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02/10/2006 - 17h23

"Vamos ter uma campanha com debate", diz Lula

Da Redação
Em São Paulo
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez na tarde desta segunda-feira, em Brasília, o seu primeiro pronunciamento após a divulgação dos resultados do primeiro turno e também deu uma rara entrevista coletiva em seus quase quatro anos de mandato.

JUSTIFICATIVAS
Reuters
Lula dá entrevista em Brasília e explica segundo turno
ASSISTA
Lula estava sorridente, menos carrancudo do que em suas últimas entrevistas para a TV. Parabenizou o "comportamento exemplar das eleições". Citou o expressivo comparecimento às urnas e a paz que reinou no processo eleitoral. Segundo ele, a tranqüilidade do pleito demonstra a consolidação do processo democrático no país.

O presidente elogiou o sistema de apuração das urnas eletrônicas do Tribunal Superior Eleitoral. "Muitos países ricos e mais avançados tecnologicamente deveriam acompanhar de perto nosso modelo de votação. Ter mais de 100 milhões de votos apurados em quatro horas é uma coisa estupenda, de causar inveja para qualquer país".

Ao anunciar que passaria a falar "como candidato", o petista agradeceu aos eleitores que votaram nele. "Obviamente que todos gostariam de ter ganho no primeiro turno, mas nem sempre a sabedoria popular permite que isso aconteça", disse. "Vamos ter uma campanha mais justa, mais verdadeira, com debate, tête a tête com os dois candidatos".

Lula disse estar "extremamente feliz" com a vitória de Jaques Wagner (PT) na Bahia, em primeiro turno, e com a vitória de Marcelo Déda, outro petista, no Sergipe. "Os dois Estados governados pelo PFL que foram derotados exatamente pelo PT", afirmou.

A seguir, os principais trechos das respostas de Lula às perguntas realizadas pelos jornalistas:

Ausência no debate
"Se eu tivesse bola de cristal que me dissesse o que fazer, faria tudo aquilo que ganhasse votos. Vamos ter oportunidade agora de ter debate, vai ser mais esclarecedor. O tipo de debate agora é mais ágil (com apenas dois candidatos). Não tenho aferição para medir se deveria ter ido ou não."

Nos Estados
"Os aliados agora estão mais ou menos previsíveis. Em alguns Estados, já foram aliados nossos em primeiro turno. Vamos reforçar nossas alianças políticas e vai ser extremamente importante a ajuda que a gente possa receber e dar aos candidatos a governador. Em Pernambuco, vou apoiar Eduardo Campos (PSB) e ele vai me apoiar."

PSOL
"A Heloísa (Helena) já deu declaração dizendo que vai liberar o partido dela para votar. É uma sóbria decisão. O PT já passou por isso várias vezes. O eleitor não fica esperando a burocracia de um partido, ele vai e toma posição."

No Rio
"Conversei com Sérgio Cabral (candidato do PMDB a governador do Rio) hoje de manhã. Não medirei esforços para que o partido no Rio e para que Crivella possa apoiar o Sérgio Cabral. Pedi para o Tarso Genro conversar com Vladimir Palmeira. Terei imenso prazer em fazer comício com Sérgio Cabral."

O dossiê
"Vocês nunca me viram comentar pesquisa. A gente reflete sobre elas e vê o que pode fazer. Havia pressão de setores da sociedade para que houvesse dois turnos. Foi o PT que propôs que as eleições tivesem dois turnos na cidades com mais de 200 mil habitantes. Estamos dispostos a sair para a rua e fazer campanha outra vez. Vamos disputá-lo com a mesma força que disputamos o primeiro turno. Se o fato aconteceu, tem que ser mostrado. Mais dia menos dia o político tem uma queixa da imprensa. A imprensa tem papel muito importante em tudo o que estamos vivendo no Brasil de conquista de democracia. A fotografia poderia ter sido mostrada no dia, poderia ter sido mostrada quando bem entendesse."

"Peço a Deus que não me aconteça nada até que eu possa desvendar esse mistério, quem arquitetou essa obra de engenharia para atirar no próprio pé. Peço a Deus para viver até o dia em que puder falar "foi tal pessoa que articulou, foi tal pessoa que convenceu tal pessoa". Nos Estados Unidos, alguém já estaria fazendo um filme sobre o assunto. Peço a Deus que essa história venha à tona."

Pobres e ricos
"Se fosse simples assim, como tem muito mais pobres do que ricos, já estaria ganha a eleição. Não é assim que alguém se candidata à presidência. Nós estamos governando e os empresários ganharam dinheiro, os trabalhadores ganharam dinheiro. Dentro de 190 milhões de pessoas, vamos privilegiar a parte mais pobre. As camadas sociais já existiam antes que eu existisse, antes de a minha mãe me ter eu já pertencia a uma classe social que era a dos deserdados. A luta me fez chegar à Presidência da República. A sociedade brasileira não aceita essa divisão. Quando a Pnad declara que tiramos pessoas da pobreza, isso é um dado extraordinário. Ganha toda a sociedade brasileira. Quanto menos miseráveis nós tivermos no Brasil, todo o mundo ganha. Vou continuar fazendo o que gosto de fazer: atender os 190 milhões de brasileiros, mas privilegiar as camadas mais necessitadas."

Congresso
"Vivemos em regime democrático, com o Congresso funcionando com vários partidos políticos. O Congresso é a caixa de ressonância da consciência política da sociedade no dia da votação. O povo votou. O voto é soberano e temos que respeitar qualquer um que for eleito. Nós não tivemos problema com o Congresso. Demorou para votar uma coisa ou outra, mas é assim. Nós aprovamos 90% das coisas que mandamos para o Congresso nacional. Falta aprovar o Fundeb, em última votação. As leis que mandamos são leis de interesse do país. Se não forem votadas, prejudica (o país). O Congresso respondeu à altura. Tivemos três CPIs funcionando. Vocês não vão me ver evitando que haja CPI, enquanto presidente da República. Tem muitas que não deram em nada. Quem não deve não teme.

Cláusula de barreira
"A lei da cláusula de barreira foi aprovada pelo Congresso. As pessoas que foram vítimas vão ter que aprender a conviver dentro do Congresso sem liderança, sem verba partidária."

Petistas acusados e eleitos
"As pessoas não foram condenadas e tinham o direito de concorrer às eleições. Se elegeram porque o povo resolveu votar. Não sou eu que vou questionar o eleitor de ninguém. O Collor já está há 14 anos de castigo. Com a experiência que tem de presidente da República, certamente poderá fazer no Congresso um trabalho excepcional. Os eleitores votam com a sua consciência."

O tiro no pé
"Não posso culpar o PT porque o PT é muito grande, gente. Meia dúzia de pessoas acreditaram em papei noel, em fantasia. Você aceitar negociar com bandido... você está virando bandido, virando um deles. Peço a Deus que seja desvendado esse mistério de tudo o que aconteceu. Para mim foi inexplicável. A Polícia Federal tem autoridade para mostrar à população brasileira o que aconteceu.

Campanha
"Se eu me licenciar, o José Alencar vai ter que assumir. Durante a semana vamos ficar governando o país, e nos finais de semana vamos viajar. Até porque agora vamos ter cada um (cada um dos presidenciáveis) dez minutos na televisão. Você não precisa fazer tanto esforço físico, é mais o esforço intelectual, discutir programa de governo, comparar coisas."

O segundo turno
"Não venci porque não venci. Faltou voto. Quem convive comigo sabe o seguinte: eu nunca levo pesquisa ao pé da letra, é como fotografia, depende da hora, do dia em que é medido. Certamente não vai faltar voto para a gente ganhar no segundo turno".