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03/07/2006 - 23h13

"Não tenho vergonha do governo FHC", afirma Geraldo Alckmin

Da Redação
Em São Paulo

Tuca Vieira/FI - 3.jul.06

Alckmin ouve pergunta durante o programa

Alckmin ouve pergunta durante o programa

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, disse que não se envergonha do governo do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), durante entrevista ao programa "Roda Viva", da TV Cultura, apresentado na noite desta segunda-feira (3/7). "Não me envergonho do governo FHC. É um atraso o atual governo não reconhecer as realizações de Fernando Henrique. Minha geração não sabia o que é moeda estável", afirmou Alckmmin, em alusão à estabilização da moeda obtida com o Plano Real.

O ex-governador de São Paulo foi questionado sobre a conveniência de ser associado a Fernando Henrique Cardoso, cuja gestão, segundo pesquisas, é avaliada como pior que a de Lula. Para analistas, o PT deve vincular Alckmin a FHC para impedir a ascensão do ex-governador.

Embora tenha dito não se envergonhar de FHC, Alckmin afirmou que o país não deve se preocupar com o passado. "Eu vou discutir o futuro. Quem pode fazer mais pelo Brasil nos próximos quatro anos? Essa é a questão".

Alckmin criticou a taxa de juros da administração Lula. Disse que o governo pratica uma política monetária rígida porque a política fiscal é fraca e que os juros se tornaram o único instrumento para conter a inflação. Segundo o ex-governador, a atual gestão mantém juros altos e aumentou a carga tributária, o que, segundo ele, segura o crescimento da economia.

Entretanto, ao ser questionado sobre a carga tributária do governo FHC, Alckmin admitiu que era alta. O tucano explicou que, sob FHC, a tributação cresceu devido a compromissos dos Estados assumidos pela União. "Realmente, houve um acréscimo da carga tributária sob FHC, mas foi por causa do fim da inflação e da transferência das dívidas dos Estados para a União".

Alckmin resumiu suas propostas para a economia em corte de gastos e impostos e retomada de investimentos para estimular o crescimento do PIB. "Este governo não trabalhou para reduzir os gastos correntes e passou para uma cultura de desperdício", disse o tucano.

O ex-governador não especificou os gastos que pretende cortar caso eleito, embora tenha sido inqurido por diversos jornalistas. "Quero promover um choque de gestão, aumentar a eficiência e acabar com a roubalheira, cortar gastos na atividade-meio e concentrar na atividade-fim", afirmou Alckmin.

PCC

O tucano foi indagado por Renata Lo Prete, da "Folha de S.Paulo", sobre como um político que defende choque de gestão pode explicar os ataques que a facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) desferiu em São Paulo, em maio. Alckmin respondeu que sua gestão na área da segurança pública é marcada pela redução do número de homicídios.

Ainda sobre o tema segurança, o ex-governador negou que tenha havido uma crise permanente ao longo de seu governo entre o ex-secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, e o de Segurança Pública, Saulo de Abreu Castro, que supostamente não dirigiam a palavra um ao outro apesar de trabalharem em setores complementares.

"Os secretários tinham estilos diferentes, mas não existe isso de que não se falavam, eles trabalharam em conjunto no projeto da transferência de presos das cadeias para as penitenciárias", disse Alckmin.

O tucano também negou que tenha abandonado seu sucessor no governo, Cláudio Lembo (PFL), que disse em entrevista para a "Folha" que Alckmin não lhe deu sequer um telefonema durante a crise de segurança em São Paulo.

"Eu estava na Bahia e liguei de meu celular para o governador", afirmou o tucano, que disse não ter tido maior participação durante a crise para evitar um "duplo comando" no Estado.

Reeleição

O tucano afirmou que defende o direito à reeleição, mas que deve haver novas regras. Alckmin criticou o fato de Lula não se afastar do cargo para concorrer a um novo mandato na Presidência da República. "Eu tive de me afastar do governo de São Paulo para disputar a Presidência. O ex-prefeito José Serra deixou a Prefeitura para concorrer ao governo de São Paulo", disse Alckmin.

O tucano nada falou e nem foi indagado sobre o fato de a reeleição ter sido implantada durante o governo FHC ou sobre a própria reeleição do ex-presidente, que também não se afastou do cargo, em 1998.

De acordo com analistas políticos, a posição de Alckmin sobre a reeleição importa sobretudo para José Serra, candidato do PSDB ao governo paulista, e Aécio Neves, tucano que busca a reeleição em Minas Gerais. Ambos podem ter seu projeto presidencial adiado em quatro anos caso Alckmin vença a eleição deste ano e pleiteie a reeleição em 2010.

Alckmin, ainda sobre política, defendeu a adoção do parlamentarismo, mas afirmou que não pretende propô-lo em uma reforma política, devido ao plebiscito de 1993, em que o sistema de governo foi rejeitado. O tucano afirmou que, fosse o Brasil parlamentarista, o Congresso teria sido dissolvido após o escândalo do mensalão.

Acerca do mensalão, o ex-governador negou que seu partido tenha feito acertos para preservar o senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que teria recebido recursos do empresário Marcos Valério, suposto pivô do escândalo do mensalão. "Se houve erros, vamos investigar, mas o que o governo fez foi muito mais grave que o que houve com Azeredo; o governo pagou por apoio de parlamentares com dinheiro público", afirmou Alckmin.

O tucano não foi questionado sobre a verba de publicidade do banco Nossa Caixa, supostamente usada para beneficiar aliados, ou sobre o patrocínio oficial a uma revista editada por seu acupunturista, que seria sócio de um de seus filhos.