Operação Lava Jato

Em Nova York, Moro desestimula candidatura de juízes a cargos políticos

Nathan Lopes

Do UOL, em São Paulo

  • Reprodução/AS/COA

    O juiz federal Sergio Moro participou de evento em Nova York nesta sexta

    O juiz federal Sergio Moro participou de evento em Nova York nesta sexta

O juiz federal Sergio Moro, que comanda processos da Operação Lava Jato na primeira instância, desestimulou a eventual candidatura de magistrados e procuradores a cargos políticos no país. "Não acho que seja uma boa ideia. Acho que haveria confusão sobre o papel apropriado de juízes e procuradores", disse, nesta sexta-feira (2) em Nova York, nos Estados Unidos, durante debate promovido pela organização Americas Society/Council of the  Americas sobre os próximos passos no combate à corrupção na América Latina.

Moro chegou a ter seu nome incluído em pesquisas sobre a eleição presidencial, mas sempre negou interesse em disputar um pleito. Para ele, concorrer a um cargo político "poderia minar a percepção de que juízes e procuradores estão apenas fazendo seu trabalho".

Com seu trabalho, juízes e procuradores podem influenciar políticos, de alguma forma, mas não concorrer a cargos

Sergio Moro, juiz federal

Para o magistrado, o país tem "bons políticos, não tão bons políticos e maus políticos" e os brasileiros não devem contar muito com o governo no combate à corrupção. "Devemos continuar com a liberdade de imprensa, com pressão da opinião pública por reformas e com um Judiciário independente".

Mais cedo, quando foi sabatinado no mesmo evento, Moro indicou temer retrocessos no combate à corrupção citando que o futuro está em aberto.

"Sempre corremos riscos de retrocessos. Há pessoas que não querem mudar, que querem se manter no poder, manter privilégios. O que precisamos fazer é evitar isso. Precisamos continuar nosso trabalho", pontuou, citando que ainda há "ferramentas para seguir em frente" com o combate à corrupção. "Mas talvez eu esteja errado. Talvez, no próximo mês, no próximo ano, possamos sofrer grandes retrocessos".

Moro voltou a indicar que a Lava Jato está chegando ao final. "Pelo menos na minha Vara", afirmou. O juiz indicou que as investigações contra casos de corrupção têm avançado pelo país, como as no Rio de Janeiro. "Agora temos outros importantes casos em outras varas. Mas não chamo esses casos de Lava Jato", disse, salientando que eles têm o "espírito de barrar a impunidade".

Ele ainda lembrou que há uma parte dos processos da Lava Jato "que não está finalizada". "Especialmente a que envolve políticos com foro", citando as ações que tramitam no STF (Supremo Tribunal Federal). "A maior parte das pessoas sem foro já foi julgada", citou.

O magistrado não mencionou diretamente nenhum dos casos que já passaram ou estão em tramitação na 13ª Vara Federal de Curitiba, mas voltou a negar que haja uma perseguição política contra o PT nos casos da Lava Jato. "Um dos políticos que alguns consideravam inimigo do PT está na cadeia", comentou o juiz, sem mencionar o nome de Eduardo Cunha (MDB). "Ninguém está sendo processo ou julgado por causa de sua opinião política, mas por propina, lavagem de dinheiro."

Ele também rejeitou a tese de que haja uma criminalização da política. A avaliação tem sido levantada, entre outros, pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que já foi condenado em um dos três processos a que responde na Justiça Federal no Paraná. "Alguns políticos estão cometendo crimes", disse Moro.

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