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29/08/2006 - 14h51

Lula sobe porque eleitor usa critério econômico--CNT

Por Natuza Nery

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva cresceu nas intenções de voto para a eleição de outubro, sustentado por indicadores econômicos positivos. Pesquisa do Instituto Sensus, divulgada nesta terça-feira, mostrou também que o petista ampliou sua vantagem sobre os demais adversários, confirmando a vitória no primeiro turno.

Os números da sondagem, encomendada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT), indicam que a crise política do ano passado, atingindo alguns dos principais auxiliares do presidente, permanece descolada de Lula.

"O eleitor tomou como decisão julgar essas eleições pelo critério econômico. Os ganhos macroeconômicos, como geração de emprego, queda da inflação, aumento do salário mínimo e o programa Bolsa Família, superam os problemas éticos gerados", avaliou Ricardo Guedes, responsável pela pesquisa.

A sondagem capturou um quadro ainda mais complicado para Geraldo Alckmin, candidato do PSDB à Presidência e principal adversário do presidente. Enquanto Lula sobe alguns degraus na preferência do eleitor, aumenta a rejeição ao tucano.

Segundo a pesquisa, a intenção de voto no candidato Lula subiu de 47,9 por cento para 51,4 por cento, enquanto Alckmin ficou estável, variando de 19,7 por cento para 19,6 por cento. A senadora Heloísa Helena (PSOL) também oscilou dentro da margem de erro da pesquisa, de 3 pontos percentuais, passando de 9,3 por cento para 8,6 por cento.

"A eleição, passados 15 dias do programa eleitoral (gratuito no rádio e TV), com os candidatos já tendo mostrado suas propostas, está praticamente definida", observou Guedes.

FORA DO JOGO?

Alckmin apostava no horário gratuito para ser tornar conhecido. Conseguiu, mas a rejeição a seu nome acabou crescendo acima do esperado. Segundo o levantamento, a rejeição a ele subiu de 37,6 por cento para 42,0 por cento.

"Alckmin passou de um limite complicado em pesquisa. Ele passa a ser mais conhecido, mas não ganha voto. É o efeito PCC (Primeiro Comando da Capital). Ele foi apresentado ao país junto com o PCC", avaliou Guedes, referindo-se às ondas de ataques realizadas pela facção criminosa em São Paulo desde maio. Segundo a pesquisa, caiu de 9,3 por cento para 3,9 por cento o número de eleitores que alegaram não conhecer Alckmin.

A rejeição a Lula, por outro lado, oscilou dentro da margem de erro, mas no sentido contrário, recuando de 27,0 por cento para 25,5 por cento, o menor patamar desde o início do período pré-eleitoral. "Quem tem 40 por cento ou mais de rejeição, está fora do jogo político. Quem tem até 35 por cento, está dentro", completou Guedes.

Quanto ao horário eleitoral gratuito, segundo a sondagem, 44,7 por cento dos eleitores têm assistido os programas inteiros ou parcialmente. Desse total, 38,3 por cento avaliam a propaganda de Lula como melhor, contra 30,8 por cento que dizemo o mesmo sobre o tempo reservado a Alckmin.

ISENÇÃO

Em um hoje improvável segundo turno, Lula bateria o tucano por 56,7 por cento a 30,8 por cento. Na pesquisa anterior, realizada no início deste mês, o petista vencia por 52,5 por cento a 29,8 por cento.

Para 47,3 por cento dos entrevistados, a eleição presidencial terminará ainda no primeiro turno, contra 42,5 por cento que pensam ser inevitável a realização de um segundo turno.

Ao comentar o resultado, Heloísa Helena disse que ainda acredita que vai chegar ao segundo turno. "Um ponto é tão pouco... Aliás, sempre fico impressionada com essas pesquisas... Eu sinto que a emoção e alegria das pessoas é muito maior agora nas ruas", disse a jornalistas após sabatina do jornal O Globo. "Estou trabalhando para chegar ao segundo turno, será bom para o Brasil", acrescentou.

A sondagem também mediu o desempenho dos candidatos no debate realizado pela Band há duas semanas. O presidente Lula preferiu não confrontar seus oponentes e ausentou-se do programa, visto por 10,7 por cento do eleitorado, de acordo com o Sensus.

Para 30,8 por cento das pessoas que assistiram o debate, o candidato do PSDB venceu a disputa na TV, enquanto 30,4 por cento dos telespectadores atribuíram vitória a Heloísa Helena.

A audiência do programa foi 6 pontos percentuais menor que o debate veiculado pela mesma emissora na eleição de 2002, quando 16,7 dos eleitores havia assistido o debate.

Sob críticas de alguns aliados de Alckmin de que a pesquisa encomendada pela CNT não seria isenta, já que a confederação é comandada por políticos ligados ao presidente Lula, Ricardo Guedes rebateu.

"Posso lhes garantir que estamos com as proporções populacionais corretas (em relação a institutos como IBGE e Ipea) e posso lhes garantir a idoneidade da CNT e do Sensus. Além do que, os outros institutos mostram resultados muito análogos", disse.

O Instituto Sensus entrevistou 2.000 pessoas entre os dias 22 e 25 de agosto, em 195 municípios do país.

REUTERS CP