UOL EleiçõesUOL Eleições

14/07/2006 - 20h34

Lula quer "decisão política" do G8 para salvar Rodada de Doha

BRASÍLIA (Reuters) - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está convencido de que o impasse nas negociações comerciais sobre a Rodada de Doha da OMC demanda um solução política e não uma negociação econômica.

Lula parte para São Petesburgo como convidado para a reunião do G8 disposto a encontrar uma brecha para propor um avanço político nas negociações.

Mesmo sabendo que a Rússia do presidente Vladimir Putin não é um país membro da OMC e por isso poderia parecer uma indelicadeza com os anfitriões discutir Doha, o presidente brasileiro viaja otimista.

"Eu penso que chegamos ao momento de tomarmos uma decisão política, ou seja, já não é mais um problema dos negociadores, é uma decisão política dos líderes, se queremos ou não fazer um acordo. Eu estou viajando agora para o G8 com boas expectativas, eu acho que há sensibilidade para que a gente consiga avançar um pouco", disse Lula em entrevista exclusiva à Reuters realizada no Palácio do Planalto.

O presidente participará como convidado da cúpula do G8 que começa no sábado em São Petersburgo, na Rússia. O G8 é formado por Estados Unidos, Canadá, Reino Unido, França, Alemanha, Itália, Japão e Rússia.

A Rodada Doha de negociações da Organização Mundial do Comércio (OMC), lançada em 2001 para promover o desenvolvimento e o livre-comércio, está em risco devido às discordâncias entre Estados Unidos, União Européia e o mundo em desenvolvimento.

O Brasil lidera na OMC o chamado Grupo dos 20, nações agrícolas que lutam contra os subsídios dados pelos países ricos aos seus próprios agricultores.

Os governantes de México, Índia, África do Sul e China, todos membros do G20, também participam da cúpula da Rússia.

"Se não concluirmos um acordo poderemos estar jogando fora os próximos 30 anos no que diz respeito ao comércio exterior."

Lula afirmou que dirá aos líderes do G8 que "se quisermos combater o terrorismo, se nós quisermos combater a imigração (ilegal), nós temos que dar oportunidade para as pessoas sobreviverem", e que isso torna indispensável a liberalização comercial.

Acrescentou que o Brasil está disposto a fazer concessões para que as negociações globais tenham sucesso, mas afirmou que esses sacrifícios devem ocorrer de forma "proporcional às possibilidades de cada país".

Lula reiterou que, para haver sucesso na Rodada Doha, o Brasil propõe "um triângulo em que os Estados Unidos reduzam os seus subsídios internos, que a União Européia permita o acesso ao mercado agrícola, e que os países do G20, os emergentes, permitam o acesso aos produtos industriais e a serviços".

O presidente disse também trabalha "com a certeza de que nós não estamos discutindo um problema econômico, nós estamos discutindo um problema político, e afirmou que, apesar das duras negociações, não trabalha com a idéia do fracasso".

Lula disse que o Brasil tem um número que indica sua disposição de flexibilizar posições. Diz ainda que todos os países têm seus números como cartas no bolso do colete de jogadores em um mesa de pôquer.

"Nós temos um número e certamente cada país tem o seu número. Eu acho que ninguém teve coragem de falar agora, porque os números colocados na mesa até agora não contemplam nenhuma parte. Então, nesse mundo dos acordos, cada um fica guardando a sua... como se fosse um jogo de pôquer, a sua carta principal para mostrar no momento certo", disse o presidente, batendo na mesa e sorrindo com a imagem das negociações concluídas em uma só cartada política.

(Por Mario Andrada e Silva, David Schlesinger e Julio Villaverde)