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Maguito subiu no salto alto, diz Alcides Rodrigues, candidato em Goiás

Larissa Morais
Da Redação, em São Paulo

O governador Alcides Rodrigues (PP), candidato à reeleição, assumiu o posto em 31 de março deste ano. Até então, era desconhecido de boa parte dos eleitores goianos. Para chegar ao segundo turno, contou com a projeção do cargo e com o inestimável apoio do senador eleito Marconi Perillo (PSDB), que o antecedeu.

Alcides começou a campanha muito atrás do senador e ex-governador Maguito Vilela (PMDB) nas pesquisas. Em pouco mais de seis meses, cresceu e terminou o primeiro turno com 48,22% dos votos válidos. O peemedebista obteve 41,17%.

O governador atribui o resultado surpreendente ao governo "transformador" de Marconi, que teria modernizado o Estado e implantado uma "ampla rede de proteção social". O candidato também credita os votos ao intenso trabalho de campanha. "Não subimos no salto alto como nossos adversários fizeram no primeiro turno, achando que a eleição já havia terminado", diz.

Apesar do exaltado clima de campanha, Alcides diz respeitar o PMDB e lembra que a rivalidade remonta aos tempos de disputa entre PSD (partido do qual se originou o PMDB) e a UDN (sigla da qual surgiram PP e PFL). PSDB, PP e PFL seriam a "oposição histórica" que, após 16 anos, conseguiu derrotar o grupo do governador Iris Rezende (PMDB) em 1998.

Alcides é médico especializado em ginecologia e obstetrícia, com pós-graduação em medicina do trabalho. Casado com ex-deputada Raquel Rodrigues, o governador foi eleito deputado estadual em 1991. Dois anos depois, tornou-se prefeito de Santa Helena de Goiás, município hoje administrado por sua mulher. Em 1998, foi eleito vice-governador na chapa de Marconi Perillo.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista:



UOL - O sr. era relativamente pouco conhecido entre os eleitores goianos até assumir o cargo de governador em abril. Em seis meses, cresceu nas pesquisas e chegou ao segundo turno em primeiro lugar. A que o sr. atribui esse desempenho surpreendente?



Alcides - Primeiramente ao trabalho. Trabalhamos muito durante o governo todo, que iniciei em 1999, como vice-governador ao lado do governador Marconi Perillo. Os governos do Tempo Novo (nome da coligação vitoriosa em 1998, 2002 e 2006) criaram uma ampla rede de proteção social. Fomos o primeiro Estado no país a fazer política de distribuição de renda por meio de depósito em conta bancária das pessoas mais humildes com o cartão do Renda Cidadã. Todos os meses a família saca no banco, com um cartão magnético, R$ 80 para complementar sua renda. São 160 mil famílias assistidas, substituindo a doação de cestas básicas que no governo do PMDB (1995-1998) atendia 80 mil famílias precariamente, pois havia reclamação quanto à qualidade dos alimentos. Outro programa o Salário Escola, destina R$ 120 para que as mães possam manter os filhos nas escolas. É um programa que combate o trabalho infantil, atendendo 90 mil famílias, garantindo renda e formação às crianças. Fomos pioneiros também com a criação do Bolsa Universitária, que atende 70 mil estudantes, garantindo que os filhos das classes trabalhadoras possam estudar em faculdades particulares. Nosso programa habitacional também é inovador. O Cheque Moradia, que destina valores de R$ 1.500 a R$ 4 mil para construção ou reforma de casas populares, atendeu mais de 170 mil famílias. O governo tem altos índices de aprovação e conta com uma ampla base política, composta de 160 prefeitos, dez deputados federais, 25 estaduais, e na campanha fizemos uma coligação com 13 partidos. Nestas eleições visitamos todos os 246 municípios e enfatizamos as conquistas deste governo que modernizou Goiás. Em 1998 as exportações não chegavam a US$ 400 milhões; estamos terminando o ano com um saldo de US$ 2,5 bilhões. Reduzimos impostos e ampliamos a arrecadação, investimos na qualificação dos servidores públicos, reduzimos os índices de violência no Estado com um grande projeto de segurança pública. Abrimos um diálogo transparente com os segmentos empresariais, que culminou com a criação do Fórum Empresarial. O diálogo foi a tônica também na relação com os segmentos organizados. O saldo de todo este esforço foi uma campanha em que o eleitor comparou o que foi feito nestes quase oito anos com o que havia no passado, e o resultado foi expresso nas urnas com a vitória de nossa coligação no primeiro turno. Ficamos sete pontos à frente de nosso adversário e Marconi foi eleito com uma votação consagradora, acima de dois milhões de votos.



UOL - O Ministério Público Eleitoral apurou que o presidente da Agência Goiana de Meio Ambiente utilizou veículo público para a campanha de Alcides e Marconi. A disponibilidade da máquina pública facilita a candidatura à reeleição?



Alcides - Não houve uso da máquina na nossa campanha. O episódio a que você se refere não configura esta situação e está sendo devidamente investigado pelo Ministério Público. De outro lado nossa campanha não privilegiou candidaturas no parlamento, muito menos focou esforços na eleição de parentes, como pôde ser observado na campanha adversária. E isto não somos nós quem falamos. A insatisfação foi manifestada na imprensa goiana por deputados peemedebistas que não se elegeram devido à atenção de prefeitos do PMDB à eleição de parentes diretos ou de parentes de secretários.



UOL - O senhor reivindica integralmente tudo o que Marconi Perillo fez no governo?



Alcides - Uma das características mais marcantes do Tempo Novo foi fazer pela primeira vez em Goiás um governo de coalizão. A vitória em 1998 foi possível graças a uma extraordinária união de forças, com o lançamento de chapas apoiadas por PSDB, PP, PFL e PTB. Portanto, foi um governo que teve a minha contribuição e de todas as lideranças da chamada oposição histórica de Goiás que, desde a derrota de 1982 para o PMDB, disputou eleições por 16 anos contra esta agremiação até a vitória de 1998. Meu nome foi alçado à condição de candidato ao governo por ser considerado o que mais convergia apoios, apresentando melhores condições de levar à frente o projeto transformador iniciado em Goiás. Ao longo da campanha procuramos desempenhar este papel aglutinativo e esta unidade foi, sem dúvida, fundamental para o resultado que obtivemos em 1º de outubro, e está sendo importante para manter o mesmo ritmo de campanha, que agora nos dá uma vantagem de 20 pontos percentuais sobre o nosso adversário.



UOL - O senhor tem diferenças com Marconi?



Alcides - Certamente temos estilos diferentes, e isto é bom para a democracia. Ele tem um modo de fazer política, nós temos outro. Marconi Perillo é hoje a maior liderança política de Goiás e no Senado vai ter um grande papel representando não somente Goiás, mas se projetando como uma das vozes capazes de unir o Centro-Oeste para um projeto de desenvolvimento regional. Sua eleição, de forma consagradora, com um extraordinário porcentual de votos (76%), o cacifa a participar dos grandes debates da República.



UOL - Por que Geraldo Alckmin, seu aliado, teve mais eleitores em Goiás do que Lula no primeiro turno?



Alcides - Nossas campanhas foram vitoriosas no primeiro turno, o que mostra que houve clara identificação entre nossos eleitores.



UOL - Quais foram as estratégias de sua campanha neste segundo turno?



Alcides - Trabalho, trabalho, muito trabalho. Não paramos um minuto. Não subimos no salto alto como nossos adversários fizeram no primeiro turno, achando que a eleição já havia terminado. Fizemos quatro frentes de campanha: eu, o senador eleito Marconi Perillo, o candidato a vice Ademir Menezes (PL) e as primeiras-damas Raquel Rodrigues (minha esposa) e Valéria Perillo (esposa de Marconi). O resultado é que em menos de um mês visitamos novamente os 246 municípios do Estado. Na televisão mantivemos o discurso propositivo, com seriedade e respeito ao adversário. Nestas eleições o eleitor demonstrou que estava interessado em propostas, rejeitando baixarias e xingamentos.



UOL - Apesar das derrotas em 1998 e 2002, o PMDB ganhou uma sobrevida com a vitória de Íris Rezende em Goiânia, há dois anos. O senhor acha que ainda existe espaço para o "tempo velho" na política goiana?



Alcides - O PMDB é um partido de tradição em Goiás. Vale ressaltar que a antiga rivalidade entre o PSD (partido do qual se originou o PMDB) e a UDN (sigla da qual surgiram PP e PFL) ainda é vigente no Estado. O PMDB é um adversário que merece respeito, tem capilaridade no interior e certamente irá se apresentar noutras eleições.



UOL - O ex-governador Marconi Perillo já está há oito anos entre as maiores lideranças do Estado. O senhor acha que o discurso de renovação, responsável por sua vitória em 1998, tende a se desgastar com o tempo? O que o senhor acha que é preciso fazer para combater isso?



Alcides - O eleitor está cada vez mais pragmático: vota no candidato ou no partido que corresponde às suas expectativas. Enquanto o Tempo Novo tiver capacidade de renovação, e, sobretudo, de interagir com a sociedade, correspondendo às suas expectativas, terá condições de representá-la. Em política não há espaço para acomodação, conformismo. Marconi Perillo fez um governo transformador, realizador. Nosso desafio é fazer mais e melhor. Estamos imbuídos deste objetivo de trabalhar muito, com transparência, humildade e muito diálogo, pois em administração erra menos quem ouve mais o povo.



Reportagem publicada em 27.out.2006.

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Nome Completo:
Alcides Rodrigues Filho

Local de nascimento:
Santa Helena de Goiás (GO)

Data de nascimento:
8 de outubro de 1950

Profissão: Médico

Partido: PP

"Não subimos no salto alto como nossos adversários fizeram no primeiro turno"

Alcides Rodrigues, sobre as estratégias de campanha no segundo turno.

MULHERES EM CAMPANHA

A esposa de Alcides e prefeita de Santa Helena, Raquel Rodrigues (à esq.), e a ex-primeira-dama Valéria Perillo (à dir.), percorreram diversos municípios do Estado em atividades de campanha paralelas às de seus maridos.