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"Garibaldi Alves não deixou obra nenhuma", diz Wilma de Faria

Marcelo Gutierres
Da Redação, em São Paulo

Ao tratar do processo eleitoral do Rio Grande do Norte, a governadora Wilma de Faria (PSB) é categórica: "Dois grandes grupos se uniram para me derrotar". Ela se refere à candidatura do senador Garibaldi Alves Filho (PMDB), que conta com apoio do PFL.

Segundo a governadora, os dois partidos "sempre estiveram em palanques diferentes, se revezando no poder". Em entrevista ao UOL, Wilma afirma que seu adversário "não deixou nenhuma obra marcante" durante os dois períodos em que governou o Estado.

Ela rebate a afirmação de Garibaldi de que sua administração seja "frágil", razão de sua ida ao segundo turno, segundo o senador. Na primeira etapa, Wilma obteve 49,57% dos votos válidos, contra 48,60% do senador, diferença de 0,97 ponto percentual. Agora, lidera as pesquisas.

A governadora nega ter feito uso da máquina pública. Seus adversários acusam-na de trocar votos pelo Cheque Reforma, programa estadual de auxílio a famílias carentes que queiram construir ou reformar a moradia.

Apoiada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Wilma recebeu apoio também de integrantes do PSDB, partido de oposição ao governo federal. Ela garante que não comprometeu espaços de um futuro governo para angariar votos.

Ex-mulher Lavoisier Maia Sorinho, governador potiguar de 1979 a 1983, ex-senador e ex-deputado federal, a governadora afirma ter construído uma carreira com independência. Durante a entrevista, Wilma também falou do poder da mídia em seu Estado. A seguir, os principais trechos:

UOL - Por que a sra. não conseguiu se reeleger no primeiro turno?

Wilma de Faria
- Quando nós começamos a campanha, estávamos com dificuldades porque dois grandes grupos que estavam separados se uniram para me derrotar. A minha eleição em 2002 foi histórica, a gente derrotou todos os caciques.

UOL - Quais seriam esses grupos?

Wilma
- O PFL do senador José Agripino, que já comandou o Estado por duas vezes [1983/86 - 1991/94], e o PMDB de José Garibaldi, que também já foi governador [por dois mandatos, entre 1995 e 2003]. Esses partidos sempre estiveram em palanques diferentes, se revezando no poder. Agora eles se uniram para me derrotar. Quando eu comecei a minha campanha, eles divulgavam pesquisas dizendo que estavam na frente uns vinte e tantos pontos. Aí, a gente fez uma campanha de prestação de contas. A minha avaliação de governo era excelente, mas não estava transferindo votos porque a gente se preocupou muito com questões técnico-administrativas durante esses três anos e meio.

UOL - E qual foi sua estratégia?

Wilma
- Pedimos para o povo refletir, avaliar e comparar nossos três anos e meio com 16 anos de administração deles. Com isso, a gente virou o jogo, chegando em primeiro lugar. Agora, já estamos na frente no segundo turno e crescendo cada vez mais.

UOL - O seu adversário, Garibaldi Alves Filho, classifica a sua administração como frágil, e assim explica a ida dele ao segundo turno.

Wilma
- O meu adversário está vendo que foi a avaliação e a comparação de nossa administração com as demais que nos levou ao primeiro turno e agora estamos vencendo no segundo com folga.

UOL - Entidades representativas da polícia militar anunciaram apoio ao seu adversário.

Wilma
- Não é verdade. A polícia militar no governo de Garibaldi foi muito maltratada. Não houve preocupação, por exemplo, de discutir o estatuto da PM. A diferença de meu governo com o deles é que eu governei com os movimentos sociais, com discussão com sindicatos. Eles nunca fizeram isso. Os funcionários públicos ficaram sem aumento. Nenhuma categoria foi beneficiada.

UOL - O seu adversário diz que a sra. está utilizando o Cheque Reforma para conquistar votos.

Wilma
- Quando nós assumimos o governo, Garibaldi tinha extinguido vários órgãos importantes, entre eles a Cohab. Ficamos sem nenhuma política de habitação, que nós restabelecemos; 30 mil famílias foram beneficiadas entre construção e reforma de casas. Isso foi feio durante todo o nosso governo. Nós paramos o Cheque Reforma porque houve uma recomendação.

UOL - Quem recomendou? A Justiça Eleitoral?

Wilma
- Não, a Justiça Eleitoral não determinou nada disso. Foi o Ministério Público que recomendou, assim, de forma sutil, que poderia suspender, e aí a gente achou melhor suspender.

UOL - A sra. conta com o presidente Lula e também recebeu apoio do presidente do PSDB no Rio Grande do Norte. Isso a constrange?

Wilma
- Eu tenho uma aliança com o partido do presidente desde o primeiro turno. Somos aliados. No primeiro turno, pelo fato de o PSDB perder a eleição, alguns optaram por mim, o que é normal. No caso do ex-senador Geraldo Melo, ele optou por ficar comigo, até porque houve, digamos assim, divergências entre eles, que eram ligados ao PMDB e PFL.

UOL - Como a sra. pretende acomodar seus apoiadores num eventual segundo mandato?

Wilma
- Eu não me comprometi com espaços no governo com ninguém porque nós sabemos que o governo é uma coisa de muita responsabilidade. Temos de colocar pessoas eficientes. Vamos dar espaços para nossos aliados, mas isso tudo será discutido com eles. Haverá muita discussão.

UOL - A nova Assembléia tem uma configuração divida. A sra. teme não aprovar projetos num segundo mandato?

Wilma
- Não, até porque os projetos que encaminhei à Assembléia são a favor do povo. E nós temos feito maioria também.

UOL - O senador Garibaldi cobrou na TV mais eficiência na administração, como por exemplo, na construção da ponte Forte/Redinha.

Wilma
- Olha, agora eu vou começar a cobrá-lo. Ele passou oito anos no governo, e não fez obras que pudessem marcar a administração dele. Ele não deixou nenhuma obra marcante. Eu, ao contrário, consegui fazer obras importantes, de infra-estrutura, sociais, de habitação, no turismo, que estão ditando a minha vitória. A ponte Forte/Redinha é para ser concluída agora em dezembro, dentro do nosso mandato.

UOL - A TV Ponta Negra, afiliada do SBT, saiu do ar por determinação da Justiça Eleitoral, que entendeu que a sua candidatura foi beneficiada. A sra. conta com apoio de parte da mídia no Estado?

Wilma
- Não. Veja bem, aqui nós temos uma situação bem diferente de todos os outros Estados. Cada emissora tem um dono. Por exemplo, a TV Cabo, afiliada da Rede Globo, pertence à família Alves. Eles venderam uma parte e ficaram com outra. O senador José Agripino é o dono da TV Tropical, que é ligada à [TV] Record. O senador Geraldo Melo é dono da TV Potengi, que é afiliada da Band. O ex-senador Carlos Alberto, já falecido, deixou a TV Ponta Negra para a família. Eu não tenho emissora de TV e nenhuma rádio comunitária. Os meus adversários juntos têm mais de 70% das emissoras de rádio comerciais. Eu não tenho nada disso, e mesmo assim consegui governar com tranqüilidade. Fiz um governo equilibrado, com capacidade de investimento, e o nosso Estado cresceu economicamente e socialmente.

UOL - A população do seu Estado conhece a sra. com uma pessoa pública veiculada ao seu ex-marido. A sra. acredita que tenha feito uma carreira política independente?

Wilma
- Meu ex-marido era político. Eu já me separei dele há exatamente 17 anos. E eu fui governadora do Estado e não foi ninguém da minha família que liderou esse processo. Ao contrário, o meu ex-marido estava na oposição quando me elegi, em 2002.

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Nome completo:
Wilma Maria de Faria

Local de nascimento:
Mossoró (RN)

Data de nascimento:
17 de fevereiro de 1945

Profissão: educadora

Partido: PSB

"Pedimos para o povo refletir, avaliar e comparar nossos três anos e meio com 16 anos de administração deles. Com isso, a gente virou o jogo."

Wilma de Faria, em discurso semelhante ao do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT)

MÍDIA

"Eu não tenho emissora de TV e nenhuma rádio comunitária. Os meus adversários juntos têm mais de 70% das emissoras de rádio comerciais"