros e assessores nos últimos dois dias, e de análise de dados eleitorais, Lula comunicou apenas no início da noite a decisão de faltar ao debate, conforme antecipou a Reuters.

"É fato público e notório o grau de virulência e desespero de alguns adversários, que estão deixando em segundo plano o debate de propostas e idéias, para se dedicar, quase exclusivamente, aos ataques gratuitos e agressões pessoais", disse o presidente, ao justificar sua ausência em uma carta à direção da TV.

A decisão foi comunicada por Lula a seus principais auxiliares, no Palácio do Alvorada. De acordo com fonte da Reuters, o presidente consultou pesquisas qualitativas indicando que sua ausência não provocaria perdas no índice de intenção de voto. Os levantamentos mais recentes mostraram Lula com 53 por cento dos votos válidos, o que garante vitória no primeiro turno.

Também pesou na decisão, segundo a fonte, o fato de o presidente ser obrigado, pelas regras do debate, a dividir o tempo igualmente com candidatos que ele considera de baixa densidade política e eleitoral: Heloísa Helena (PSOL) e Cristovam Buarque (PDT), dois ex-petistas.

Antes de tomar a decisão final, Lula consultou duas vezes seus principais auxiliares no governo e na campanha.

Na manhã de quarta-feira, disse que pessoalmente tinha muita vontade de enfrentar os adversários no debate, mas que submeteria a decisão a uma análise política e de riscos eleitorais.

Nesta manhã, em reunião de cúpula que durou quase três horas, houve uma revisão dos argumentos favoráveis e contrários à sua participação, mas deixou em suspense os auxiliares.

"Eu vou almoçar, vou dormir e depois resolvo", teria dito Lula a um de seus auxiliares, segundo o relato de um ministro à Reuters.

Somente às 17h, o presidente convocou os ministros Tarso Genro (Relações Institucionais) e Luiz Dulci (Secretaria Geral) e o chefe de Gabinete, Gilberto Carvalho, ao Palácio da Alvorada para comunicar a decisão.

Em meio a tanto suspense, até o principal adversário do presidente na corrida presidencial, Geraldo Alckmin (PSDB), disse acreditar que Lula compareceria. Pouco antes do debate, o site do candidato tucano chamava Lula de "fujão".

DIA LONGO

Pela manhã, o presidente Lula afirmou a um dirigente petista que estava resolvido a ir ao programa, mas que iria submeter o assunto a uma última avaliação. Membros do primeiro escalão do governo reuniram-se no Planalto às 9h para discutir os prós e contras da participação no debate. A maioria dos presentes votou pelo comparecimento. Apenas um ponderou que era um risco muito alto expor o presidente, relatou à Reuters o ministro que contou sobre a "soneca" do presidente.

Às 10h30, os assessores que acompanham o presidente-candidato em viagens receberam a orientação de estar na base aérea de Brasília às 16h30, sem serem informados sobre o destino. Na agenda de candidato, Lula tinha marcado apenas um comício às 19h em São Bernardo do Campo, Grande São Paulo.

O jogo de despiste havia começado na noite da véspera, quando três equipes do chamado "escalão avançado" da campanha foram deslocadas para destinos diferentes. A equipe principal foi ao Rio de Janeiro, onde acontece o debate.

A equipe número 2 seguiu para São Bernardo do Campo, com instruções de instalar um telão que serviria para exibir uma mensagem do presidente candidato, caso ele optasse por ir ao Rio.

Uma terceira equipe foi deslocada para São Paulo com a orientação de preparar uma carreata ainda nesta quinta-feira. Mas essa última, segundo uma fonte do PT, foi apenas uma operação para despistar e confundir os adversários.

Entre os diversos indícios que pareciam apontar para a participação de Lula no debate esteve uma declaração do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Por volta das 13h, ele afirmou que viajaria para o Rio com o presidente, mas recusou-se a confirmar o compromisso com a Globo.

A emissora de TV deixou claro seu descontentamento logo no início do Jornal Nacional.

"A Rede Globo lamenta profundamente a decisão do candidato Lula. Lamenta também profundamente que ela tenha sido anunciada apenas às 7 horas da noite", disse o jornalista William Bonner, que será mediador do debate.

Mas a indecisão do presidente pode ter sido também uma estratégia para se preservar.

Para Carlos Manhanelli, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos, a indefinição fez com que os outros candidatos tivessem que trabalhar com dois cenários em sua preparação. "Isso gera mais tensão nos adversários."

Na avaliação de Manhanelli, o debate desta noite não seria favorável ao presidente em qualquer hipótese, mas sua participação seria mais prejudicial.

(Reportagem adicional de Áureo Germano, em Brasília, Sinara Sandri, em Porto Alegre, e Cláudia Pires, em São Paulo)