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"O governo Lula sacrificou os exportadores gaúchos", diz Yeda Crusius

Larissa Morais
Da Redação, em São Paulo

A economista Yeda Crusius (PSDB) surpreendeu ao chegar ao segundo turno no Rio Grande do Sul. A deputada deixou para trás o governador e candidato à reeleição Germano Rigotto (PMDB) e, com 32,9% dos votos válidos, ficou na frente de Olívio Dutra (PT), com quem disputa o governo no dia 29.

Após ter liderado as pesquisas com folga durante a maior parte da campanha no segundo turno, Yeda viu o petista Olívio crescer na reta final. O último levantamento realizado pelo instituto de pesquisas do jornal "Correio do Povo", divulgado no dia 27, indica que a disputa pode ser acirrada - a tucana tem 49,9% das intenções de voto, contra 42,2% do ex-governador.

A candidata atribui a chegada ao segundo turno, e o fato de o governador Germano Rigotto (PMDB) ter ficado de fora, à tradição dos gaúchos de sempre buscar o novo. No entanto, Yeda não pretende implementar a mudança por meio da política de "terra arrasada", e diz que aproveitará as medidas positivas dos governos anteriores.

Um dos principais temas do embate entre Yeda e Olívio neste mês de outubro foram as privatizações, assunto que também provocou acaloradas discussões na disputa presidencial. Para a tucana, a venda de estatais foi necessária no passado, período que já estaria superado. "Os mesmos que falam contra a privatização não propõem a reestatização das empresas", diz sobre os petistas.

A tucana diz acreditar que o PT gaúcho sofre um desgaste desde a derrota para Rigotto em 2002, após um mandato à frente do governo estadual e 16 anos na Prefeitura de Porto Alegre. Para Yeda, os petistas fracassaram ao criar expectativas que não foram cumpridas.

Yeda começou na política após obter reconhecimento na carreira acadêmica. Professora de economia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, a tucana recebeu um convite do presidente Itamar Franco, em 1993, para integrar o primeiro escalão.

Depois de ter comandado a Secretaria de Planejamento, Orçamento e Coordenação da Presidência da República, Yeda elegeu-se deputada federal em 1994. Em 1996 e 2000, concorreu à Prefeitura de Porto Alegre, obtendo cerca de 20% dos votos válidos nas duas eleições.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista.




UOL - A disputa pelas duas vagas no segundo turno foi bastante acirrada. Como a sra. interpreta isso?



Yeda - O processo eleitoral em dois turnos proporciona eleições disputadas. Numa primeira etapa, todos os partidos ou frentes coligadas apresentam as suas propostas buscando a identificação com a maioria dos eleitores, sendo normal uma disputa acirrada. No segundo turno, restrito a duas posições, a tendência natural é a da polarização.




UOL - A sra. partiu de baixos índices nas pesquisas, e hoje é favorita no segundo turno. O desempenho de sua candidatura a surpreendeu? A sra. acha que os gaúchos querem renovação no governo estadual?



Yeda - O nosso desafio era mostrar uma proposta nova, o que é possível fazer diferente, fazer mais com os mesmos recursos, o que chamamos de um novo jeito de governar, e o nosso crescimento foi gradual e constante. Quanto mais a população gaúcha conhecia o projeto, mais aliados conquistávamos. Mostramos que vamos enfrentar a crise, vamos gerenciar o governo e estamos mostrando que o novo não pode ser terra arrasada. O que foi feito de bom pelos governos anteriores tem que ser mantido e aprimorado, e novos métodos de gestão e novas práticas de enfrentamento dos problemas históricos é o que queremos implantar.



UOL - O apoio do PMDB, cujo candidato é governador e ficou de fora do segundo turno, não comprometeria o discurso de mudança de sua candidatura?



Yeda - Temos que voltar a falar do novo jeito de governar. Se alguém disser que o PMDB não fez nada de bom é porque quer fazer do governo terra arrasada. Vamos aprimorar projetos. Ao receber o apoio de novos partidos no segundo turno incorporamos idéias, buscamos novas propostas, reforçando o que já era consenso no nosso plano de governo. O segundo turno é propício para a integração, para o fortalecimento dos anseios e reivindicações da sociedade gaúcha. O nosso governo será amplo, democrático e com a participação de diferentes partidos, mas acima de tudo, da sociedade gaúcha.



UOL - A que a sra. atribui o fato de o governador Germano Rigotto ter ficado de fora do segundo turno?



Yeda - É de praxe a tradição dos gaúchos em não reeleger governadores, buscando sempre o novo. Novas idéias, novas maneiras de governar.



UOL - A última rodada da pesquisa do jornal "Correio do Povo" mostrou queda na diferença entre os dois candidatos. Essa redução pode ser atribuída às declarações de seu vice e às tentativas de Olívio de fazer colar em sua candidatura a imagem de "privatista"?



Yeda - Privatização é um assunto encerrado. Em primeiro lugar, a constituição proíbe a privatização do Banrisul, Corsan, Sulgás, CRM, Cesa, Procergs, sem que haja plebiscito para tal. Mais do que isso, no nosso plano de governo não consta uma linha no sentido de privatização. Assumi o compromisso de não privatizar. Por outro lado, é preciso que fique muito claro, o tempo das privatizações já passou, era outro ciclo. Sobre as pesquisas eleitorais, elas apresentam um momento da eleição e pequenas variações acontecem, no entanto, todos os institutos apontam ampla vantagem para o nosso projeto mostrando uma consolidação eleitoral. Os gaúchos não querem um governo que ande para trás, de olho no retrovisor, e sim projetos com novas idéias, um plano para recuperar a auto-estima, o desenvolvimento e a capacidade de investimento no Poder Público.




UOL - Olívio e o presidente Lula têm usado as privatizações para atacar sua candidatura e a de Geraldo Alckmin. E uma das principais características dos governos de FHC e Alckmin foi a venda de estatais. Mesmo tucana, a sra. pretende fazer um governo diferente nesse aspecto?



Yeda - Falar das privatizações é governar com o passado. Foi um outro momento e está superado. Os mesmos que falam contra a privatização não propõem a reestatização das empresas, nem falam da qualidade dos serviços, do tempo que se esperava por um telefone, do aumento na arrecadação de ICMS que o processo desencadeou. É um oportunismo político, uma política velha e ultrapassada. Esta é uma prática que o eleitor está condenando e que não pega no Rio Grande do Sul. Os gaúchos querem saber como enfrentar a crise, como atrair novos investimentos, dar mais saúde, educação e segurança para os que mais precisam.



UOL - A disputa nacional entre PT e PSDB tem sido marcada pelo discurso da ética e pelos escândalos. Qual é a principal característica da polarização gaúcha entre tucanos e petistas?



Yeda - A principal característica é a forma de fazer política e governar. Porque quando foi governo, o PT não cumpriu o que prometeu. Enquanto o nosso adversário tem que explicar por que petistas gaúchos estão envolvidos em caixa dois, em transporte de dinheiro em pastas ou mesmo por que mandou a Ford embora, nossa campanha mostra a ética, as propostas para enfrentar a crise, para atrair novas empresas para o Estado e para dar maior qualidade de vida aos gaúchos.



UOL - A sra. acredita que há um desgaste do PT no Rio Grande do Sul, após 16 anos na Prefeitura de Porto Alegre e a derrota para Rigotto em 2002?



Yeda - O PT teve o seu momento e deixou muito a desejar. Já na campanha da prefeitura espalharam mentiras. Diziam que o prefeito Fogaça iria acabar com o orçamento participativo - o prefeito assumiu e não acabou, pelo contrário, ampliou e melhorou. No governo do Estado, prometeram gerar 100 mil novos empregos e fazer um programa de renda mínima para atender 280 mil famílias, queriam assentar 10 mil famílias. Criaram menos de 20 mil empregos, atenderam menos de 10 mil famílias no programa de renda mínima e assentaram apenas 5 mil trabalhadores rurais. Ou seja, criaram expectativas e frustraram todas, e isso é dito pelo próprio PT, portanto, os bons discursos do PT na teoria não funcionaram na prática. Quando tiveram a oportunidade de governar, fracassaram.



UOL - Como a sra. explica a ampla vantagem de Alckmin sobre Lula no Estado? A sra. acha que esse cenário desfavorável para o presidente ajuda sua candidatura?



Yeda - O governo Lula sacrificou por demais os setores exportadores gaúchos (moveleiro, metal-mecânico, fumageiro, coureiro-calçadista, petroquímico, aço, máquinas e implementos) e também a nossa agricultura. Isso os gaúchos não esquecem. Os gaúchos têm uma visão muito mais clara do governo Lula, e não perdoam o abandono das questões éticas pelo presidente e pelo PT. Além disso, conheceram de perto o governo Olívio, e insisto, não querem voltar para trás. O Rio Grande quer o novo, quer modernização do Estado, quer enfrentar a crise porque sabe que o Rio Grande do Sul está preparado para crescer, tem a melhor formação de mão-de-obra, tem qualificação técnica acima da média, tem programas de qualidade em andamento, portanto, temos um cenário favorável para o desenvolvimento e a geração de emprego e renda.



Reportagem publicada em 27.out.2006

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Nome Completo:
Yeda Rorato Crusius

Local de nascimento:
São Paulo (SP)

Data de nascimento:
26 de julho de 1944

Profissão: Economista

Partido: PSDB

"Se alguém disser que o PMDB não fez nada de bom é porque quer fazer do governo terra arrasada"

Yeda Crusius, sobre o apoio do partido do governador e as promessas de mudança de sua candidatura.

AMIZADE

Com a derrota do governador Germano Rigotto no primeiro turno, o PMDB decidiu apoiar Yeda. O senador Pedro Simon, presidente estadual da sigla, chamou a candidata tucana de "amiga" do partido.