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Olívio Dutra aposta em virada na reta final da campanha gaúcha

Larissa Morais
Da Redação, em São Paulo

A campanha de Olívio Dutra (PT) ao governo gaúcho ingressa nas horas finais até domingo em clima de otimismo. Na quinta e na sexta-feira, duas pesquisas, dos institutos Methodus e do Centro de Pesquisa Correio do Povo, apresentaram uma significativa redução da vantagem de Yeda Crusius (PSDB), que chegou a ser de 30 pontos, segundo o Ibope, na primeira semana de outubro.

Nas vésperas do pleito, Olívio está a seis (Methodus) ou oito pontos (Correio) de distância da adversária tucana. A ser levada em conta a maior estrutura do PT no Estado, que já teve Olívio como governador (1999-2002) e primeiro prefeito petista de Porto Alegre (1988-1992), existe a chance de virada, segundo analistas de ambos os lados.

Nesta entrevista, Olívio fala sobre as semelhanças entre a disputa nacional e regional que contrapõe candidatos petistas e tucanos.

"A polarização real desta disputa eleitoral, tanto em nível nacional como aqui no Estado, está centrada na diferença de projetos. Nós defendemos um Estado forte com capacidade de promover o desenvolvimento e suprir as necessidades da população, em especial, dos mais necessitados. Nós temos lado e é o lado do povo gaúcho e brasileiro. Eles têm outro projeto, defendem outros interesses. Estão comprometidos com um Estado mínimo, com as privatizações, com os pedágios, com a desestruturação da máquina estatal, e com uma política externa subordinada aos interesses dos Estados Unidos".

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:




UOL - A disputa pelas duas vagas no segundo turno foi bastante acirrada. Como o senhor interpretou isso?



Olívio - A tradição do Rio Grande é estabelecer disputas políticas apaixonadas e acirradas, penso que nestas eleições reafirmamos esta tradição.



UOL - A que o senhor atribui o desempenho de Yeda Crusius e o fato de o governador Germano Rigotto ter ficado de fora do segundo turno?



Olívio - Bem, houve uma divisão na base de apoio do governador Rigotto através de duas candidaturas: Francisco Turra e Yeda. Obviamente isto trouxe prejuízos ao governador. Quanto ao desempenho da candidata Yeda, pode ser apenas o reflexo de um marketing bem aplicado, penso que não se sustentará até o fim das eleições.



UOL - As pesquisas neste segundo turno têm indicado uma vantagem para Yeda. O senhor acredita que ainda é possível reverter esse quadro?



Olívio - Acredito na consciência do povo gaúcho, que não se iludirá com propostas vazias. Nós apresentamos uma saída concreta para a crise e a retomada do desenvolvimento, com a redução da carga tributária para os setores que mais geram empregos. Estamos apostando na dinamização da economia para, inclusive, aumentar a arrecadação do Estado. As pesquisas erraram no primeiro turno. Estamos convictos que venceremos estas eleições.



UOL - A sua candidatura angariou apoios apenas do PSB e do PL neste segundo turno. O senhor considera essas alianças suficientes para vencer a disputa?



Olívio - Nós temos o apoio de centenas de prefeitos, vice-prefeitos, vereadores dos mais diversos partidos. Os principais dirigentes das cooperativas de crédito e agrícolas estão conosco. A maioria absoluta dos sindicatos e movimentos sociais defende a nossa candidatura. Fizemos uma aliança social e política absolutamente suficiente para vencer e governar o Rio Grande de forma democrática.



UOL - O senhor e o presidente Lula têm usado as privatizações para atacar Yeda e Alckmin, ambos tucanos. Por que esse debate surgiu apenas no segundo turno?



Olívio - Nós não estamos atacando os tucanos, apenas não concordamos com a política de privatizações que pretendem fazer e negam de forma demagógica. No Rio Grande, o vice de Yeda afirmou taxativamente nos jornais que pretendia privatizar o Banrisul, Alckmin fez o mesmo no ínício das eleições, Fernando Henrique Cardoso reafirmou suas convicções privatistas. Este é um debate sempre presente, tornou-se mais agudo a partir das afirmações deles e não por nossa vontade. Considero natural que defendamos nossas opiniões a respeito. O que é estranho e antidemocrático é o fato deles tentarem esconder isto do povo gaúcho e brasileiro.



UOL - A disputa nacional entre PT e PSDB tem sido marcada pelo discurso da ética e pelos escândalos. Qual é a principal característica da polarização gaúcha entre tucanos e petistas?



Olívio - A polarização real desta disputa eleitoral, tanto em nível nacional como aqui no Estado, está centrada na diferença de projetos. Nós defendemos um Estado forte com capacidade de promover o desenvolvimento e suprir as necessidades da população, em especial, dos mais necessitados. Nós temos lado e é o lado do povo gaúcho e brasileiro. Eles têm outro projeto, defendem outros interesses. Estão comprometidos com um Estado mínimo, com as privatizações, com os pedágios, com a desestruturação da máquina estatal, e com uma política externa subordinada aos interesses dos Estados Unidos. O superdimensionamento da questão ética serve como biombo para uma lógica de desconstituição do presidente Lula e do PT e para não enfrentar o debate verdadeiro sobre o futuro do Rio Grande e do Brasil.



UOL - O senhor acredita que há um desgaste do PT no Rio Grande do Sul, após 16 anos na Prefeitura de Porto Alegre e da derrota para Rigotto em 2002?



Olívio - A alternância no poder faz parte da democracia. Nós aprendemos muito com as nossas experiências, inclusive, com as derrotas. Mas também a população aprende e hoje temos uma cidadania mais madura e mais consciente, que tem avaliado as gestões que nos substituíram e compreende melhor nossos propósitos. Uma prova disto é que estamos disputando de igual para igual este segundo turno no RS e estamos em vantagem na disputa presidencial. Vencemos na Bahia, no Acre, no Sergipe, no Piauí e temos boas notícias no Pará. Eu diria que tudo indica que sairemos mais fortes destas eleições do que começamos, apesar do brutal ataque que sofremos.



UOL - Como o senhor explica a ampla vantagem de Alckmin sobre Lula no Estado? O senhor acha que esse cenário desfavorável para o presidente prejudica sua candidatura?



Olívio - A nossa afinidade de projeto somente contribui para o fortalecimento das nossas candidaturas. O povo gaúcho será sábio e compreenderá que isto será muito importante para o futuro do Rio Grande. Venceremos juntos estas eleições e governaremos juntos, construindo um Rio Grande e um Brasil com promoção do desenvolvimento, justiça social e democracia.



Reportagem publicada em 27.out.2006.

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Nome Completo:
Olívio de Oliveira Dutra

Local de nascimento:
Bossoroca (RS)

Data de nascimento:
10 de junho de 1941

Profissão: Professor e bancário

Partido: PT

"Acredito na consciência do povo gaúcho, que não se iludirá com propostas vazias."

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