Boulos troca afagos com Lula e ataca Bolsonaro em evento em SP

Mirthyani Bezerra

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/Facebook

    Guilherme Boulos, pré-candidato pelo PSOL, vai se filiar ao partido na semana que vem

    Guilherme Boulos, pré-candidato pelo PSOL, vai se filiar ao partido na semana que vem

Líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto), Guilherme Boulos atacou o deputado federal Jair Bolsonaro e trocou afagos com o ex-presidente Lula durante o lançamento de sua pré-candidatura à Presidência pelo PSOL em São Paulo.

Em evento neste sábado (3), Boulos disse que a esquerda precisa separar as diferenças políticas e não ser conivente com injustiças, ao defender o direito de Lula de ser candidato à Presidência pelo PT. Ele também disse que "tem um grande respeito" por Lula, elogio compartilhado no vídeo de apoio enviado pelo petista.

O nome dele foi apoiado por lideranças de movimentos sociais, ativistas, professores universitários e artistas. "A esquerda tem que recuperar o afeto, mesmo quando há diferença. E se ilude quem acredita que vai parar no Lula. Isso pega toda a esquerda e vai pegar a todos nós", disse. "Vivemos um momento grave no Judiciário. Querem tirar o candidato mais popular da disputa. Uma condenação sem provas não pode ser naturalizada. Não podemos silenciar diante disso."

O lançamento da pré-candidatura de Boulos foi feito na Conferência Cidadã, realizada na Barra Funda, zona oeste de São Paulo.

Ele falou sobre Bolsonaro em entrevista a jornalistas depois do evento. Afirmou que vai "dedicar forças para enfrentar" o deputado federal, a quem classificou de "bandido", dizendo que ele "deveria estar na cadeia".

"Qualquer candidatura, não só da esquerda, mas do campo da civilização desse país, tem que polarizar com o Bolsonaro. O Bolsonaro é um cara que não deveria ser tratado nem como candidato. Bolsonaro é um bandido, um criminoso. Se as leis fossem levadas a sério neste país, ele estaria preso", disse.

Boulos vai se filiar na segunda-feira (5) ao partido e terá o nome confirmado como candidato do PSOL na Conferência Eleitoral, marcada para o próximo sábado (10), em São Paulo. A vice na sua chapa será a líder indígena Sônia Guajajara.

Marcelo Chello/CJPress/Estadão Conteúdo
Boulos e Sônia Guajajara, que deve ser sua vice na chapa do PSOL à Presidência

Convite para comícios de outros candidatos

Lula enviou um vídeo de apoio a Boulos que foi veiculado durante o evento. Ao aparecer no telão instalado dentro da Casa das Caldeiras, o ex-presidente foi ovacionado pelos que estavam presentes. Na sua fala, Lula diz que jamais pediria para que Boulos não fosse candidato e que, se for convidado, irá nos comícios que o candidato do PSOL fizer durante campanha eleitoral. 

Apesar de ter a candidatura ainda incerta, Lula também convidou tanto Boulos quanto a pré-candidata do PCdoB, Manuela D'Ávila, para participarem dos seus. O ex-presidente deve iniciar uma caravana pelo Sul do Brasil, em março. "Você vai ter sucesso, se depender da minha contribuição, você merece todo meu respeito e jamais vai me ver fazendo criticas a você. Mas você tem que se preparar para os embates", advertiu.

Outro petista, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro, também enviou vídeo de apoio ao programa proposto pela futura chapa de Boulos e Guajajara. Tarso é pai de Luciana Genro, que foi candidata à Presidência em 2014 pelo PSOL, e faz parte da ala do PSOL que era contrária ao nome de Boulos como candidato do PSOL. A principal crítica era, justamente, a proximidade de Boulos com Lula.

A presença massiva de artistas de renome nacional lembrou as convenções petistas do passado. O evento foi aberto pelo cantor e compositor baiano Caetano Veloso, que fez a trilha sonora da conferência e cantou para as milhares de pessoas que lotaram o espaço interno da Casa das Caldeiras.

Boulos estava na primeira fila de cadeiras, sentado ao lado dos pais, os médicos Maria Ivete Castro Boulos e Marcos Boulos. "Ele se tornou, de repente, um líder importante da esquerda brasileira e assumiu isso. Nós recebemos muito bem isso, mas com receio, porque ele vai levar muita pancada nessa história toda", disse o pai de Boulos, que afirmou nunca ter imaginado que o filho, um dia, chegaria a ser pré-candidato à Presidência.

"Na escola, foi diretor de grêmio, quando tinha alguma coisa na escola ele enfrentava, levando o Estatuto da Juventude. Nós sabíamos que ele ia ser um líder", acrescentou.

"Aqui nasce uma nova esquerda"

As principais lideranças do PSOL também compareceram, como Marcelo Freixo, Luiza Erundina, Chico Alencar e Jean Wyllys, além do presidente da legenda, Juliano Medeiros.

Freixo defendeu Lula como candidato à Presidência, afirmando que divergências existem, mas que a esquerda precisa se unir contra a agenda da direita. "Neste momento, a gente tem que ter a soberania e a grandeza."

"Aqui nasce uma nova esquerda, potente e que não está fazendo aliança para dividir tempo de televisão, para ter cargos."

Erundina disse ser "algo novo" que movimentos sociais se unam para lançar um candidato à Presidência. "Fazer isso com a sociedade civil é algo muito novo e aponta a perspectiva de uma mudança política", disse. 

Afirmou que só um projeto político de mudança estrutural é capaz de unir a esquerda. "O que unifica forcas políticas não são nomes, não são figuras, não são lideranças. É exatamente o projeto. Só se tiver uma identidade, em várias forças, articuladas, será possível unificar essas forças em torno desse projeto", disse.

Nesse esforço de unidade, a deputada federal afirmou que o candidato do PSOL pode estar sim ao lado de outros possíveis candidatos da esquerda no segundo turno, como Manuela D'Ávila (PCdoB) e Ciro Gomes (PDT). "Eu espero estar no segundo turno, mas, caso não esteja, acho que deve haver uma unidade em torno de qualquer candidatura progressista que esteja no segundo turno", disse Boulos, se alinhando à posição de Manuela D'Ávila.

O deputado federal Chico Alencar, pré-candidato do PSOL ao Senado pelo Rio de Janeiro, comentou as articulações dos parlamentares do PDT, PCdoB e PSB para formar um bloco único, de oposição, sem o PT. Uma reunião com as bancadas dos respectivos partidos foi marcada para a próxima terça-feira (6). "Nós do PSOL é que ficamos mais escanteados nesse chamado bloco de oposição parlamentar no Congresso Nacional. Claro que nós temos as nossas posições, nossos votos, questões em comum [aos demais partidos de esquerda]. Agora achamos que o PT, às vezes, se acomoda muito, se acerta com a ordem estabelecida", criticou.

O deputado comentou ainda que o fato de Lula ter dito em entrevista publicada pela "Folha de S.Paulo" que o presidente Michel Temer sofreu uma tentativa de golpe "desautorizou" a bancada do partido e expôs as contradições da legenda. "Quando o Lula diz que as denúncias contra o Temer foi uma armação golpista, ele desautoriza sua bancada inteira. São contradições imensas que eles têm lá [internamente]", disse.

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